Número de empresas abertas na Bahia cresceu 39% em 2021

Atividade com maior destaque foi a de comércio

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 11 de fevereiro de 2022 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/Arquivo CORREIO

O número de empresas abertas na Bahia cresceu de 2020 para 2021. O aumento foi de 39%, passando de 27.030 para 37.827 empresas constituídas entre janeiro e dezembro. Esse é o maior percentual desde ao menos 2013, ano a partir do qual a Junta Comercial do Estado da Bahia (Juceb) disponibiliza os dados. A atividade com o maior número de aberturas foi o comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas, com a fatia de 40,52% do total (15.328). Veja lista completa no final da reportagem. O crescimento acontece apesar da pandemia e, em alguns casos, justamente por causa dela. “A pandemia não atrapalhou; na verdade, ela foi fundamental”, diz Gabriel Brito, de 29 anos, que abriu a Hero Digital Media em fevereiro de 2021. 

Gabriel era supervisor jurídico de um grupo de empresas quando passou a dar apoio ao setor de marketing e acabou se interessando pela área. “Na metade de 2020, comecei a pesquisar, estudar e fazer cursos online porque vi que era aquilo que eu realmente gostava e queria. Em fevereiro de 2021, abri a empresa de marketing digital, voltada para gestão de redes sociais”, conta. Com o sucesso do negócio, o antigo supervisor jurídico pediu demissão e passou a se dedicar 100% à nova empresa.

Sobre a contribuição que a pandemia teve na iniciativa, ele explica: “Muita coisa ficou fechada, então minha demanda de trabalho diminuiu e eu passei a trabalhar em home office, fazendo com que sobrasse mais tempo para que eu pudesse me dedicar a estudar a área e planejar a minha empresa. Além disso, a pandemia intensificou mais ainda a necessidade de trabalho nas redes sociais, com a questão de posicionamento digital, por exemplo”.  Gabriel Brito abandonou o cargo de supervisor jurídico para abrir empresa de marketing (Foto: Arquivo Pessoal) O trabalho pode ser feito à distância e, com o aval da pandemia para o home office, a empresa opera dessa forma, o que reduziu os custos na hora do investimento para abertura. “Não tive investimento em local físico, somente em cursos, equipamentos e programas”, diz Gabriel. Atualmente, além de ter ultrapassado as expectativas do dono, a Hero Digital Media está em fase de expansão, com clientes também de fora da Bahia. No início, Gabriel operava sozinho e, hoje, ele conta com mais três colaboradores. 

A Hero Digital Media está inserida no chamado setor terciário, que envolve comércio e serviço. Segundo Isabel Ribeiro, gerente adjunta da Unidade de Gestão Estratégica do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas na Bahia (Sebrae), ele equivale a 80% dos empreendimentos. “Na realidade de pequenos negócios, esses segmentos são muito requisitados por conta do menor investimento. Você prestar um serviço ou abrir uma loja e comprar mercadoria e fazer adequações no espaço, é bem diferente de você montar uma fábrica, por exemplo”, pontua.  Isabel Ribeiro destaca papel das micro e pequenas empresas no crescimento de 2020 para 2021 (Foto: Arquivo Pessoal) Isabel também destaca que a pandemia fortaleceu o trabalho remoto, mas que o modelo não deve permanecer como padrão. “Ele traz a vantagem de economia de gastos com energia e água, por exemplo, e foi responsável por manter muitos empreendedores de pé. Mas há um questionamento se isso vai se manter como tendência porque surgem as questões como limite de horário de trabalho e gasto do colaborador com a energia e água da sua residência. Então acredito que muita gente vai retornar ao presencial normal e, aqueles que não o fizerem, podem optar por um espaço de coworking ou rever sua configuração de trabalho remoto”, analisa a gerente. 

Número de micro e pequenas empresas cresceu 15,3%

Para Isabel Ribeiro, gerente adjunta da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae, o crescimento do número de abertura de empresas entre 2020 e 2021 foi impulsionado pelas micro e pequenas empresas, que representam 98% dos empreendimentos. De acordo com o Sebrae, até dezembro de 2021, a Bahia tinha 1.021.626 micro e pequenas empresas. O estado fechou 2020 com 885.938, o que significa que houve um aumento de 15,3%. Isabel ressalta que foi a pandemia que motivou esse crescimento.  “No universo das micro e pequenas empresas, 70% são microempreendedores individuais. Estamos falando de pessoas que encontraram oportunidades e empreenderam, mas, principalmente, das que tiveram a necessidade de empreender. Com o aumento do desemprego nas empresas de maior porte, esses empregados que foram desligados, abriram um empreendimento individual como alternativa de sobrevivência”, coloca. A gerente destaca que esse tipo de empreendimento é “o colchão de amortecimento da crise”. “Num momento de crise, há facilidade para formalizar uma micro ou pequena empresa como MEI e, assim, ter acesso a uma série de benefícios”, diz. Por outro lado, também há desvantagens. “Isso acaba significando menos empresas com mais robustez. Para que tenhamos uma economia pujante, a gente precisa de empreendimentos de maior porte, com mais infraestrutura, qualificação e tecnologia para que a economia como um todo possa dar saltos de produtividade e competitividade”, acrescenta. 

