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Gil Santos
Publicado em 12 de março de 2020 às 18:58
- Atualizado há 2 anos
Apesar de ser uma das poucas cidades brasileiras onde já foram confirmados três casos do novo coronavirus, doença que matou 4.292 pessoas no mundo até a manhã desta quinta-feira (12), Feira de Santana mantém o ar de tranquilidade. Os moradores ignoram as recomendações dos médicos e alguns até debocham da situação.>
Caminhar pelas ruas do centro de Feira significa esbarrar em pessoas nas calçadas estreitas, nos corredores das barracas de camelô e na multidão que sai dos prédios e lojas na hora do almoço. É nessa região movimentada que trabalha a vendedora Adriana Cardoso, 24 anos. Ela passa a maior parte do dia sentada em um banco de frente para a rua ou de pé atendendo os mais variados tipos de clientes, mas disse estar tranquila.“Oxe! Que corona, menino? Eu ouvi falar da doença, mas isso aí tem todo ano, sempre aparece. Uma época é dengue, depois veio a zika e depois a chikungunya. Teve também a febre amarela. A gente tem que se cuidar para não ficar doente, mas não vejo motivo para fazer alarde. Daqui a pouco passa”, contou.Outras pessoas disseram estar sendo mais cuidadosas, mas não foram menos céticas. Na rua Sales Barbosa, um dos pontos de comércio informal mais forte da cidade, a ambulante Andreia Carvalho, 25, contou que comprou álcool gel apenas por precaução.>
“Não acredito que vai ter um surto. A gente já sabe de alguns casos confirmados na cidade, mas isso vai passar. Os clientes comentam (sobre a doença), mas também não acreditam que vai virar uma epidemia na cidade. Quer dizer, a gente espera que não vire uma epidemia. Comprei álcool gel e deixei aqui na barraca por precaução”, afirmou.>
Ela trabalha em um dos pontos de maior movimento. As barracas ficam próximas umas das outras e em alguns trechos é preciso se apertar para dar passagem para os carros e pedestres mais apressadinhos. O contato entre as pessoas é quase inevitável. Lindinalva Cerqueira, 63, que mora em Feira de Santana há mais de 20 anos, contou que nunca viu um assunto render tanto na cidade.>
“Todo mundo fala disso, mas ninguém está mudando a rotina por conta da doença. Claro que a gente fica assustada, pelo que a gente vê acontecendo pelo mundo, mas também não é para tudo isso. Eu estou lavando as mãos com frequência, mas já fazia isso antes, e também comprei álcool gel. Tenho um parente que mora nos Estados Unidos e ele contou que por lá o pessoal não está indo nem para a escola”, contou.>
Nos restaurantes, o movimento segue normal. Álcool gel apenas no banheiro ou próximo dos alimentos. Na rua, nenhuma pessoa com máscara e todos bem à vontade, cumprimentando com apertos de mãos e abraços. No meio dessa agitação, o idoso Antônio Oliveira, 74, parece ser o único preocupado. Antônio admite preocupação com o coronavírus (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Com passos lentos, ele avançava nesta quinta-feira de barraca em barraca escolhendo quais frutas levar. Interrompeu as compras por alguns minutos e contou que a chegada do Covid-19 na cidade deixou ele em alerta.>
“Sempre tive o hábito de lavar as mãos várias vezes ao dia e nunca gostei de aglomerações, então, essa parte das recomendações eu já faço antes mesmo dos médicos mandarem. Não estou doente, por isso não uso máscaras, mas também estou evitando sair de casa. Essa doença é coisa séria. Ela se espalha rápido. As pessoas ainda não se deram conta do risco”, afirmou.>
A vendedora Alessandra Nascimento, 41, trabalha no Centro de Abastecimento de Feira de Santana, outro local de fluxo intenso de pessoas, e contou que a presença do novo coronavírus na cidade não alterou a rotina dos clientes.>
“Desde que o coronavírus foi confirmado, nada mudou. Os clientes continuam vindo comprar a quantidade de sempre e o movimento é o mesmo. Estou acompanhando as notícias, mas, por enquanto, estou tranquila”, disse.>
Todas as pessoas ouvidas na reportagem disseram ser contra a realização da Micareta de Feira. O evento é um carnaval fora de época que acontece no mês de abril e reúne milhares de pessoas atrás do trio. “Vai ter muita gente junta de uma única vez, no mesmo espaço. O risco de contaminação é grande. Esse é um risco que a gente não precisa correr”, afirmou a moradora Gabriela Pereira.>
Recomendação O secretário estadual da Saúde, Fábio Vilas-Boas, reuniu a imprensa nesta quinta-feira (12) para informar que recomendou que a Micareta de Feira fosse adiada por conta dos três casos confirmados do novo coronavírus na cidade.>
O evento, agendado para acontecer entre os dias 23 e 26 de abril, deve reunir até um milhão de pessoas em todos os dias de festa. Segundo o gestor, o adiamento tem como objetivo evitar que o vírus se espalhe. Apesar da recomendação, a decisão final será da prefeitura de Feira de Santana.>
Em documento enviado ao Ministério Público da Bahia (MP), a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) informou que o novo coronavírus possui capacidade de se decuplicar, ou seja, ele pode multiplicar o total de casos por 10x, a cada sete dias. Até o momento a cidade ainda não começou a montagem dos camarotes e de outras estruturas da festa.>
Nesta quarta (11), a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou situação de pandemia do novo coronavírus. A instituição alertou ainda que o número de casos, mortes e países afetados deve subir nos próximos dias e semanas. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil são 1.427 casos suspeitos e 76 confirmados.>
Médicos recomendam como ações preventivas lavar as mãos diversas vezes ao dia, com água e sabão ou usar álcool gel. Sempre que for tossir ou espirrar é preciso cobrir a boca e o nariz com o braço, caso não tenha um lenço descartável. Para quem está com sintomas de gripe, como tosse e secreções nasais, é recomendado usar máscaras.>