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Manifestação focou na luta contra a intolerância religiosa e na preservação dos espaços sagrados do entorno
Carmen Vasconcelos
Publicado em 7 de julho de 2019 às 18:00
- Atualizado há um ano
A manhã chuvosa não desencorajou representantes de 37 terreiros de Candomblé do Nordeste de Amaralina e do entorno a participarem da sétima edição da Caminhada do Povo de Santo. Como ocorre desde 2011, a manifestação teve foco na manutenção e na tradição das casas presentes no Nordeste, Santa Cruz e Vale das Pedrinhas.
O cortejo começou com uma saudação ao guardião dos caminhos, o orixá Exu. Em seguida, pais e mães de santo, além de inúmeros devotos de todas as idades percorreram as ruas da localidade em cânticos e louvores. Em cada rua, os participantes eram saudados com palmas e o ato terminou com a entrega do presente na praia de Amaralina. Em seguida, como manda o costume de acolher e dividir o alimento, foi servido um almoço aos presentes. Ritual para abrir os caminhos e saudar o orixá Exu (Foto: Marina Silva) De acordo com o coordenador do evento, Rodrigo Coelho, esses templos são espaços sagrados de resistência contra o racismo religioso, além de guardarem a cultura e história ancestral da população local. “Essa caminhada sintetiza o desejo da nossa juventude de ver as tradições vivas e fortes, respeitadas e respeitando os demais”, disse.
Rodrigo ressaltou que, no passado, o Nordeste era um local muito buscado para instalação de casas de Axé por ter um terreno farto de natureza, com a praia, mata nativa, especialmente na área onde está o Parque da Cidade. “O crescimento da cidade encolheu esses espaço, mas eles estão vivos, pulsantes e querem respeito”, completou.
Nascido no bairro, o músico Bebeto Cerqueira, que veio cumprir agenda na cidade e aproveitou para participar do encontro, fez questão de enfatizar a importância da expressão da fé e do respeito para garantir que as ruas do Nordeste e de Salvador permaneçam espaços de encontro e não de agressões. “É muito importante para que outras pessoas que integram outro seguimento religioso que nos respeitem. O Candomblé não mexe com ninguém, só leva a paz. Não conheço pai de santo com mansões, carro importado ou aviões. Não desmerecemos ninguém A riqueza que nós temos é alma e as religiões de matriz africana preservam isso”, afirmou.
Responsável pela parte religiosa do ato, Rosiclei Santana Nascimento, Mãe Rosinha de Omolu fez questão de lembrar que, no mundo, há espaço para todos. “Dizer que somos filhos do demônio, desmerecer ou profanar nossos rituais não fará ninguém melhor, mais poderoso ou rico. Crescemos juntos e podemos crescer mais quando conseguimos praticar o respeito”, finalizou.