Pandemia pode criar um apagão nas profissões

Representantes de universidades privadas revelam como a crise pode impactar no futuro das carreiras no Brasil

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 2 de novembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/Reprodução

Desde 2015, as Instituições do Ensino Superior no Brasil estão enfrentando os reflexos da falta de financiamento dos programas governamentais e, consequentemente, a queda na arrecadação. Em 2020, a pandemia e a suspensão das aulas presenciais geraram uma crise sem precedentes, que forçaram os estabelecimentos a mudarem uma tradição de quase 500 anos, quando as aulas deixaram de adotar o modelo presencial, instituído pelos jesuítas, para o ensino remoto, mediado por computador.

De acordo com o Associação Baiana de Mantenedoras do Ensino Superior (Abames), embora ainda não haja a conclusão do levantamento feito, a pandemia gerou um impacto negativo em 25% dessas instituições. “Um levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas mostrou que, no país, a cada mês, cerca de 10 instituições pedem encerram suas atividades, seja por fusão com grandes conglomerados de educação ou venda”, afirma o presidente da Abames, Carlos Joel Pereira. Ele salienta que, mesmo com a prática comum de descontos e financiamento próprios, as iniciativas não conseguem fazer frente à redução de programas como  Prouni. 

Para Joel, tão preocupante quanto a situação das instituições é a situação do País à médio e longo prazo, no que diz respeito à formação de futuros profissionais. “Sem os incentivos necessários para a formação de mão de obra qualificada, o país pagará caro por um apagão profissional nos próximos anos”, ressalta, especialmente em áreas que não gozam de tanto prestígio social, mas que são fundamentais para o crescimento social e econômico da nação. 

Para ilustrar sua afirmativa e preocupação, ele salienta que cursos nas áreas de tecnologia da informação ou até mesmo as engenharias sempre ofertam boas possibilidades de ingresso no mercado profissional, mas faltam interessados nessa formação, fato quer impactará nas atividades industriais no futuro, por exemplo. 

O representante da Abames, inclusive, diz que a maior dificuldade enfrentada esse ano não foi a adaptação das aulas remotas, que conseguiu ser incorporada pela maioria das instituições e realizada por grande parte dos professores, mas conter a evasão que ocorreu de forma inevitável, especialmente, depois que muitas famílias tiveram suas rendas reduzidas. 

Investimento na educação

A Unijorge, por exemplo, conseguiu conter a evasão usando uma série de ações combinadas.  O diretor geral Nedio Junior revela que a adaptação ao modelo remoto não foi difícil, pois desde 2006, os recursos tecnológicos eram usados como suporte para as aulas presenciais. “Estávamos bem preparados para essa demanda online e disponibilizamos os instrumentos necessários para atuar no modelo de virtualização implementado. A instituição investiu fortemente em tecnologia, não só para dar robustez à realização das aulas virtuais de todos os cursos, mas também para prosseguir com o atendimento aos alunos, bem como com as rotinas administrativas”, conta. 

Para tanto, a instituição investiu para que as turmas presenciais passassem a ter aulas online, com os mesmos professores, com as mesmas disciplinas e nos mesmos horários das suas aulas habituais. “Além das aulas, mesmo no ambiente virtual, nossos alunos continuaram vivendo outras experiências como palestras, lives, webinar, meeting, seminários e grandes eventos acadêmicos, que sempre aconteceram no presencial, esse ano foi todo adaptado para o virtual”, afirma, destacando a mostra de Projetos, que aconteceu no mês de julho, e do Interculte, em outubro. 

Durante o período, a Instituição buscou soluções inovadoras que servissem à comunidade. “Temos cerca de 20 projetos de atendimento gratuito e virtual, de diversas áreas, como: Direito, Psicologia, Serviço Social, Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Arquitetura, Finanças, Engenharia e outros, com participação tanto do corpo docente, como dos alunos. Todos os esforços da instituição em promover o conhecimento como ferramenta de transformação da sociedade, tem dado a Unijorge um reconhecimento de instituição mais lembrada, sendo Top of Mind por 12 anos consecutivos”, completa.

O diretor acredita que essas iniciativas impediram que houvesse aumento na taxa de evasão dos alunos. “Os professores foram mantidos e não tivemos mudança no comportamento de início de semestres, onde são mantidos os professores com carga horária prevista para atender às disciplinas disponibilizadas para cada um dos cursos. As vagas dos cursos também foram mantidas”, afirma. 

