'O Vitória não é terra arrasada', reclama Raimundo Viana

OUÇA ou LEIA entrevista completa com candidato à presidência do Vitória

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  • Vitor Villar

Publicado em 18 de abril de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga / CORREIO

Presidente entre 2015 e 2016, Raimundo Viana quer voltar ao comando do Vitória. Ele é candidato nas eleições do próximo dia 24 de abril, das 9h às 21h, no Barradão, pela chapa '100% Vitória'.

Nesta entrevista ao CORREIO, Viana apresenta as suas propostas para o rubro-negro e porque deseja retornar ao clube - segundo ele, sua candidatura seria uma resposta a um projeto pessoal de poder de outro candidato.Você pode consumir a entrevista em dois formatos: completa, em áudio, em edição do programa Bate-Pronto Podcast, ou em versão menor, editada, em texto.Pelas regras do CORREIO, as primeiras sete perguntas serão igualmente feitas para todos os candidatos. As últimas cinco foram elaboradas especialmente para cada entrevistado, observando sua trajetória.

Nos próximos dias, o CORREIO publicará também entrevistas com os demais candidatos: Paulo Carneiro, Isaura Maria e Gílson Presídio. O candidato Walter Seijo não quis conceder entrevista.

Clique no player abaixo para ouvir a entrevista em áudio ou faça o download para ouvir quando e onde quiser.

Você também pode ouvir o Bate-Pronto Podcast no aplicativo Spotify ou através do serviço iTunes.

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Confira a versão resumida em texto:

Por que você deseja voltar a ser presidente do Vitória? Fiz de tudo para não ser candidato, porém os apelos foram muitos. Acreditava que uma candidatura única fosse o melhor neste momento, para dar tranquilidade ao eleito. Lutei por isso, mas não consegui. Infelizmente o Vitória tem segmentos políticos com projetos pessoais, e não em prol do clube. Quando você tem um projeto pessoal, coloca a instituição em segundo plano. Meu projeto sempre foi em prol do Vitória, e não pessoal. Então entendi que não tinha o direito de me encostar na comodidade e não enfrentar a luta para restaurar o Vitória.

Você perdeu as duas últimas eleições. Por que acha que dessa vez será diferente? Pelo aprendizado do torcedor. Lamentavelmente, o eleitor aprende é com os equívocos. A democracia tem dessas coisas. Se eu tivesse sido eleito no lugar de Ivã (de Almeida, no final de 2016) teria dado sequência num mandato vitorioso. Será que quem contratou Marinho não sabia o lugar onde buscar outros dele? Será que quem trouxe estrutura para o clube não teria feito mais em mais tempo? Acho que o torcedor está mais maduro, não vai se deixar enganar agora.

De onde tirar dinheiro agora, a curto prazo, para investir e tirar o time da Série B? Esse é o grande desafio. Em 2015 enfrentamos uma situação igual. Também não tinha dinheiro, grupo, instalações adequadas, crédito na praça. Para isso, conto com uma equipe competente, a começar pelo vice-presidente Marcus Sarmento, com sua experiência como empresário e seu amor pelo clube. Vamos ao mercado captar recursos, firmar parcerias com o poder público, visitar os financiadores do futebol. Antes de tudo, precisamos restaurar a credibilidade do clube no mercado, que se perdeu após os fracassos.

Como fazer uma reformulação no time sem dinheiro? Chegando lá, vamos fazer análises criteriosas e muita gente vai sair, outros virão. Mas, acima de tudo, temos que resgatar a autoestima dos jogadores que estão aí e exigir o comprometimento deles. Em 2015, fizemos isso. Até hoje Rhayner reconhece que foi a gente quem fez ele retomar a sua carreira. Mas a gente começou a reformulação mandando alguns embora. Kadu (zagueiro) estava mal e foi para outro clube. Neto Baiano também. Os atletas podem buscar o caminho deles em outros clubes, é normal.

Como trazer a torcida de volta para o estádio? Transmitindo credibilidade. Quando você demonstra para o torcedor que é como ele, um torcedor que sofre com o time do jeito que está, você começa a trazê-lo de volta. Um dos maiores espetáculos que o Vitória deu nos últimos anos foi na Série B, em 2015, contra o Luverdense, na Fonte Nova. Ali foi uma demonstração de que o torcedor não se afasta do estádio por acaso, ele é afastado. O torcedor vai sentir que o homem que está como presidente é torcedor como ele.

