Ônibus vão circular normalmente nesta sexta-feira (26), garante sindicato

Categoria e patrões se reúnem no dia 2 de maio para tentar acordo; greve não está descartada

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 25 de abril de 2019 às 20:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Os ônibus circularão normalmente nesta sexta-feira (26), em Salvador. Quem garante é o Sindicato dos Rodoviários da Bahia (Sindirodoviários), que prometeu ainda que a frota sairá sem atrasos e com todos os coletivos à disposição.

A dúvida tomou conta da população após a categoria realizar uma paralisação de cerca de 5 horas nesta quinta (25), por causa de uma falta de acordo com os donos das empresas quanto ao reajuste salarial. A data-base para o reajuste é no dia 1º de maio e, enquanto a categoria pede 8%, o sindicato patronal oferece 2,7% - proposta que já foi descartada pelos trabalhadores.

Caso pretendam fazer uma greve diante de um não-acordo, é necessário que os rodoviários estabeleçam o chamado estado de greve com, no mínimo, 48h antes da paralisação definitiva. Fábio Primo, vice-presidente do Sindirodoviários, afirmou que “não existe data estabelecida para que esse estado seja decretado e a greve só deve acontecer caso não exista nenhum consenso entre patrões e empregados”.

Desta forma, em razão da atual impossibilidade de acordo entre patrões e empregados, a Superintendência Regional do Trabalho (SRT-BA) e o Ministério Público do Trabalho (MPT-BA), que até então não tinham sido convocados para intervir na situação, vão reunir as duas categorias no dia 2 de maio, às 14h.

A informação foi confirmada pela SRT e, também, pelo Diretor de Relações de Trabalho da Integra, consórcio das empresas de transporte de Salvador, Jorge Castro. Segundo ele, “como já existe essa reunião marcada, até a semana que vem os empresários devem refletir sobre as propostas dos rodoviários. Não existe nem sim nem não em relação a números e propostas”.

Na tarde desta quinta-feira (25), os rodoviários fizeram uma manifestação que saiu da quadra de esportes dos bancários, na Ladeira dos Aflitos, e seguiu até o vale dos Barris, na altura da sede da Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador). No trajeto, eles reforçaram o que já tinha sido discutido em reunião que aconteceu horas antes. “Não vamos aceitar o reajuste de 2,7%”, decretou Hélio Ferreira, presidente do Sindicato da categoria (Sindirodoviários).

“As negociações continuam travadas e o que a gente espera é que os empresários ofereçam uma proposta digna à categoria. O que estamos pedindo não é nada além de nosso direito - um reajuste acima da inflação somado ao ganho real de trabalho”, completou Hélio Ferreira.  Rodoviários fizeram protesto nesta tarde (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Greve não está descartada Quanto à possibilidade de greve, o presidente do Sindirodoviários foi categórico. “Todo esse trabalho que estamos fazendo é para que, em caso de não haver a acordo, a categoria já esteja preparada para uma greve por tempo indeterminado. Devemos realizar novas assembleias e passeatas até que cheguemos a uma greve, que não é o que nós queremos, claro”, declarou.

O diretor de imprensa do Sindicato dos Rodoviários, Daniel Mota, destacou também que, além de rejeitar a proposta da categoria, os patrões apresentaram uma contraproposta que retira direitos dos trabalhadores. “Eles querem um reajuste mínimo, de 2,7%, com a condição de tomar da gente um domingo e aplicar o banco de horas. Nosso pedido é de 8%, o que é justo”, reclamou.

Quem acompanhou a manifestação da tarde desta quinta foi o motorista Edmilson Conceição, 54 anos, e que há 27 atua na profissão. Para ele, “os patrões deveriam se colocar no lugar do motorista, que estão com salários defasados e têm péssimas condições de trabalho”.

Colega dele, Nilton Ferreira, 52, e há 17 como cobrador em Salvador, concordou. Para ele, "é inaceitável, todos os anos, a categoria ter de paralisar ou fazer greves para conseguir respeito e dignidade”.