Experiência em EAD

Na contramão das instituições, a FAEL conseguiu ampliar a base de alunos. Para isso, o diretor de marketing Jefferson Francisco da Silva relata isso ocorreu porque a instituição é a primeira e maior faculdade 100% online do Brasil, o que mostra expertise no mercado acadêmico EaD antes da quarentena exigir aulas a distância; e investimento em mais cursos, inclusive a Pós-Graduação em “Educação a Distância 4.0”,  que ajudou a capacitar milhares de docentes em todo o Brasil, para que pudessem se adaptar à nova realidade educacional em tempos de pandemia. 

Ele conta que os docentes ainda estão recebendo treinamentos com o intuito de prepará-los ainda mais para o atual cenário educacional, que está em constante mudança e exige dos profissionais constante atualização. “Conseguimos crescer nossa base de alunos, aumentar o portfólio de cursos oferecidos e, também, aprimorar a excelência do serviço prestado. No primeiro semestre, nós registramos um crescimento de 22% de matrículas nos cursos de Graduação, em relação ao mesmo período do ano passado”, garante.

No total, a FAEL conta com mais de 67.000 alunos matriculados em Graduação e mais de 23.000 em Pós-Graduação. Apenas na região Nordeste, são 44 pólos com 7.453 alunos. O estado com maior número de pólos e estudantes é a Bahia, que conta com 17 unidades e 3.243 acadêmicos. “A cada dia mais o mercado irá exigir o conhecimento necessário para dar aulas EaD, e esta formação auxilia nesta adaptação”, complementa.

Os números alcançados também resultam do reflexo das inúmeras formas de facilitar o pagamento do aluno, com a oferta de bolsas de desconto. A própria faculdade possui um programa de bolsas, o PROFAEL, que oferta até  45% de desconto nas mensalidades. Esta bolsa é oferecida pelo próprio Polo FAEL, em processo normal de ingresso. “Alunos FAEL também tem direito ao Desconto Pontualidade, que oferece um percentual de desconto para pagamentos da mensalidade em datas antecipadas durante o mês”, relata Francisco da Silva, destacando que a FAEL possui parceria com os programas Educa Mais Brasil, Quero Bolsa, e PROUNI. “Todos estes programas consistem em bolsas que trazem descontos para as mensalidades. A FAEL não possui programas de financiamento”, diz.

Realidade nova

O diretor regional da Kroton, detentora da marca Unime, Joell Oliveira Gomes salienta que a pandemia trouxe ao mundo um desafio complexo, onde foi necessário se reinventar para manter a oferta de ensino de qualidade em um novo contexto de isolamento social. “Nesta linha, rapidamente nos adequamos a nova realidade e estabelecemos um processo adaptado para a oferta de 100% de nossas aulas teórico-cognitivas, sem haver assim a necessidade de atraso no calendário acadêmico institucional”, afirma, garantindo que a instituição retomou todas as atividades de internato e estágios de saúde, que ocorrem com estágios parceiros. “A Unime, atualmente, possui convênio com as principais instituições de saúde do estado e conseguiu com agilidade retomar as atividades mencionadas. Já as aulas práticas, que necessitam do uso de nossos laboratórios, foram acumuladas, e serão integralmente reposta tão logo seja liberado pelos órgãos sanitários”, garante.  Joell Gomes salienta como a pandemia terminou por impulsionar a modalidade de ensino em EAD no Brasil como um todo (Foto: Divulgação) Gomes salienta que como foi possível a adequação ao novo cenário, não houve redução de carga horária ou de professores, pois a principal mudança no modelo foi a forma como o conteúdo foi transmitido, do presencial para o ensino à distância. “A difusão de conhecimento ocorreu plenamente, não sendo coerente desta forma qualquer corte ou redução de professores. Sobre as vagas, também não houve qualquer alteração, pois a Unime está altamente preparada para continuar a oferta de Ensino Superior”, completa. 

Para o representante da Kroton,  um dos grandes legados que a pandemia trouxe para a área da educação é a valorização do EAD, que cresce ano a ano. “Seguindo essa tendência, a Unime teve um aumento na procura de cursos nas modalidades semi- presenciais e EAD (Ensino à Distância). No semi-presencial os estudantes contam com uma carga horária dividida entre teórica, que é realizada de forma online, e aulas práticas presenciais, que são em laboratórios com uma alta estrutura e tecnologia. Vale ressaltar que os cursos em ambas modalidades são autorizados pelo MEC”, finaliza.

Cursos mais buscados

1    MEDICINA      2    ODONTOLOGIA      3    DIREITO      4    MEDICINA VETERINARIA      5    FISIOTERAPIA      6    ARQUITETURA E URBANISMO      7    PSICOLOGIA      8    NUTRICAO      9    ENGENHARIA CIVIL      10    ENFERMAGEM