Novos sinais? Pacientes com covid-19 também podem ter sintomas gástricos

Ocorrência dos sintomas não é novidade e aparece desde os primeiros casos

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 8 de abril de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: SHUTTERSTOCK

Febre, dificuldade de respirar, tosse seca. Os sintomas comuns causados pelo novo coronavírus já estão na memória do país. Dores abdominais, diarreia, vômito e náusea, no entanto, também merecem atenção.  Desdobramentos incomuns em doenças respiratórias, os sintomas gastrointestinais têm sido relatados por pacientes infectados e que já estão em tratamento da doença. 

Apesar da aparente novidade, especialistas explicam que desde os primeiros casos tais relatos já faziam parte da realidade nos atendimentos, mas eles não eram tão valorizados quanto os sinais da infecção ligados ao sistema respiratório. Agora, com o vírus mais difundido e com maior conhecimento dos médicos acerca dos seus efeitos no organismo, sintomas como dor abdominal também passaram a ser investigados para se concluir pelo diagnóstico de Covid-19.

O CORREIO conversou com infectologistas para entender exatamente tudo que o novo coronavírus pode causar aos enfermos

Experiência“É importante dizer que não se tratam de novos sintomas. Os sintomas gastrointestinais aparecem desde o início. Mas esse é um vírus novo, que ninguém tinha experiência, que os médicos estão conhecendo. Era algo que não era valorizado dentro do quadro”, explica a médica infectologista e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jacy Andrade. Segundo os especialistas, os sintomas gástricos podem, inclusive, aparecer dissociados dos respiratórios e ainda assim o paciente ser confirmados como um caso de Covid-19 após o atendimento médico. “A pessoa pode ter sim um quadro de febre e diarreia e durante a investigação se confirme como caso de coronavírus. São sintomas que estão sendo valorizados no diagnóstico e ajudado na hora da investigação”, completa Jacy. 

Visita ao Médico Apesar do aparente acréscimo na lista de sintomas, as recomendações quanto à visita ao médico seguem iguais. A infectologista Melissa Falcão, que coordena os trabalhos de enfrentamento da doença em Feira de  Santana, explica que o simples aparecimento de um sintoma gástrico não deve levar o paciente ao hospital, assim como não deve acontecer com sintomas respiratórios leves. “A orientação segue a mesa. A pessoa só deve procurar uma unidade de saúde caso os sintomas necessitem de avaliação médica. Caso contrário, deve permanecer em casa, se cuidando e tomando os cuidados de isolamento”, fala.

Entre os casos que devem levar o paciente ao hospital estão: dificuldade respiratória grave, dor abdominal intensa e febre alta e persistente. “Não tem porquê a pessoa assumir que qualquer quadro de dor de barriga ou diarreia é covid e ir ao hospital. Se os sintomas apresentados são leves, o melhor a fazer é se cuidar em casa”, acrescenta Melissa. 

Veja quais são os sintomas mais comuns e mais raros da Covid-19 (clique para ampliar a imagem):

Cuidados Os cuidados são os mesmos independente dos sintomas predominantes em cada paciente. A doença é espalhada através do contato, então é preciso estar atento aos hábitos de higiene e manter as mãos limpas.

O médico infectologista Fábio Amorim, do Hospital Couto Maia, explica a importância dos cuidados na hora do contato. “Essa é uma doença de contato, ela se transmite assim, por isso é preciso lavar as mãos. Não adianta, por exemplo, sair na rua de máscara e ficar manipulando a proteção o tempo todo, você condena a máscara”, destaca o médico.

Quando o quadro apresenta mais sintomas gastrointestinais, o cuidado com o contato deve permanecer, inclusive com atenção ao uso do banheiro. “A gente inclusive orienta o paciente que teve alta hospitalar e vai fazer a quarentena em casa, de, se possível, isolar também um banheiro para uso exclusivo. Já que existe o risco de, no caso de uma higienização mal feita, ocorrer o contato com as fezes”, detalha. 

Sintoma universal  O “surgimento” de novos sintomas é comum quando se trata de uma doença ainda pouco conhecida. Por isso é que apenas com o tempo e com o aumento no número de casos que os sinais gastrointestinais ganharam relevância para o diagnóstico de Covid-19. Aliás, em se tratando dessa doença há apenas uma unanimidade : não é possivel cravar o sintoma que vá aparecer em 100% dos casos. 

É claro que existem os que são considerados mais comuns e que aparecem em grande parte dos pacientes. No caso do novo coronavírus se repetem, principalmente, febre, tosse e alterações de paladar. Nem estes, contudo, são sintomas universais. “A doença se manifesta de forma diferente a depender de como cada corpo reage à infecção, por isso não existe um sintoma que todo mundo vai ter, é de pessoa para pessoa”, explica a infectologista Clarissa Ramos, do Hospital Cardio Pulmonar.

Professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, o infectologista Robson Reis  explica que o mais importante é a avaliação médica de cada quadro. 

Os profissionais chamam atenção, ainda, para a predominância dos sintomas respiratórios frente aos gastrointestinais. “É muito mais comum que os gastrointestinais venham associados aos respiratórios. Por isso os primeiros estudos não apontam tanto esses outros sintomas. Com o espalhamento da doença e mais pessoas infectadas é que os gastrointestinais puderam começar a ser estudados e considerados”, detalha Clarissa.

Com a ajuda da médica, o CORREIO elaborou uma comparação entre sintomas da covid-19 e de outras doenças com sintomas similares. Veja abaixo: 

Covid-19 X Apendicite - A dor abdominal na apendicite é súbita e intensa. Costuma começar na região do umbigo e migrar. No caso da covid-19 dor abdominal, quando ocorre, é mais próximo a uma cólica. 

Covid19 X Dengue - Na dengue a dor no corpo é mais forte e a febre mais intensa. Na covid-19 não é tão comum ter as dores no corpo e a febre aparece mais baixa e mais duradoura. 

Covid 19 X Resfriado  - O resfriado comum afeta, principalmente, as vias aéreas superiores causando espirro, coriza e congestão nasal. Esses sintomas não são tão comuns na covid-19, e aparecem em cerca de 10% dos pacientes apenas. A nova doença se parece mais com a gripe e afeta principalmente as vias áreas inferiores (pulmão), causando a dificuldade de respirar;

Convid 19 X Conjuntivite - A conjuntivite pode aparecer como um sintoma da covid-19. Contudo é um quadro raro que, segundo estudos, acontece apenas para  1% dos infectados.  

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro