Painéis pintados em azulejos contam história de 470 anos da Santa Casa da Bahia

Obra de Bel Borba está instalada no muro do Hospital Santa Izabel

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 13 de novembro de 2019 às 08:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/ CORREIO
. por Marina Silva/ CORREIO

Um desafio de manutenção transformado em obra de arte. Para comemorar os 470 anos da Santa Casa da Bahia, o muro externo do Hospital Santa Izabel, em Nazaré, virou tela para mais um trabalho do artista plástico Bel Borba. Os 110 metros de extensão do muro agora abrigam 12 painéis que contam momentos da história da instituição aniversariante.

As obras, entregues à população no último dia 22 de outubro, foram resultado de seis meses de trabalho e pesquisa. Para compor a obra, o artista utilizou a técnica da pintura de porcelana  sobre azulejo esmaltado. Cada um dos painéis mede 5,5m x 2,5m.

O artista, famoso por realizar intervenções em espaços públicos com suas obras, recebeu com carinho o convite. “É uma coisa muito rara e de grande responsabilidade, as pessoas pensam que quanto mais o tempo passa, mais vai ficando fácil, só que na verdade a responsabilidade cresce. Eu nunca tinha feito nada desse tamanho, mas fico à vontade porque os espaços externos e públicos fazem parte da minha história e repertório”, comentou.

No processo criativo, a mistura das histórias do artista com a da própria Santa Casa. “A azulejaria já compõe outras obras do acervo da instituição e a técnica, o estilo e a narrativa que apliquei já fazem parte do meu repertório”, afirma Bel Borba.

Antes de pintar cada mural, Borba visitou diversos espaços de atuação da instituição e teve algumas reuniões internas. “Pintei com total e completa liberdade para que minha abordagem não parecesse institucional e estivesse sincronizada com a minha narrativa e linguagem”, disse ele.

Quebra-cabeça A operação para montar painéis de quase 14m² foi dividida em etapas. Diferente do próprio hospital, que se modernizou com o uso de tecnologia - o que inclusive é um dos pontos tratados nas ilustrações -, a obra de arte nasceu de um processo manual. “Cortei e queimei cada uma das pedras em casa, eu mesmo, pintei com tinta e pincel, sem nada tecnológico”, conta Borba.

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Até chegar às paredes, que foram preparadas para receber as obras, as peças passaram por algumas etapas. As imagens são montadas e pintadas com peças numeradas. Com o processo de pintura concluído, as imagens eram montadas para conferência. Não havendo erros na numeração das pedras, ou nenhum pedaço que precisasse de retoques, os azulejos estavam prontos para serem colados. “É como montar um grande quebra-cabeça”, explica o artista.

Prontos, os painéis já estão virando assunto entre quem passa pelos muros do hospital todos os dias. “Agora tá mais limpo, e tá bonito, interessante, tá bem cuidado, sabe?”, elogia o taxista Valdeque Gomes, 59, que há cinco anos faz ponto em frente à unidade de saúde. “É a primeira vez que vejo uma obra dessa surgir e achei muito interessante”, conta.

Presente Feita para comemorar o aniversário da Santa Casa, a obra acaba se tornando um presente para Salvador. “Ficamos todos muito felizes, é  um trabalho de qualidade, valorizou o muro e é um presente pra Salvador e para os turistas que agora têm mais uma obra para visitar”, avalia o provedor da Santa Casa da Bahia, Roberto Sá Menezes.    Roberto conta que manter o muro limpo e bem cuidado sempre foi um desafio para a casa. “É um muro muito grande, que já sofreu com vandalização, e a gente sempre pensou em ideias do que fazer com ele, até chegar nessa ideia do convite a um artista que já tem vários trabalhos pela cidade”, explica.

Para o provedor, cada um dos pedaços é igualmente especial por traduzir pontos importantes da história e da atuação da instituição. “São painéis que mostram nossa origem e vão até o dia de hoje, com o uso da tecnologia. E traduzem o trabalho humanizado e de acolhimento que fazemos. É uma obra interessante porque é possível ter mais de uma interpretação de cada cena. Então, as pessoas participam e interpretam cada uma a seu modo”, opina. 

Por ser um prédio tombado, a instalação da obra precisou passar por uma avaliação e aprovação do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), que, além de aprovar o projeto tecnicamente, elogiou a iniciativa. “A obra é uma forma de resgatar e valorizar a história desse edifício que é tão emblemático para a história de Salvador”, disse o Ipac, em nota.  

* Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier