Nuno Cobra, ex-preparador de Senna, é denunciado por assédio sexual em Salvador

Filho dele afirma que pai está "senil" e "perdendo a censura" 

Publicado em 6 de maio de 2022 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: divulgação

O ex-preparador físico Nuno Cobra foi denunciado por duas mulheres por assédio sexual, em Salvador. Os casos aconteceram durante uma feira de negócios para empreendedores, no final de abril, onde ele realizou uma palestra. 

As duas vítimas registraram o caso na delegacia juntas. Uma delas, que preferiu não se identificar, disse que optou por denunciar e expor o caso para encorajar outras mulheres a romperem o silêncio.

“Ele precisa ser parado, para que não cometa os mesmos atos com outras mulheres. Eu espero que ele seja exposto a tal ponto que não possa mais ser contratado por ninguém, para que ele não possa mais aproveitar do poder que acha que tem”, afirma.

Nuno tem 83 anos, é formado em educação física e foi preparador físico de atletas famosos, como Ayrton Senna. Ele ainda está ligado a outro do caso semelhante. Cobra já foi preso preventivamente por abusar sexualmente de uma mulher, em agosto de 2017. Em 2015, ele foi denunciado por outro crime da mesma natureza.

Ao relatar o caso, a vítima contou que Nuno a abordou pedindo para que ela anotasse o número dele. "Quando chegou a uma certa altura do evento, eu me virei e ele já estava atrás de mim. Ele me pediu para anotar o número dele. Quando eu peguei o celular, que comecei a anotar, ele virou para mim e falou ‘até para digitar você é sensual’”, relata.

Depois disso, a vítima conta que Nuno avançou com o contato físico e que chegou a convidá-la para ir até São Paulo, onde ele mora. “Foi aí que ele pegou as duas mãos e colocou nos meus seios, depois me agarrou. Com uma mão ele ficou apertando a minha cintura, e com a outra ele pegou a minha nuca, ficou passando os dedos e me puxando para cima dele”, conta. 

Quando conseguiu se desvencilhar do agressor, a vítima ainda teve que permanecer no local até o final da palestra. Ela relembra que, por causa do choque, só conseguiu realizar a denúncia no dia seguinte.

“Eu não contei para ninguém na hora, só queria sair dali e correr para casa. Ele vestiu uma máscara de profissional e agiu como se nada tivesse acontecido até o final do evento. Mas depois ainda assediou outra mulher”, disse.

A segunda vítima que registrou a ocorrência preferiu não dar entrevista. Ela trabalhava no mesmo evento e relatou à polícia que foi tirar uma foto com Nuno. Ele pediu para que ela retirasse a máscara. Quando ela o fez, ele segurou o rosto dela de forma violenta e tentou beijá-la.

Em nota, a Polícia Civil informou que o caso está sendo apurado pela 9ª Delegacia (Boca do Rio), que já agendou o depoimento das vítimas. 

O Sebrae, instituição que realizou o evento, repudiou o ocorrido e disse ter se disponibilizado a prestar suporte jurídico às denunciantes desde o primeiro momento. “A Instituição aguarda a conclusão das investigações e espera que os eventuais culpados sejam rigorosamente punidos na forma da lei”, desejou, em nota. 

Inadequado ao convívio social Após o caso, um dos filhos dele afirma que o pai está "senil", "perdendo a censura" e que, por isso, o pai está inadequando ao convivio social, definindo a velhice como justificativa para os casos. Ao G1, Nuno Cobra Júnior, afirmou que o pai sofre de uma doença neurológica.

“Meu pai tem uma perda neurológica, já faz alguns anos, que vem causando uma perda de censura. A gente tem percebido isso tem alguns anos já. É uma questão senil. Ele abraça demais, sempre foi muito sinestésico. Já era uma característica dele, de tocar, de ser um galanteador, de ser muito sedutor, então o que acontece é essa confusão. Eu posso garantir que, quando se fala de estupro, é muito forte", disse.  

Um laudo médico também foi apresentado pela família. O diagnóstico foi dado pelo psiquiatra Luís Guilherme Coelho Buchianeri. No documento, o médico afirma que Cobra apresenta "Transtorno Psicogeriátrico com quadro sugestivo de Demência Fronto-Temporal".

O psiquiatra detalhou ainda que, quando Cobra começou o tratamento, em maio do ano passado, ele já "apresentava mudança de personalidade (desinibição), alteração de comportamento, (transgressão de costumes sociais atitudes inadequadas, dificuldade no controle de impulsos - hipersexualidade)".

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo