Novembro Azul: gay, bissexual, transgênero e o câncer de próstata

Modesto Jacobino é médico urologista

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  • Da Redação

Publicado em 13 de novembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A campanha Novembro Azul chegou chamando a atenção da população masculina heterossexual para o câncer de próstata, o tumor mais frequente no homem. Só no Brasil, estimam-se mais de 68 mil novos casos para este ano de 2018. A cada seis homens, um terá o câncer de próstata e o que se percebe é uma grande falha na comunicação do que se propõe como ação de conscientização. O Novembro Azul aborda prevenção, diagnóstico e tratamento na população masculina heterossexual, mas, lamentavelmente, não apresenta uma linha de esclarecimento que busque atrair os olhos de gays, bissexuais e transgêneros.

Embora estejamos assistindo a uma evolução da nossa sociedade, infelizmente, as entidades médicas brasileiras, aqui inclusos o Conselho Federal de Medicina e a Sociedade Brasileira de Urologia, ainda não focaram suas atenções no câncer da próstata dessa comunidade, que parece ser formada por “cidadãos invisíveis”.

Nos Estados Unidos, estima-se que existam mais de 1.500 indivíduos identificados como transgênero homem a mulher, número que deve aumentar consideravelmente. Devido à manipulação hormonal, o câncer de próstata nesse grupo frequentemente é agressivo e resistente a tratamento, sugerindo que o uso de estrogênio possa ser o fator tanto para o desenvolvimento da doença como para sua progressão. Qual a incidência? Como diagnosticar? Como tratar? Como abordar o paciente transgênero homem a mulher em relação ao câncer da próstata? As respostas não são claras e nem podemos aceitar que sejam iguais à da população geral assistida pelo profissional de saúde. Como urologistas, devemos ter iniciativas para melhorar a qualidade da atenção médica para esse grupo.

Outro importante ponto é que gays e bissexuais não estão informados quanto ao câncer de próstata. Qual o impacto do tratamento do tumor da próstata na qualidade das suas vidas? Vale reforçar que eles ainda enfrentam uma situação crítica, qual seja a de revelarem ou não ao urologista a sua orientação sexual. E mais crítico é o posicionamento do urologista, pois tem de ganhar a confiança do seu paciente.

Com certeza, o paciente que é gay, bissexual ou transgênero homem a mulher terá inúmeras dificuldades que impactarão a sua vida sexual, física e psicológica após o tratamento para o câncer da próstata. Ao urologista, cabe ser a voz deles, tirando-os da marginalização e do perverso enquadramento como cidadãos invisíveis. Nesse atual quadro difícil da vida política brasileira, entendo que é o momento oportuno para acendermos a luz da esperança, convergindo todos e todas para a criação de uma política pública de saúde que contemple a todos. Que o Novembro Azul também incorpore as belíssimas cores do arco-íris!Modesto Jacobino é médico urologista e professor da Universidade Federal da Bahia

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