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Armando Avena
Publicado em 25 de maio de 2018 às 05:02
- Atualizado há um ano
Dizem que a vida é o que acontece com a gente, quando estamos fazendo outros planos. Pois é, com a economia é a mesma coisa: nem tudo sai segundo o planejado. A economia brasileira não vai crescer 3% em 2018, como estava previsto, e o mais provável é que esse crescimento fique entre 2% e 2,5%. Não é um resultado ruim, afinal estamos saindo de uma recessão que fez o PIB cair cerca de 7%, no biênio 2015/2016. Mas, após crescer quase 1% no ano passado, se esperava mais para este ano.
A reação da economia brasileira em 2017 veio através do consumo das famílias, que cresceu por conta da queda da inflação e da injeção de R$ 44 bilhões vindos das contas inativas do FGTS que foram liberados pelo governo. Ao mesmo tempo, a queda na taxa de juros indicava que o acesso ao crédito iria retomar com força e uma tímida recuperação do mercado de trabalho elevava os índices de confiança, indicando que a economia deveria voltar a crescer com força. Infelizmente, não foi o que aconteceu e o consumo das famílias voltou a cair no primeiro trimestre de 2018.
Quatro fatores contribuíram para isso. O primeiro foi o crédito que continuou caro, pois a queda da Selic não foi repassada para o consumidor, sendo apropriada pelos bancos. A taxa básica de juros da economia caiu pela metade, de 14,25% em outubro de 2016 para 6,5%, em 2018, mas os juros cobrados pelos bancos a pessoas físicas e empresas recuaram menos de 20%. A taxa média de empréstimos no Brasil é de 40% ao ano – patamar absurdo e bem mais alto do que antes da recessão – e uma taxa dessas desestimula o consumo e o investimento. O segundo fator que freou a economia foi a constatação de que a recuperação no emprego se deu de forma lenta e foi sustentada por aumento no trabalho por conta própria e sem carteira assinada, o que não dá segurança ao trabalhador para que ele volte a consumir. Para completar, o mercado percebeu, a partir de março, uma mudança no cenário internacional, com o aumento no preço do petróleo, a perspectiva de aumento dos juros americanos e a fuga de dólares para aproveitar a taxa de juros mais alta e a segurança dos EUA.
Tudo isso levou ao aumento da cotação do dólar no Brasil, com os efeitos daí decorrentes. Como se não bastasse, um quarto fator paira sob a cabeça dos brasileiros – a incerteza quanto ao futuro político do país que inibe qualquer arroubo no sentido de aumentar o consumo ou ampliar os investimentos. Apesar disso, é preciso destacar que os fundamentos da economia permanecem alinhados – com a notável exceção da questão fiscal que precisa ser resolvida – o que significa que o país pode crescer com mais consistência, especialmente nos dois últimos trimestres do ano.
Ônibus: que prejuízo é esse?
A greve acabou, mas é preciso avaliar as planilhas de custo das empresas de ônibus. Três empresas de ônibus de Salvador, por exemplo, todas pertencentes ao sistema Integra – Associação das Empresas de Transportes de Salvador afirmam que estão dando prejuízo há 4 anos, mas mesmo assim continuam operando. Não se sabe como uma empresa que registra prejuízos anuais superiores a R$ 20 milhões continua operando. O que se sabe é que a Plataforma Transportes teve um prejuízo declarado de R$ 100 milhões entre setembro de 2014 e dezembro de 2017, enquanto a CSN – Transportes Urbanos registrou prejuízo ainda maior, de R$ 174,3 milhões no mesmo período. Foto: Arquivo CORREIO Já a Ótima Transportes declarou um prejuízo de quase R$ 60 milhões. As informações estão nos balanços publicados por essas empresas nos jornais, embora as notas explicativas que deveriam justificar a razão dos prejuízos não tenham sido publicadas. É preciso saber como essas empresas estão cobrindo o prejuízo, se através de recursos próprios, empréstimos, ajuda do poder público ou venda de patrimônio – o que não parece razoável, já que o maior patrimônio dessas empresas são os próprios ônibus e eles continuam rodando. Assim, é preciso abrir os balanços e as planilhas de custos dessas empresas para que seja possível avaliar o sistema e suas deficiências.
Aumento do ICMS
O desempenho da arrecadação de ICMS do governo do estado este ano é digna de registro. Entre janeiro a abril de 2018, a arrecadação de ICMS atingiu R$ 7,2 bilhões,um crescimento real de 4,2%, em relação ao ano anterior. E isso com a economia patinando e a Refinaria Landulpho Alves trabalhando a meia carga. O desempenho vem permitindo ao estado manter os níveis de investimentos que estão entre os maiores do país, num momento em que muitos estados lutam para pagar o funcionalismo. Os dados são do IAF – Instituto dos Auditores Fiscais da Bahia.
Lincoln no limbo
Na tarde de 20 de fevereiro de 1862, em plena guerra civil americana, o presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, sepultou o corpo do seu filho, Willie, que morreu de febre tifoide aos 11 anos, em uma capela funerária no cemitério de Oak Ridge, em Springfield. À noite, Lincoln saiu sozinho de casa, voltou ao cemitério, pegou as chaves da capela funerária e entrou. Abriu o caixão do filho, retirou seu corpo e ficou abraçado a ele durante um longo tempo. Voltou lá ainda uma vez ou duas e só então retomou o comando da guerra que havia se tornado sangrenta. Esse episódio da biografia de Lincoln é o tema de um livro surpreendente do escritor americano George Saunders, intitulado Lincoln no Limbo, lançado no final do ano passado e que recebeu o prestigioso Man Booker Prize.
A surpresa está nos narradores que são os mortos que vivem no cemitério e que ainda não acreditam que estão mortos. A história é contada em parágrafos curtos e relatos da época, sem grandes arroubos de linguagem, mas que se lê de um fôlego só, algo muito apropriado a esses tempos em que tudo deve ser registrado em 140 linhas.
Os mortos passeiam pelos romances há muito tempo e não há como não lembrar da revolta dos cadáveres em Incidente em Antares de Érico Veríssimo. Mas Lincoln no Limbo tem uma originalidade muito própria e de quebra lembra os tempos terríveis da Guerra de Secessão americana.
Os aumentos na gasolina
A política da Petrobras de reajustar gasolina e diesel sempre que os preços do petróleo subirem no mercado internacional é correta, mas isso não é motivo para a gasolina no Brasil ser uma das mais caras do mundo. A explicação são os impostos e, efetivamente, sua redução deve ser adotada, como propôs o governo e o Congresso, mas outras medidas podem ser tomadas. Uma delas é fazer com que o preço do diesel, que move o país, tenha aumentos menores, que seriam compensados com aumentos maiores na gasolina. E, ao mesmo tempo, o governo deveria estimular a produção do etanol, combustível que não depende do mercado internacional, e que foi criado para fazer contraponto a gasolina. Deveria também estimular a competição já que hoje as distribuidoras monopolizam a venda de etanol. Ou seja, muita coisa pode ser feita, só não se pode jogar a redução do preço da gasolina e do diesel nas costas da Petrobras.