Pacientes de covid-19 com idades entre 0 e 19 anos já são quase 50 mil na Bahia

Número representa 11,4% do total de casos do estado

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 11 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mladen AntonovAFP

Quando o assunto é covid-19, é quase automática a associação com pacientes idosos e portadores de comorbidades, já que eles compõem o chamado grupo de risco. Existe um contingente, no entanto, que apesar de não ser lembrado imediatamente, responde por mais de 10% do total de casos de doençana Bahia. Crianças e jovens até 19 anos já são quase 50 mil pacientes no estado. 

Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), desde que os casos de covid começaram a ser monitorados, ainda em março, e até a última quarta-feira (9), pacientes até 19 somavam 49.307 casos confirmados.Desses, a maioria estava concentrada na faixa etária compreendida entre 10 e 19 anos com 31.680 casos. Crianças de 5 a 9 anos vinham em segundo lugar com   8.178 casos, seguidas das de 1 a 4 anos que representavam 6.589 diagnósticos confirmados. Os bebês menores de um ano completam a lista com 2.860 ocorrências. O total da faixas etárias representa 11,4% do número global do estado. 

Diante dos números, especialistas alertam para a necessidade de lembrar que os mais novos não são imunes ao vírus. “A população como um todo é suscetível à covid, e a infecção acontece em todas as faixas etárias. O que se percebe, no entanto, é que nas primeiras décadas de vida, os casos são mais leves, ou até mesmo uma infecção assintomática", explica Anne Galastri, infectopediatra do Departamento de Infectologia Pediátrica da Sociedade Baiana de Pediatria. 

Os sintomas leves foram justamente o que levaram o estudante Lucas Matos, 19 anos, a entrar para as estatísticas de pacientes infectados. “No início da pandemia eu tava bem despreocupado. Continuei saindo para praticar esportes e mais ou menos em maio tive a covid. Os sintomas foram tão leves que eu inicialmente nem associei que poderia ser. Achei que era uma gripe comum. Mas ai, meu irmão que divide quarto comigo teve sintomas mais pesados e acabamos testando todos em casa. Assim veio a confirmação’, conta. “Foram dias muito tensos em casa. Todo medo que não tive pra cumprir o isolamento eu tive de alguém em casa ter algo mais sério. Graças a deus ficou tudo bem”, relembra o estudante. 

 A falta de atenção dos mais jovens é, inclusive, um fator de preocupação para as autoridades. Em entrevista recente à TV Bahia, o governador Rui Costa chegou a comentar o assunto. “Me preocupa principalmente os jovens, que se consideram mais fortes, e têm baixado a guarda. nosso apelo especial aos jovens, por mais que você se sinta super homem, tem alguém na sua casa que não é super homem”, disse o governador na última terça-feira.. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) também foi procurada para comentar o cenário para a faixa etária mas não respondeu aos questionamentos da reportagem. 

.Apesar da preocupação ser legítima, os médicos explicam que não existe um risco de contágio maior ao se conviver com crianças e jovens que se infectaram. O que não anula o risco por completo. “Esses pacientes até 19 anos tem uma evolução muito benigna. Os estudos mais recentes têm mostrado que, diferente do que se achava no início da pandemia, as crianças não são grandes vetores da doença. Não tem indícios que demonstram que a criança transmite mais do que um adulto contaminado também transmite”, explica Galastri.

Um outro ponto destacado pela médica especialista na faixa etária é o motivo que pode justificar a razão para que os casos em crianças e jovens apresentam casos mais leves da doença. “Um dos fatores que podem explicar é que para entrar nas células o vírus precisa se ligar com uma enzima que é um receptor. Nos primeiros anos de vida é natural que a gente tenha uma menor quantidade desse receptor, então é uma explicação possível, mas não está completamente comprovado”, detalha a médica. 

Casos graves Apesar da maioria dos casos transcorrer de forma leve, existem aqueles que evoluem para um quadro mais grave podendo gerar a chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIMP). Os casos são raros e estudos internacionais mostram que a síndrome acomete cerca de 1% dos pacientes que têm covid entre 0 e 19 anos. Segundo os médicos ainda não existem estudos para determinar essa incidência no Brasil 

Na Bahia, segundo a Sesab, 42 casos da SIMP foram confirmados. Desses, Destes, 25 casos (59,52%) ocorreram em pacientes do sexo masculino e 17 (40,48%) em pacientes do sexo feminino. Em relação à faixa etária, o intervalo de 5 a 9 anos foi o mais acometido, representando 47,62%. Do total, 3 casos evoluíram para óbito.

Assim como a covid-19, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica é uma doença nova já que para ocorrer precisa estar associada a um quadro anterior de infecção pelo novo coronavírus. “Essa síndrome consiste em pacientes que, após alguns dias de infecção pela covid-19 experimentam uma inflamação em todo corpo. Existe um desbalanço entre a resposta imune e a inflamação do corpo, é como se ficasse desenfreada essa resposta imune. Até então, para a síndrome ocorrer, um dos critérios ́é a infecção prévia pela covid-19”, explica Anne Galastri

A especialista detalha, ainda, que nos casos da SIMP o paciente chega a apresentar melhora do quadro comum da covid para depois surgirem sintomas como febre alta e persistente, lesões pelo corpo, conjuntivite, edemas, podendo evoluir para taquicardia e até inflamações no coração ou questões renais. “De um modo geral são pacientes que apresentam sintomas em um espaço de tempo um pouco mais prolongados, são dias de sintomas em uma piora que é progressiva e de forma mais geral. Não é súbito”, explica a médica. 

O medo da SIMP foi justamente o que sentiu a administradora Luana Matos, que acompanhou o filho Marcelo de 5 anos durante a sua recuperação. “Quando começaram a aparecer os sintomas nele foi logo que essa cinform começou a ser divulgada. Eu fiquei logo com medo. No fim foi bem leve com ele e a pediatra ficou acompanhando ele em casa mesmo”, diz a mãe que não tem certeza de como o pequeno acabou doente. “A gente descia com ele para brincar no parquinho do prédio, mas o pai também precisou continuar trabalhando presencialmente, então não tem como saber”, explica. 

Os pais de pessoas da faixa etária focal da doença devem se atentar a mudanças no comportamento dos filhos para que estes sejam tratados rapidamente. Galastri recomenda que os responsáveis mantenham um contato direto com o pediatra que acompanha seu filho e sempre prestem atenção nos sinais de gravidade.

"Existem sinais que apontam para a necessidade de levar o paciente para a emergência. No hospital, será analisado se a criança possui a síndrome. Dentre os sintomas para a ida ao hospital, estão a dificuldade para respirar, a prostração, a ocorrência de convulsão, a desidratação e grandes períodos sem se alimentar ou urinar", aponta a infectopediatra.

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro