Novo selo editorial baiano lança três livros neste sábado

Serão lançadas publicações da britânica Sarah Rebecca Kersley e dos baianos Evanilton Gonçalves e Luciany Aparecida

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 11 de março de 2017 às 06:01

- Atualizado há um ano

Milena Britto, curadora da Paralelo13S, e Sarah Rebecca autora de Tipografia Oceânica (Foto: Mauro Akin Nassor)A britânica Sarah Rebecca Kersley e os baianos Luciany Aparecida e Evanilton Gonçalves já tinham seus livros de estreia prontos, mas não encontravam uma editora que lhes abrisse as portas.

A chegada do selo  Paralelo13S, que dá novos ares ao mercado editorial baiano, recebeu muito bem as obras dos três, que se preparam para lançar suas criações hoje, na Livraria Boto Cor de Rosa (Rua Marquês de Caravelas, Barra), a partir das 11h. O lançamento se estende até as 18h, com a presença dos autores, sessão de autógrafos e  bate-papo mediado pelo crítico e professor Antonio Marcos Pereira.

A professora de literatura da UFBA e crítica literária Milena Britto, 41, que organizou a publicação destes primeiros lançamentos da Paralelo13S, destaca a importância de uma nova editora: “Para o escritor, publicar nem sempre significa ser lido. Principalmente porque o trabalho de distribuição é muito complexo. Além disso, há muitos lançamentos. Há dias, em Salvador, em que cinco ou seis livros são lançados” .

Autor de Pensamentos Supérfluos: Coisas que Desaprendi com o Mundo, Evanilton Gonçalves, 30, afirma que  o apoio é muito importante, principalmente para aqueles que estão começando, já que as grandes editoras dificilmente estão dispostas a publicá-los. “Elas querem um retorno financeiro imediato. Além disso, sou negro e nordestino, o que torna ainda mais difícil a publicação. Basta olhar o catálogo das grandes editoras e você percebe isso”. 

Evanilton  diz que a autopublicação, que tem se tornado comum, tem seu valor, mas uma editora ainda é uma espécie de chancela. “Além disso, o grande mercado não permite uma diversidade de vozes. Mas uma editora menor permite”.

Mistura de gênerosEm seu livro, Evanilton, que está concluindo mestrado em Língua e Cultura, mistura conto, crônica, ficção e realidade, com um diferencial: o olhar de um negro da Salvador periférica. “Fui criado no bairro de São Caetano e hoje vivo na Liberdade. Por ter frequentado uma universidade e feito um mestrado, rompi barreiras que amigos meus não conseguiram”, diz o autor. 

Luciany Aparecida, 34, autora de Contos Ordinários de Melancolia, começou a preparar seu livro na oficina literária Escritas em Trânsito, promovida pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, em 2012. “O livro trata de mulheres que labutam e se deprimem com seus desejos. O ‘ordinários’,   refere-se à luta diária, comum, de qualquer mulher”, revela a autora.  

Luciany assina como Ruth Ducaso, mas a escritora avisa que não se trata nem de pseudônimo nem heterônimo. “É uma assinatura estética, que eu uso para diferenciar prosa de poesia. Ruth Ducaso é para marcar a prosa e não se trata de um alter ego. Quando assino como Luciany, é poesia; Ruth é prosa”, diferencia. 

O  terceiro título é  Tipografia Oceânica,  de Sarah Rebecca Kersley, 40.  Nascida na Inglaterra, em Birmingham, a escritora vive no Brasil há 12 anos. Sua estreia, uma coletânea de poemas, explora a própria experiência da literatura e tem uma dose de metalinguagem.

Apesar de não ter o português como seu primeiro idioma, Sarah diz estar muito à vontade com a língua. Tem interesse especial na literatura contemporânea brasileira, em autores como o pernambucano Marcelino Freire (Amar é Crime). E, antes de vir para o Brasil, já gostava de Fernando Pessoa (1888-1935).

LivrariaSarah, que é fundadora do Paralelo 13S, é também a proprietária da Livraria Boto Cor de Rosa, que funciona há dois anos e destina-se à venda de livros com menos potencial de mercado que os bestsellers. “Desde o início, eu planejava ter o selo. Decidi então convidar Milena para coordenar, pois conhecia a experiência dela coordenando oficinas e também como pesquisadora da literatura contemporânea brasileira”. Milena Britto é também curadoria da Boto Cor de Rosa.

Para criar a livraria na Barra, Sarah diz que inspirou-se em modelos comuns fora do Brasil, muito diferentes das megastores. “Em Paris e Buenos Aires, há espaços como a Boto Cor de Rosa, que ligam a comunidade local à literatura”. Para isso, a Boto promove debates e mesas de discussão com autores e personalidades do mercado editorial.

Milena chama a atenção para o aspecto financeiro: “As livrarias menores perceberam que não se pode competir com as grandes, até porque os descontos para elas são menores. Então, tem que ter criatividade”. A curadora lembra o caso de uma livraria em Londres, onde o escritor realiza uma residência. O programa prevê até que o escritor deve trabalhar no local por um tempo. Sarah ressalta, no entanto, que a manutenção financeira do negócio é complicada: “Estamos na Barra, onde o aluguel é caro. O café que funciona lá ajuda a aumentar o faturamento e não me sustento com a livraria. Sou também tradutora profissional”.Evanilton Gonçalves estreia com Pensamentos Supérfluos: Coisas que Desaprendi com o Mundo (Foto: Rimara Motta/Divulgação)