Isabel ainda salienta que os pequenos negócios são os maiores geradores de emprego e renda na Bahia e no Brasil. Ao todo, foram 108.960 postos de trabalho criados pelas micro e pequenas empresas na Bahia entre janeiro e dezembro de 2021. O número coloca o estado em primeiro lugar no Nordeste na geração de empregos por pequenos negócios no ano passado. Nesse mesmo período, as médias e grandes geraram 22.003 vagas.

Na contramão da crise

Outro que recebeu um empurrãozinho da pandemia para abrir o próprio negócio foi Adrian Gonzalez, de 34 anos. Ele foi chefe de cozinha de um restaurante em Salvador por 13 anos e hoje é dono do restaurante Alecrim Gonzalez, junto com o irmão, Cristian Gonzalez. O estabelecimento fica em Irecê e está inserido na categoria de micro empresa. Adrian e Cristian sempre tiveram o sonho de ter um restaurante e Adrian diz que aproveitou uma oportunidade gerada pela pandemia. 

“Era sempre com muita cautela e juntando dinheiro. A pandemia foi um start porque a maioria dos restaurantes ficaram impossibilitados de funcionar, foi muito difícil para a gente. Aí eu comecei a pensar que eu tinha que aproveitar aquele momento em que os donos de restaurantes estavam preocupados com o futuro dos seus negócios”, explica.

Segundo ele, o ponto principal para o sucesso do negócio foi a escolha de abertura no interior. “Além do investimento ser mais alto na capital, a concorrência é muito grande e, no interior, um restaurante desse tipo é um destaque e a notícia de abertura se espalha muito rápido. Aí surgiu esse restaurante aqui em Irecê cujo dono estava passando adiante no início da pandemia. Eu e meu irmão começamos a fazer o estudo do local, do mercado e do perfil do público”, conta Adrian. Adrian (à direita) e seu irmão Cristian (à esquerda) no restaurante Alecrim Gonzalez (Foto: Arquivo Pessoal) O Alecrim Gonzalez abriu no dia 15 de julho de 2021. “Fechamos negócio quando surgiu a vacina. Aí fomos nos estruturando, fizemos algumas obras e abrimos em julho. Foi exatamente quando o horário de funcionamento passou de 19h para 22h. Aí pronto. Graças a Deus, está sendo um sucesso e já temos planos para ampliar o negócio”, finaliza. 

Número de empresas que fecharam cresceu 12% em 2021

No outro lado da moeda, o de fechamento de empresas, também houve aumento, apesar de bem menor. O número de empresas fechadas cresceu 12% em 2021 comparado a 2020. Foram 22.847 em 2021 e 20.399 no ano anterior. A atividade responsável pelo maior número de empresas extintas também foi o comércio, com 48,96% do total (11.185).

Roberto Campello, de 32 anos, foi um dos empreendedores que, afetados pela crise, passaram aperto. Ele tinha aberto a segunda unidade da sua pizzaria (o nome foi preservado a pedido do entrevistado) no início de 2020, pouco antes da pandemia. O negócio até que resistiu por algum tempo, mas fechou em outubro de 2021. 

“A primeira unidade não estava mais comportando o volume, então decidimos abrir mais uma. Pegamos o ponto, reformamos e abrimos um mês antes da pandemia chegar. A gente acabou sofrendo muito com isso. Ficamos com o delivery, mas não era essa a expectativa. O delivery ajuda, mas fica muito longe do volume de vendas para consumo no local”, destaca Roberto. 

O empresário conta que, quando as medidas de restrição foram flexibilizadas, não valia a pena abrir a pizzaria e, que, ao mesmo tempo, o delivery sofreu grande queda. “Para a gente, não compensava abrir, porque era um investimento, tinha toda a questão dos protocolos e era um negócio pequeno. Aí eu fui acompanhando isso e, analisando bem, decidi encerrar as atividades por lá. A primeira unidade continua funcionando, mas acabou ficando permanentemente só com delivery mesmo”. 

Segundo Roberto, o que mais pesou na hora de fazer as contas foi o aluguel do espaço. “A gente teve o desconto de 25% durante o período mais crítico, mas depois o desconto acabou e ainda ia chegar um reajuste. Muitos estabelecimentos do lado da gente acabaram fechando também porque não conseguiram se sustentar”, finaliza. 

