Ocupado por sem-teto, antigo Couto Maia tem fornecimento de energia suspenso

Cerca de 100 famílias estão no local desde o dia 30

Publicado em 11 de dezembro de 2019 às 09:54

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Hortélio/CORREIO

Mais de cem famílias que ocupam desde o dia 30 de novembro o prédio do antigo Hospital Couto Maia, no bairro de Monte Serrat, ficaram sem energia elétrica nesta quarta-feira (11). 

A Coelba informou, em nota, que por solicitação da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) suspendeu, na manhã de hoje, o fornecimento de energia do antigo hospital. "A solicitação do desligamento pelo titular da unidade consumidora está prevista na Resolução 414 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)", disse a companhia.

Por volta das 19h de terça-feira (10), policiais militares e técnicos da Coelba e da Embasa estiveram na ocupação ‘Maria Felipa de Oliveira’ para suspender o fornecimento de energia elétrica do local, de acordo com o coordenador nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Victor Aicau. 

As famílias informaram que conversaram com os agentes até cerca de 1h da madrugada para impedir a suspensão, mas a ação foi efetivada na manhã desta quarta. Aicau disse que os agentes chegaram ao local por volta das 6h. 

A água também já foi cortada. A Embasa informou que realizou, na terça-feira (10), a suspensão do fornecimento de água do imóvel do antigo Hospital Couto Maia a pedido do governo do estado. Ocupantes do prédio do antigo hospital Couto Maia (Marina Hortélio/CORREIO) De acordo com o coordenador municipal do MLB, Filipe Bacelar, os policiais retornaram na manhã de hoje e agiram com truculência. “A polícia chega aqui com truculência. Com arma para fora como se fôssemos vagabundos”, contou.

Em nota, a Polícia Militar negou ter agido com truculência na manhã desta quarta e afirmou que os agentes foram acionados pela Coelba que estaria impedida de cortar o fornecimento de energia pelos ocupantes do local. De acordo com Aicau, os moradores fizeram um cordão humano ao redor do poste para impedir que a luz fosse cortada.

O coordenador municipal do MLB afirma que o major Elsimar Leão, comandante  da Companhia Independente de Policiamento Tático - RONDESP BTS, disse que, além de cortar a luz, iria acionar o Conselho Tutelar para recolher as 54 crianças que estão no local.

Parte das famílias que vieram para o antigo hospital tiveram que sair de casa com as fortes chuvas do dia 26 de novembro. "Aqui é um prédio público e não tinha função. Demos função pública para o hospital. As pessoas perderam tudo e não tem moradia”, afirmou Bacelar.Agora, os ocupantes do local junto com o MLB desejam acionar o Ministério Público para conseguir uma via de diálogo com o governo.

Ocupação do hospital Uma das ocupantes do local, Glasiele Santana, 25, foi para o local após ter a casa destruída pela força da chuva. “O teto da minha casa de madeirite teto caiu. Ninguém da minha família tem para onde ir. Achamos uma oportunidade para ficar aqui”, disse.

Com a suspensão da água e da luz, Glasiele afirmou estar com medo do que pode acontecer quando anoitecer. “A gente vai botar vela para tentar ficar aqui porque não temos para onde ir”, ressaltou. Glasiele Santana perdeu a casa com as fortes chuvas do final de novembro (Marina Hortélio/CORREIO) O coordenador nacional do MLB contou que há uma pressão para que a ocupação do antigo hospital acabe sob a alegação de que o local ainda está contaminado. Entretanto, Aicau afirma que o local é seguro e que médicos da Universidade Federal da Bahia já vistoriam o local.

“A gente também pega doença quando tá na rua e morando debaixo da ponte. Essa mesma preocupação de não pegar doença, deveria existir com quem mora na rua”, disse. O hospital era um centro de referência no tratamento de doenças infectocontagiosas na Bahia.

Wanusia Gomes, 60, mora em frente ao prédio do antigo Couto Maia e uma das suas preocupações é pela possibilidade de contaminação de quem está ocupando o local. Ela acredita que o governo tem que agir de forma mais eficaz para dar apoio para as pessoas sem condições de ter uma casa segura.

A vizinha da ocupação não viu muito movimento no local na noite de ontem. Outra moradora do local que não quis se identificar afirmou ter visto cerca de 10 viaturas em frente ao hospital nesta manhã. “O policiamento veio dar cobertura às pessoas da Coelba. Como eles iriam se meter nessa multidão?”, disse.

Ambas afirmam ter uma convivência tranquila com a ocupação. Para a moradora que preferiu não se identificar, as pessoas que estão ocupando o prédio estão certas em lutar por seus direitos.

Segundo Aicau, o hospital foi o local escolhido para a ocupação como uma forma de atentar a sociedade e o governo do déficit habitacional de Salvador. Além disso, o movimento também deseja chamar atenção para o descaso com a saúde e a população de quem mora na região do hospital fechado. “Na região, não tem hospital para todos”, afirmou.

Movimento Com faixas penduradas no prédio do antigo Hospital, que está abandonado há dois anos, a ocupação é feita pelo Movimento de Luta, nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Os militantes batizam a ocupação de 'Maria Felipa de Oliveira'. Em nota divulgada na página do Facebook do Movimento, os manifestantes se apresentam como Ocupação Maria Felipa de Oliveira, em homenagem a mulher negra que liderou a expulsão total das tropas portuguesas da Bahia em 1823.

Em abril deste ano, a Sesab havia informado que no local seria instalada uma nova unidade voltada para pacientes que precisam de cuidados paliativos e as obras começariam no segundo semestre deste ano. A previsão era de durasse até seis meses, com investimento de R$ 10 milhões. 

Quando começou a ocupação, a Sesab enviou uma nota na qual informa que está adotando medidas legais sobre a ocupação.

Relembre nota, na íntegra: "O prédio onde funcionava o Hospital Couto Maia, no bairro do Monte Serrat, foi ocupado nesta madrugada por integrantes do Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas. Diante do ocorrido, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) está adotando as medidas legais cabíveis para que as pessoas possam sair da unidade de forma pacífica, sem nenhum dano para o equipamento e com segurança para as pessoas que estão no local. A Sesab destaca que uma licitação, que será publicada em janeiro, está sendo construída para a reforma  e ampliação do Hospital Couto Maia, que será transformado em um hospital de cuidados paliativos e centro de referência estadual para cuidados paliativos, incluindo o Programa Ambulatorial Amor sem Fim, e a política de gerenciamento de cuidados paliativos dos hospitais do estado."

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier