OAB-BA recebeu 189 denúncias de racismo e vai acompanhar caso de ator

Entidades e artistas comentaram tiro dado por policial em artista na Avenida Sete

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  • Gil Santos

Publicado em 15 de junho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Leno se emociona com divulgação de manifesto do Bando de Teatro Olodum contra o racismo, nessa quinta (Foto: Marina Silva/CORREIO) A Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Bahia (OAB-BA) está acompanhando o caso do ator do Bando de Teatro Olodum, Leno Sacramento, que foi baleado durante uma abordagem policial. Tudo aconteceu na tarde de quarta-feira (13), na Avenida Sete de Setembro, quando ele passava de bicicleta próximo ao Forte de São Pedro.

A presidente da Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial, Dandara Pinho, contou que um grupo de advogados esteve na delegacia onde foi registrada a queixa para colher informações sobre a ocorrência.

Ela vai solicitar uma reunião com o governo do estado para discutir o assunto e sugerir que os policiais passem por um curso de reciclagem. Em 2017, a comissão recebeu 189 denúncias de racismo na Bahia. Nesta quinta-feira (14), Leno Sacramento e o cenógrafo Garley Souza, que estava com ele no momento da abordagem, foram recebidos pelo secretário estadual de Segurança Pública, Maurício Barbosa. Ator deixa delegacia amparado, após prestar queixa nos Barris, na quarta (Foto: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO) Racismo institucional Ela citou o Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa da Bahia, que define o racismo institucional como ações ou omissões sistêmicas caracterizadas por normas, práticas, critérios e padrões formais e não formais de diagnóstico e atendimento, de natureza pública ou privada, que resulte em preconceito ou discriminação.

Para Pinho, essa discriminação é diária e não é camuflada. “Velada pra quem? Certamente, não para a vítima. O racismo institucional é percebido no tratamento diferenciado dado aos negros, seja na segurança pública, no tratamento com desdém em órgãos públicos, ou no atendimento mais demorado nos hospitais, por exemplo”, disse.

A presidente afirmou que a comissão repudia toda e qualquer ação que viole os Direitos Humanos, e orientou as vítimas desse tipo de crime a procurem a instituição. Os canais de denúncia são: (71) 9 8764-4606 ou o e-mail [email protected]. As queixas podem ser formalizadas também nas páginas do Facebook ou do Instagram da comissão. Secretário da Segurança, Maurício Barbosa, recebe Leno na SSP (Foto: Camila Souza/GOVBA) Comunidade Apesar de os policiais terem se desculpado pelo ocorrido, para o coordenador da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas (INNPD), Dudu Ribeiro, a violência sofrida por Leno não pode ser entendida como um acidente.

“É a reprodução do racismo nas forças de segurança. Existe um modus operandi no tratamento com o negro que é o mesmo que nos violenta nos hospitais, nas universidades e em outras instâncias. Aconteceu porque o sujeito é negro, porque nossos corpos são alvejados antes de haver a comprovação de crime ou de contravenção penal”, disse. 

Ele contou que a agressão sofrida pelo ator fere todos os negros. Para o militante, além de trabalhar a subjetividade das pessoas é preciso que as políticas de segurança pública sejam repensadas. Ele contou que a Iniciativa é solidária ao ator e está disposta a apoiar qualquer ação de enfrentamento ao preconceito.

Repercussão  O ator e ex-integrante do Bando de Teatro Olodum Lázaro Ramos compartilhou nas redes sociais o manifesto divulgado pelo grupo sobre o caso, com a mensagem ‘Me deem licença para colocar um pouco aqui a voz do Bando De Teatro Olodum, meu grupo de teatro. Diante de todo o ocorrido, compartilho com vocês’. As postagens geraram comentários dos leitores em apoio à vítima.

O presidente de honra do Instituto Steve Biko e vereador pelo PSB, Silvio Humberto, também se manifestou nas redes sociais, e disse estar sentido total indignação com a violência sofrida por Leno Sacramento.

“Precisamos nos levantar contra isso. Não podemos aceitar que sejamos confundidos sempre com o que há de pior. Não podemos aceitar que continuemos sendo alvejados pelo preconceito desse Estado racista, que nos mata indistintamente. Dessa vez a vítima sobreviveu ao ataque. Mas esta não tem sido a máxima. Nossa total solidariedade ao nosso parceiro e amigo Leno”, disse.

Casos O termo ‘racismo institucional’ virou notícia outras duas vezes nas últimas semanas. Na segunda-feira (11), um menino de 12 anos foi impedido por um segurança do Shopping da Bahia de comer na praça de alimentação.  A confusão começou quando um cliente resolveu pagar o almoço do adolescente e foi abordado pelo funcionário.

Uma semana antes, a ação truculenta de policiais ganhou o noticiário nacional e internacional. Na ação, um usuário de drogas e uma mulher grávida foram agredidos com tapas e socos por policiais militares. A mulher foi puxada pelos cabelos. Nos dois casos, o funcionário e servidores envolvidos foram afastados.