Operação Franciscano cumpre 15 mandados e realiza 1 prisão em flagrante

Três ordens judiciais foram cumpridas no Complexo Penitenciário de Mata Escura, em Salvador

Publicado em 26 de novembro de 2020 às 13:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Vitor Barreto/SSP

Deflagrada na manhã desta nesta quinta-feira (26), a Operação Franciscano já cumpriu 15 mandados de prisão e realizou uma prisão em flagrante. Há seis meses, o trabalho de investigação começou com o foco no tráfico de drogas em São Francisco do Conde e acabou se expandindo para outras cidades com atuação dos grupos, como Salvador.

Das ordens judiciais, doze foram cumpridas na cidade de São Francisco do Conde e as outras três no Complexo Penitenciário de Mata Escura, em Salvador. Quatorze criminosos possuíam mandados de prisão em aberto e eram considerados foragidos da Justiça. O preso em flagrante foi capturado com drogas e munições.

Na ação, um dos foragidos resistiu à prisão entrando em confronto com a polícia e foi atingido. Ele foi socorrido para uma unidade médica, em Candeias, mas não resistiu. Com ele foram apreendidos um revólver calibre 38 e munições.

Os presos devem ser indiciados por tráfico de droga e organização criminosa. Alguns ainda devem responder por lavagem de capital. Ao todo, foram atingidas 16 pessoas na operação. Uma foi presa em flagrante, três detentos foram alvo de mandados, 11 prisões foram realizadas por cumprimento de mandado e uma pessoa com mandado em aberto morreu em conflito durante a ação.

A Operação atingiu o Bonde do Maluco e a Tropa do A, que disputam a pontos de venda de entorpecentes em São Francisco do Conde. Segundo a titular da Coordenação de narcóticos do Departamento De Repressão e Combate Ao Crime Organizado (Draco), delegada Andréa Ribeiro, a área de atuação mais efetiva dos grupos na cidade eram o Caípe de Cima e de Baixo.

No complexo da Mata Escura, foram alvos de mandado de prisão preventiva Jandeson Lima de Santana, o Tio Pinga, liderança da Tropa do A e os integrantes do BDM Antônio Dias de Jesus, o Colorido; e Everton Henrique Paulino, o Galego. A comunicação com os comparsas do lado de fora era feita por meio de ligações.

Colorido está preso desde 2015, mas continuava dando ordens ao tráfico. A Tropa do A é comandada por Fagner Souza da Silva, o Fal, alvo da Operação Ícaro, deflagrada no início do mês. Ele está preso no Conjunto Penal de Lauro de Freitas.

“A investigação aponta que, mesmo no presídio, existia essa conexão com quem estava do lado de fora e nós focamos nisso com o auxílio do Grupo de Segurança Institucional (GSI) da Seap. Essas pessoas já estão presas por outros crimes e vão responder em um novo processo por tráfico de drogas”, afirma Ribeiro.

Segundo o diretor do Draco, delegado Marcelo Sansão, as lideranças foram transferidas da Penitenciária Lemos Brito para o Conjunto Penal Masculino, que também fica no complexo da Mata Escura. “É um presídio mais novo e com um sistema diferente. A situação para eles está mais difícil, ainda mais com as prisões realizadas hoje”, afirmou.

O trabalho não só dificulta a atuação dos que já estão presos, mas também visa desarticular os grupos criminosos e encarcerar as lideranças. De acordo com o diretor do Draco, todas as facções do estado são monitoradas e novas operações vão ter outros grupos como foco.

A coordenadora do Draco aponta que as facções investigada têm braços na capital, pela RMS e em outras cidades, como Feira de Santana.  “Temos um prazo para concluir a investigação e aprofundar mais para obter elementos de prova”, afirmou sobre a outras áreas de atuação das organizações.

Ambas as facções possuem forte atuação em Salvador, inclusive, rivalizam na capital. Segundo o diretor do Draco, o Bonde do Maluco é o maior grupo faccionado da Bahia, com uma presença por toda capital e Região Metropolitana. Já a Tropa do A opera, na capital, com mais força nas áreas da CIPT/CPRC BTS e Central.

Os grupos possuem recursos para a compra de armas e drogas, ressalta Sansão. O BDM ainda atua com crimes contra instituições financeiras.

Drones auxiliaram as equipes na localização de parte dos suspeitos em uma região de mangue. A necessidade do uso de drones foi identificada em uma análise do terreno, que apontou algumas possibilidades de rotas de fuga. 

A Operação Franciscano foi deflagrada pelo Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), através da Coordenação de Narcóticos, em parceria com o COPPM, COE, 10a CIPM, Rondesp RMS, Superintendência de Inteligência (SI) da SSP, Departamento de Polícia Técnica (DPT) e do Grupo de Segurança Institucional (GSI) da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap).

Confronto Sem citar o nome dos grupos, a coordenadora da Draco afirma que uma facção possui mais associados, mas ambos têm um equilíbrio de força na tentativa de dominar o tráfico de drogas em São Francisco do Conde.

O confronto entre as duas facções têm impactado a vida da população de São Francisco do Conde e até cidades vizinhas da Região Metropolitana de Salvador, como Madre de Deus. “A guerra por pontos de venda de tráfico de drogas é sangrenta e acaba trazendo intranquilidade para a comunidade local. Ocorrem mortes, aumenta o número de homicídios. Essa atuação dos grupos gera um efeito dominó na região que precisa ser combatido”, comentou Ribeiro.

O coordenador do LASSOS – Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Luiz Claudio Lourenço, aponta que os moradores das áreas de diputa de facções do tráfico de drogas vivem em meio a um fogo cruzado.

“O risco para a pessoa é diário. No meio dos conflitos entre os grupos, as pessoas tentam encontrar formas de sobreviver no local ou sair dali. As operações também acabam perturbando a vida do morador. Existe toda uma dinâmica violenta associada ao comércio de drogas e isso é agravado com a violência do estado. Nesse campo de batalha, o morador pode ser vitimado”, afirmou.

Uma moradora de Pernambués que não quis se identificar conta como é viver em um local comandado por facções criminosas: "só quem mora nesses lugares sabe o que passa. Muitas vezes, quando tem troca de tiro entre eles ou a polícia entra, a gente chega a precisar ficar deitado no chão com medo de bala perdida. Já tive que pedir para sair mais cedo do trabalho porque tem toque de recolher e, às 18h, ficam colocando áudio nos grupos de Whatsapp, botando terror. Sem contar a parte que não pode ficar no celular na janela quando a polícia entra na janela porque acham que a gente que denunciou”.