O técnico Claudio Tencati e o gerente de futebol Alarcon Pacheco ficam? Na nossa gestão nada será dito através da imprensa. Vamos fazer uma radiografia da situação assim que chegarmos lá, tudo será observado. Não vamos antecipar nada. Vamos conversar com todos eles, sem tomar atitudes ríspidas e nem antecipadas.

Se eleito, você assumirá o Vitória às vésperas ou com a Série B em andamento. Como será o planejamento? Temos que entender que o Vitória não é terra arrasada. Parece até que o clube não tem base, não tem jogadores lá. Não dá para chegar lá e tirar todo mundo, isso é atitude de time pequeno, que pega um ‘catadinho’ e coloca para jogar. Nesses oito primeiros jogos vamos fazendo retoques, para levantar a autoestima do plantel.

Em 2015 você também assumiu o clube numa situação difícil, na Série B. O que traz de aprendizado? Primeiro, a reestabelecer a autoestima do jogador e da torcida. O atleta tem que saber que ele tem o seu valor e que pode entregar mais. Faz parte do dirigente isso. Sempre fui um presidente de vestiário. Faz muita falta alguém assim no vestiário. O jogador se sente privilegiado, protegido das críticas da imprensa. Vi naquele ano jogadores falando para eu não me preocupar com o bicho. Algo muito raro.

Você chegou a dizer que sua presidência foi em quatro mãos, valorizando o trabalho de Manoel Matos. Hoje ele apoia seu adversário, Paulo Carneiro. Como se sente com isso? Esse assunto me deixa um pouco entristecido. Uma das minhas características é a descentralização. Disse diversas vezes que meu vice-presidente era também um presidente. Lógico, se você está dando resultado eu vou te prestigiar. Precisa dizer o tempo todo ‘quem fez foi eu’? Quem fez foi o clube! Fico triste porque ao final do nosso mandato ele disse que ia descansar e me sugeriu fazer o mesmo, mas eu fui para a eleição (em 2016). De repente, no ano seguinte, me aparece como candidato. Ele disse que tinha se comprometido com amigos. Disse a ele ‘quem é mais amigo seu no Vitória do que eu’? Agora, fiz de tudo para que ele fosse o candidato único de uma coalizão. Mas ele novamente se deixou levar pelo canto dos ‘cardeais’ que não sabem mais nem celebrar missa.

O que acha da chapa de Paulo Carneiro, com o apoio de ex-presidentes como Alexi Portela e Adhemar Lemos? Respeito todo mundo de lá, trato todo mundo com a atenção merecida. Mas eu convivi com essa gente toda. Tenho uma história no clube de anos e mais anos. E tenho absoluta certeza do que digo. É muito bacana dizer que é um ‘cardeal’, que tem história no clube. Então por que não se candidata a presidente? ‘Ah, porque minha mulher não deixa, porque meus negócios não deixam’... Conta outra! É aquele cara que diz que ‘quem ajudou a ganhar a eleição fui eu’ e aí tenta mandar. Se o mandonismo der certo, foi ele quem resolveu. Se não der certo, é porque ‘o presidente foi cabeça dura, não quis ouvir’. O Vitória não precisa mais disso.

Que acha das críticas de que sua chapa não tem experiência, com apoio apenas de empresários? Quem disse que não tem ex-presidente? Zé Rocha é o que? Ruy Rosalvo também está com a gente. E sobre essa desconfiança com quem é novo, com a falta de experiência, só digo uma coisa: o velho tá aqui.

Você influenciou na antecipação das eleições? Me envolvi intensamente. O Vitória não podia sangrar mais. Se realizassem uma assembleia geral na tora e tirassem David na tora, no dia seguinte ele estaria de volta com uma decisão na Justiça. Isso seria bom para o clube? Quando (Ricardo) David falou comigo disse a ele que a situação dele estava irrecuperável e que a solução seria a antecipação das eleições gerais, dentro da normalidade. Dei essa ideia a Robinson (Almeida, presidente do Conselho Deliberativo) e ele comprou a ideia. Ele disse ‘vai ser difícil’ e eu disse ‘vai ser quase impossível’. Por que um presidente abriria mão do mandato? Por que 200 conselheiros abririam mão do mandato? Mas valia a pena dar um primeiro passo. E passo a passo, conseguimos. Eu falava com Robinson quatro vezes por dia, estabelecendo estratégias e reunindo grupos para obter apoio.