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Perla Ribeiro
Publicado em 4 de setembro de 2017 às 17:01
- Atualizado há 2 anos
Salvador produz hoje 76 mil toneladas de lixo por mês, mas só 1% dele é reciclado. Segundo o presidente da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb), Kaio Moraes, ainda é muito pouco, mas há projetos na tentativa de mudar essa realidade. Um deles prevê a coleta seletiva. “Temos coleta diária em 68% da cidade. A ideia é, aos poucos, conscientizar as pessoas para alternar e tentar incluir o caminhão da coleta seletiva”.>
Você pode pensar: mas por que para ter uma coisa precisaria reduzir a outra? É que a limpeza da cidade custa caro e a conta fecha sempre no vermelho. A arrecadação da Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares (TRSD), que é embutida no IPTU, chega a até R$ 100 milhões. Mas só com a coleta, o gasto anual é de mais de R$ 103 milhões - o contrato é de R$ 8,6 milhões por mês. Soma-se a isso outros R$ 6,7 milhões/mês gastos com a varrição de 121 mil quilômetros da cidade. “Entre 6% a 10% da receita do município vai para o lixo”, informa Moraes.>
O preço do lixo>
Durante o seminário Cidades, do fórum Agenda Bahia 2017, o cofundador e sócio-diretor de Inteligência de Recursos da Giral Viveiro de Projetos, Mateus Mendonça, destacou que o brasileiro paga, em média, sete vezes menos do que um morador de Munique (Alemanha) para a gestão de resíduos. “A média do Brasil é de R$ 120 por habitante por ano. Em Munique, para você ter coleta uma vez por semana, você paga R$ 870”. >
Diferentemente de Munique, o presidente da Limpurb chama a atenção para um aspecto que impediria que por aqui acontecesse algo semelhante. “Nosso lixo tem muito orgânico. Já o do americano e do europeu tem muito reciclável. Aqui, o orgânico chega a 50%. No caso do europeu e americano, fica entre 15% e 20%”.>
Mesmo assim, a estimativa é que 46% do lixo gerado na cidade poderia ser reciclado. A Limpurb quer estimular o aumento da reciclagem com a criação de um projeto piloto onde seria contratada uma cooperativa para fazer a coleta seletiva de porta em porta. “Tendo bons resultados, podemos ampliar seu alcance”, adianta Kaio. Atualmente, há 148 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) em Salvador e 17 cooperativas de reciclagem cadastradas. >
A nova licitação da limpeza urbana de Salvador prevê 30 contêineres subterrâneos e a criação de 30 pontos limpos na cidade. “Há muitos locais que passam a ser usados como pontos de lixo. Nossa ideia é instalar uma caixa compacta e outra de entulhos nesses locais e colocar seis garis para fazer toda a coleta e disciplinar o lixo naquele entorno”, explica.>
Mas, como o especialista Mateus Mendonça alertou em sua palestra no Agenda Bahia, a responsabilidade sobre o lixo deve ser compartilhada. “Nada disso funciona se não tiver participação do cidadão. Tem que agir como cidadão. O lixo é nossa grande causa para resgatar a cidadania e a convivência das pessoas. Trabalhamos muito na perspectiva de buscar resgatar, a partir do lixo, a participação dos cidadãos na gestão das cidades”. O presidente da Limpurb completa: “O maior desafio da limpeza urbana é trazer mais eficiência junto com o apoio da população”. >
Mendonça lembrou que, em São Paulo, uma grande ação - a Rua Lixo Zero - começou com a atitude individual de uma senhora que catava, no lixo dos vizinhos, os recicláveis. Se em cada comunidade tiver alguém disposto a fazer algo para mudar a forma de conviver com o lixo, novas grandes ações podem surgir. “Essa história de lixo zero é o alvo. Quem sabe um dia a gente chega lá?”.>
O Fórum Agenda Bahia 2017 é uma realização do CORREIO, com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; patrocínio da Braskem, Coelba e Odebrecht; e apoio da Revita. >
Os destaques da palestra>
Cobiçada. Mais de 90% das latinhas de alumínio são recicladas no Brasil. Segundo Mateus Mendonça, isso acontece porque o quilo do alumínio vale muito. “É um material valioso. Reciclar alumínio economiza muita energia, por isso já se tornou a vedete da reciclagem”. >
O vidro. Salvador ainda não possui um programa de coleta de vidro. “Infelizmente, a gente não conseguiu trazer para Salvador ainda, porque o custo de se levar o vidro para os centros fabris é muito alto. É um setor altamente verticalizado”, lamentou Mendonça.>
Cooperativa. Em Camaçari há uma cooperativa de recicláveis que funciona dentro de um centro de distribuição de um grande varejista. Lá, os cooperados têm renda média de R$ 2 mil e férias remuneradas. “Eles têm todas as simulações de um trabalho CLT, mas dentro de uma cooperativa”, explicou Mateus. >
Seu papel. Cada cidadão pode desempenhar seu papel para ressignificar a relação com o lixo. “Alguém aqui já cobrou da prefeitura de sua cidade a coleta seletiva? Já fez abaixo- assinado pedindo isso? Há outras formas de o cidadão agir, não dá para ficar sentado esperando que o lixo evapore. Tem que ressignificar a partir daí também, no agir”, propõe o especialista Mateus Mendonça.>