O grupo de cerca de 100 rodoviários que participou da passeata ainda alegou que é necessário a renovação da frota, além de instalação de ar-condicionados nos ônibus. “A gente trabalha em péssimas condições e ainda tem de mendigar reajustes dentro da lei”, criticou Carlos Donato, 41, que dirige coletivos há uma década. Categoria se reuniu para cobrar reajuste de 8% (Foto: Marina Silva/CORREIO) Atraso e multa Mais de 600 ônibus de três garagens do Consórcio Integra atrasaram em cinco horas a saída nesta quinta-feira (25). Os locais onde as intervenções dos rodoviários aconteceram foram nas baias Salvador Norte (ônibus azuis), na região do Iguatemi; Plataforma (amarelos), na Avenida Suburbana e OT Trans (verdes), em Pirajá.

De acordo com a Integra, as cores dos ônibus que circulam por Salvador são organizadas de acordo com os bairros pelos quais eles circulam. Os coletivos da empresa Plataforma (cor amarela) vão de São Tomé de Paripe ao Comércio, sendo essa a Área Operacional do Subúrbio, a que mais sofreu com o movimento desta quinta.

Já a empresa OI Trans (cor verde) tem ônibus que circulam na Área Operacional do Miolo, que vai de Mussurunga a Pernambués, incluindo Cajazeiras e Pau da Lima. Por fim, a Salvador Norte (cor azul) vai da Praça da Sé até Itapuã e é chamada de Área Operacional da Orla.

O Subúrbio, além de ter sofrido com o atraso na saída de 260 ônibus, também ficou sem os trens, que funcionam como uma alternativa ao transporte rodoviário. Nesta quinta (25), os equipamentos da região da Calçada até Paripe ficaram de 6h até 7h20 sem operar. Cerca de 10 mil passageiros utilizam por mês os trens, que têm tarifa de R$ 0,50.

A Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB), responsável pelo serviço, informou que duas estações - Coutos e Paripe - ficaram interditadas em razão de uma tubulação da rede de esgoto ter estourado no bairro de Coutos, em frente ao Lar Fabiano de Cristo. Segundo a empresa, o incidente provocou danos na linha férrea.

Mas, o atraso dos ônibus não rendeu prejuízos somente aos passageiros. As empresas OI Trans, Salvador Norte e Plataforma, que formam o consórcio Integra, foram multadas pela Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob). A pasta disse ao CORREIO que foi aplicada multa por cada hora de atraso de cada coletivo, mas não informou o valor das penalidades.

O Diretor de Relações de Trabalho da Integra, Jorge Castro, no entanto, falou que “o consórcio vai recorrer de todas as multas”. Ainda de acordo com ele, “vão ser entregues justificativas sobre os atrasos na saída dos coletivos”.

Mediação O prefeito ACM Neto afirmou, por meio de nota, “que a administração municipal está acompanhando de perto as negociações entre os rodoviários e as empresas de transporte público”. O gestor municipal também destacou que, “embora a Prefeitura não tenha como resolver a questão, vem tentando mediar a situação para evitar mais problemas, a exemplo de uma eventual greve”.

“Nós tivemos que enfrentar (greves) no passado e superamos. Isso faz parte do direito do trabalhador de reivindicar. Nós sabemos qual é o limite hoje do transporte público, a cidade viu o esforço que a prefeitura fez para negociar uma reposição tarifária com contrapartidas para o município e obviamente o ideal é que não haja nenhum movimento paradista”, disse Neto, durante o lançamento do programa Sempre na Comunidade, na Praça Municipal.

O prefeito lamentou os transtornos que aconteceram devido à paralisação dos rodoviários, que atrasaram a saída dos ônibus em quatro horas, na manhã desta quinta. “A gente sabe que a relação dos rodoviários é direta com o empresário, com o empregador, só que isso nunca fez com que a prefeitura se furtasse de tratar do assunto, tirasse o braço da seringa”, completou.

O Ministério Público da Bahia (MP-BA), que ficou à frente do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre Prefeitura e rodoviários sobre o reajuste das passagens, afirmou que, quanto à questão salarial, a competência é apenas do Tribunal Regional do Trabalho e da Superintendência (SRT). “O MP-BA não tratou da data-base da categoria, que é uma questão entre empregados e empregadores”, disse a promotora Rita Tourinho.

* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela