O PIB cresceu e você nem notou? Saiba por que

Setor de serviços, o que mais emprega no Brasil, ainda amarga prejuízos na pandemia

Publicado em 2 de junho de 2021 às 05:30

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Jaelson Lucas / AEN

O principal termômetro da economia brasileira indica que o país retornou às condições anteriores à pandemia do coronavírus. No primeiro trimestre de 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,2%, após o país encerrar 2020 com uma queda de 4,1% na atividade econômica. O desempenho, levemente acima do que era esperado pelo mercado, foi impulsionado sobretudo pela agropecuária, com uma ampliação de 5,7%. 

A indústria contribuiu com 0,7%, impulsionada pelas atividades extrativas, com alta de 3,2%, e a construção civil, com 2,1%. Por outro lado, as indústrias de transformação registraram um encolhimento de  0,5%, impactada pela produção de alimentos. Porém, a grande explicação para a sensação de que pouca coisa mudou no cenário econômico está no setor que mais emprega no país, o de serviços. 

Mesmo com um indicativo de recuperação, a economia brasileira ainda está 3,1% abaixo do pico da atividade econômica, registrado em 2014. Em relação ao primeiro trimestre de 2020, o crescimento foi de 1%.

O chamado terceiro setor até que registrou uma leve alta de 0,4%, mas não em atividades com grande impacto na geração de empregos. Estas dependem de aglomerações e contato social.

Classificado nas estatísticas oficiais como “outros serviços”, o ramo de alojamento, alimentação, lazer e turismo responde por 20% do PIB e 32% do emprego no país.

Essas empresas ainda estão com um nível de atividade 9,5% abaixo do patamar pré-crise, do último trimestre de 2019, enquanto o PIB como um todo já voltou àquele nível.

Serviços que empregam menos, como informação e financeiro, por outro lado, já se recuperaram da crise e estão em pleno crescimento. “Na pandemia, a atividade econômica mais favorecida foi a financeira, por conta do aumento do crédito e também da poupança entre a população de mais alta renda, que conseguiu reduzir os gastos em razão do isolamento social”, explica Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. 

“Enquanto a pandemia não passar, vai ser essa questão de ter um PIB até um pouco melhor do que inicialmente previsto, mas com pouco emprego. São dois mundos, uma economia em duas velocidades”, avalia Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV). É o que ela chama de “lado B do PIB positivo”. 

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, afirma que, apesar da expectativa de melhora do mercado de trabalho no segundo semestre, questões como a renovação do auxílio emergencial e a criação de um novo programa de renda mínima para 2022 são fundamentais.

“Apesar de uma recuperação a partir do segundo semestre por causa da vacinação, a gente ainda vai sair da pandemia com o mercado de trabalho bem mais fragilizado. Então programas sociais vão ser ainda fundamentais para a gente ter um crescimento mais sustentável de longo prazo”, afirma Vitoria. “A gente tem um PIB forte, mas um mercado de trabalho ainda fraco”.

O presidente Jair Bolsonaro avaliou o resultado como um sinal de que a economia está “voltando ao ritmo otimista do período pré-pandemia”. Ele defendeu o resultado como um acerto do governo dele ao “proteger empregos e garantir a dignidade dos brasileiros”, mesmo durante a pandemia.

Brasil perdeu sete posições entre as maiores economias Os países que combateram a pandemia de covid-19 com vigor e concederam incentivos fiscais significativos ocupam as primeiras posições do ranking do PIB no primeiro trimestre, apresentado ontem, pela Austin Rating, avaliou o economista-chefe da agência de classificação de risco, Alex Agostini.

O Brasil perdeu sete posições entre o último trimestre do ano passado e o primeiro deste ano, caindo para o 19.º lugar, informou Agostini, observando que o desempenho não foi pior por causa do preço das commodities.

Lideram a lista Croácia (5,8%), Hong Kong (5,4%), Estônia (4,8%), Chile (3,2%) e Cingapura (3,1%). Na América do Sul, a Colômbia também ficou à frente do Brasil, com avanço do PIB de 2,9% no período. 

“O resultado não reflete a nossa realidade doméstica, que é uma recuperação ainda descompassada, muito do lado da produção para o exterior e menos para o consumo doméstico", ressaltou o economista.

Commodities em alta sustentam a expansão do PIB Com desemprego em alta e poucos recursos disponíveis para consumo, foi o mercado externo o grande responsável pelo crescimento econômico brasileiro no primeiro trimestre deste ano.

Destaque para mais uma alta no preço de commmodities. O barril do petróleo variou entre 1,73%, no caso do tipo Brent, e 2,41%, no caso do WTI. O movimento ocorre em meio às expectativas pelo aumento da demanda por países do Hemisfério Norte, como os Estados Unidos. 

Na China, o preço do minério de ferro continua em alta, voltando a operar acima dos US$ 200 no mercado à vista. Os preços médios do milho e da soja em março, por exemplo, foram negociados com aumento de 59,42% e 81,1% na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento da GO Associados.

O aumento da demanda global por commodities é explicado principalmente pelo avanço da vacinação nos países desenvolvidos e pelo crescimento asiático, puxado pela China.