Pai de santo é achado morto em Tancredo Neves; família suspeita de 'contrato sexual'

Vítima estava com pés e mãos amarrados na cama da casa onde morava

  • Foto do(a) author(a) Nilson Marinho
  • Nilson Marinho

Publicado em 7 de março de 2019 às 14:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Sem inimigos e sem relato de ameaça, segundo os amigos mais próximos, o pai de santo Francisco Ademilton da Silva, 43 anos, do terreiro Ilê Axé Ibá Jejemin, foi encontrado morto na noite de segunda-feira (4) de Carnaval, no quarto da casa onde morava, no bairro de Tancredo Neves, em Salvador. 

A residência do religioso, que fica na 2ª Travessa Águas Cristalinas, possui três andares e também recebe, no térreo, cerimônias religiosas.

Um filho de santo do terreiro foi quem achou a vítima, já morta. Ele, que preferiu não ter seu nome publicado, contou que Francisco estava deitado na cama de um quarto localizado no segundo andar, com os pés e mãos amarrados e em aparente estado de gigantismo - quando o corpo já apresenta um estado avançado de decomposição. Amigos e filhos de santo acreditam que o crime foi cometido por alguém próximo ao babalorixá.

O corpo de Francisco foi enterrado às 11h desta quinta-feira (7), na capela 4 do Cemitério Bosque da Paz. Ele era natural da cidade de Mauriti, na região sul do Ceará, e morava em Salvador havia 20 anos. Na capital baiana, além de estar à frente do terreiro a Ilê Axé Ibá, trabalhava como coordenador de marcação de consultas no Hospital da Bahia.   O pai de santo Francisco Ademilton da Silva, 41 anos, era natural da cidade de Mauriti no Ceará (Foto: Acervo pessoal) Sumiço O dofono do terreiro - como é chamado o primeiro filho de santo do local -, que foi quem encontrou o corpo, disse que o último contato feito com Francisco foi às 23h da sexta-feira (1°), através do WhatsApp.

Ao CORREIO, ele relatou que, no domingo (3), dois amigos do pai de santo estiveram na casa à procura de Francisco, mas ninguém abriu a porta. A vítima, segunda conta, morava sozinha.

O dofono tentou entrar em contato várias vezes com o pai de santo, sem sucesso. Ao estranhar o sumiço, decidiu ir à residência na segunda (4), por volta das 22h.“Eu liguei para ele várias vezes no domingo. Aí, na segunda, decidi ir até sua casa e entrei. Eu possuo a chave por ser o seu primeiro filho de santo, já nos conhecíamos há 12 anos. Vi duas chaves no chão, como se estivessem jogadas. Fui até o banheiro e chamei o nome dele várias vezes, até encontrá-lo morto no quarto”, detalha.Segundo ele, a casa estava escura, sem aparentes sinais de arrombamento e com as chaves dos portões jogadas na sala de estar. O cenário faz com que os filhos de santo acreditem que um conhecido de Francisco tenha entrado na casa com a permissão dele. “Estava um mau cheiro e eu achei que era um rato, algo assim. Mas, no quarto, encontrei ele em estado de gigantismo, em decomposição. Pés e mãos amarradas para trás”, completou o dofono. Corpo do pai santo foi sepultado na manhã desta quinta-feira (7) no Cemitério Bosque da Paz (Foto: Mauro Akin Nassor / CORREIO) Suspeitas Primo de Francisco, Luiz Paixão, 56, conversou com o CORREIO no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLRN), enquanto aguardava a liberação do corpo, na manhã desta quinta.

Ele relatou que o pai de santo tinha "eventuais encontros com rapazes" e que havia terminado um relacionamento recentemente, mas mantinha contato com outros homens que visitavam sua casa. “Quem fez isso é uma pessoa que o conhecia. Uma maldade muito grande, uma crueldade. Pode ser que alguém tenha feito algum ‘contrato sexual’ com ele e ele não aceitado o valor”, acredita o primo. Durante a cerimônia religiosa uma mãe de santo, que se identificou como sendo a responsável por iniciar Francisco na religião, afirmou que ele contratou uma pessoa para passar quatro dias na sua companhia durante o Carnaval. A Polícia Civil, no entanto, não confirma a informação, nem tem informações sobre motivação e autoria do crime.

O caso, conforme informou a assessoria da Polícia Civil, está sendo investigado pela 2ª Delegacia de Homicídios (DH/Central).  

Lamento A mãe da vítima, a agricultora Maria de Lourdes da Silva, 66, lamentou a morte do filho. Os dois, embora morassem em estados diferentes, mantinham contato diariamente através de redes sociais."Eu ainda estou sem acreditar. Meu filho era tão inteligente, sábio, estudioso. Não acredito que não vou ter a chance de ver o meu filho antes de ser sepultado", lamentou. O caixão onde estava o corpo de Francisco não pôde ser aberto devido ao avançado estado de decomposição. A cerimônia fúnebre contou com o axexê - rito com cantos em iorubá - e orações católicas feita por parentes do pai de santo.   

* Com supervisão da subeditora Fernanda Varela