Empresas abertas em 2021 por tipo jurídico:Empresário - 8.176 (21,61%) Eireli - 5.107 (13,50%) Sociedade LTDA - 23.705 (62,67%) Sociedade Anônima - 645 (1,71%) Cooperativa - 103 (0,27%) Outros - 91 (0,24%) Empresas abertas em 2021 por atividade:Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura - 727 (1,92%) Indústrias extrativas - 322 (0,85%) Indústrias de transformação - 1.844 (4,87%) Eletricidade e gás - 121 (0,32%) Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação - 221 (0,58%) Construção - 2.156 (5,70%) Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas - 15.328 (40,52) Transporte, armazenagem e correio - 1.991 (5,26%) Alojamento e alimentação - 1.542 (4,08%) Informação e comunicação - 1.227 (3,24%) Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados - 604 (1,60%) Atividades imobiliárias - 757 (2,00%) Atividades profissionais, científicas e técnicas - 2.865 (7,57%) Atividades administrativas e serviços complementares - 2.483 (6,56%) Administração pública, defesa e seguridade social - 3 (0,01%) Educação - 901 (2,38%) Saúde humana e serviços sociais - 3.610 (9,54%) Artes, cultura, esporte e recreação - 478 (1,26%) Outras atividades de serviços - 643 (1,70%) Serviços domésticos - 4 (0,01) Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais - 0 (0,00%) Quero abrir uma empresa. E agora?

A abertura e o gerenciamento de um novo negócio exigem um conjunto de habilidades e conhecimentos, como entender o mercado, o público e planejar bem cada etapa. Uma boa administração considera, também, estratégias de marketing, um fluxo de caixa controlado e passa, ainda, por muita criatividade e inovação. Veja quais passos seguir:

1. Saiba que negócio abrir

São várias as opções existentes para montar o seu negócio, você pode optar por: uma franquia, um escritório em casa, uma empresa familiar, uma cooperativa ou associação e, até mesmo, por um comércio eletrônico. Seja como for, é preciso conhecer a fundo cada um. Em seguida, é importante escolher em qual ramo de atividades você deseja trabalhar: alimentação; saúde, beleza e bem-estar; construção civil; pet shop; etc.

2. Reúna informações sobre o negócio

Em seguida, você precisa coletar informações para dar subsídio consistente à criação da empresa, pesquisando dados sobre: Mercado, Finanças, Marketing e Localização do empreendimento.

3. Organize-se

A terceira iniciativa é organizar as informações coletadas. Ao conhecer o mercado você conseguirá construir o plano de negócios e definir estratégias para posicionar corretamente a sua empreitada.

4. Faça um plano de negócios

O plano de negócios é o instrumento ideal para traçar um retrato do mercado, do produto e das atitudes do empreendedor. É por meio dele que você terá informações detalhadas do seu ramo, produtos e serviços, clientes, concorrentes, fornecedores e, principalmente, pontos fortes e fracos do negócio, contribuindo para a identificação da viabilidade de sua ideia e da gestão da empresa. (Veja aqui como criá-lo) 

5. Coloque a mão na massa

A última etapa é registrar o negócio e torná-lo realidade. A formalização do seu negócio e o registro da sua empresa exigem alguns passos até que você tenha seu CNPJ com alvará em mãos e possa empreender 100% regularizado. Você precisará: definir o nome da empresa; escolher o tipo de empresa para abrir (MEI, ME, EPP, Médio ou Grande porte); definir o regime jurídico da empresa (EI, EIRELI ou LTDA); escolher as atividades para exercer (CNAEs); saber qual será o seu regime tributário (Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real); elaborar o Contrato Social; separar os documentos necessários para efetuar o registro na Junta comercial; (em alguns casos) obter o alvará de localização e funcionamento; e fazer a Inscrição Estadual.

Tendências de negócios para 2022:Importação de produtos Infoprodutos Marketing de afiliados Setor alimentício Telemedicina Artesanato Consultoria de marketing digital Especialista em Facebook Ads e Google Ads Franquias Educação Alimentação em casa Farmácias Clube de assinaturas Estética Dicas para fazer o negócio prosperar:

1. Conheça seu cliente: Você deve conhecer a quantidade de pessoas que podem se interessar por suas mercadorias, entender melhor seus hábitos, rotina, comportamentos. Assim, você consegue personalizar seu produto ou serviço, conquistando e fidelizando seus clientes. Com isso, também é possível surpreendê-lo com novidades – por isso é essencial estar sempre bem antenado nas tendências – e ainda atrair um público ainda maior.

2. Acompanhe a concorrência: Saber o que está acontecendo no seu ramo de negócio pode ajudar você a encontrar oportunidades e definir as próximas ações.

3. Esteja alinhado com sua equipe: Compartilhe com todos da equipe os resultados positivos, os feedbacks, as metas e os problemas. E trabalhe para que o atendimento ao cliente seja o melhor possível. Saber com propriedade quando está falando sobre algo traz segurança e aumenta as chances de convencer o cliente de que algo é realmente bom.

4. Organize as finanças: Estando ou não no vermelho, o controle total do fluxo de caixa é primordial para que seu negócio consiga crescer. Anote tudo: saídas, entradas e inclusive previsões futuras. Para isso, comece uma planilha simples e, quando puder, invista em um software de gestão para facilitar o processo. 

5. O mundo digital é essencial: Que tal começar pelas redes sociais? Use-as para divulgar novidades, convidar para promoções e lançamentos e ainda se relacionar com seus clientes. Quando possível, vá mais longe: venda pela internet.

6. Busque o crescimento: O crescimento pode ser feito de várias formas, além do físico, como aumentar os canais de atendimento, ter um e-commerce, participar de licitações, criar a opção de vendas para pessoa física e jurídica, atendimento para clientes especiais, etc.