Paraisópolis: Doria nega culpa da PM; policiais serão 'preservados'

Frequentadores do baile negam que tenha ocorrido tiroteio e dizem que os policiais entraram na favela com o objetivo de dispersar

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  • Da Redação

Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 15:55

- Atualizado há um ano

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O governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), negou que as nove mortes que aconteceram ontem em Paraisópolis, na zona sul da capital, tenham sido causadas pela ação da Polícia Militar (PM).

Em entrevista coletiva concedida nesta segunda-feira (2), Doria disse que as mortes não foram provocada pela PM e que não houve invasão ao baile funk. Ele, no entanto, destacou que pode reavaliar e rever pontos específicos e penalizar quem cometeu erros, mas que manterá a política de segurança pública de São Paulo.

A versão apresentada por Doria é a mesma da polícia: PMs reagiram a um ataque de dois criminosos que estavam em uma moto atirando. No entanto, frequentadores do baile negam que tenha ocorrido tiroteio e afirmam que os policiais militares entraram na favela com o objetivo de fazer a dispersão em virtude do barulho, não porque havia criminosos fugindo em meio aos jovens."A letalidade não foi provocada pela PM, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo baile funk. É preciso ter muito cuidado para não inverter o processo", disse Doria.Doria declarou ainda que o estado São Paulo "tem o melhor sistema de segurança preventiva", mas "isso não significa que não seja infalível".

Conforme o portal Uol, vídeos publicados por moradores e já entregues à corregedoria mostram PMs encurralando e agredindo jovens numa viela estreita desmentem a versão de que a PM não contribuiu para as mortes.

Em entrevista à TV Globo, um morador da favela que pediu para não ser identificado por temer represálias, disse que, além de agredir os frequentadores do baile, a PM impediu moradores de prestar auxílio a pessoas que fugiam da violenta ação policial.

"Não houve ação da polícia nem utilização de arma [de fogo] nem em relação a invadir a área onde o baile estava acontecendo, tanto é fato que o baile continuou. Não deveria sequer ter ocorrido. Ele é ilegal, fere a legislação municipal. Tanto é fato que prosseguiu."

De acordo com o governador, que prestou solidariedade às famílias dos jovens mortos, a PM vai agir de acordo com o protocolo de segurança pública.

"Não houve nenhum tiro de policiais em qualquer momento. O comportamento, atitude, posicionamento da Polícia Militar continuará dentro do protocolo, dentro dos programas de segurança pública estabelecidos desde o começo da nossa gestão. O que não nos desobriga de reavaliar e rever pontos específicos, onde falhas possam ter acontecido e penalizar, se as circunstâncias assim determinarem, quem cometeu erros."

Já o comandante geral da Polícia Militar, coronel Salles, afirmou que os policiais que estiveram em Paraisópolis não estão afastados, mas, sim, "preservados"."Os policiais não estão afastados, estão preservados. Temos que concluir o inquérito. Não haverá como condená-los antes do devido processo legal. Seguirão em serviços administrativos, no horário deles, fazendo outras coisas", disse."É uma área complexa de trabalhar e, havendo outro evento parecido, eles poderão ser prejudicados. Estão sendo preservados. Eventos onde há morte, eles são submetidos a um trabalho de preservação, com psicólogos, análise médica. Inclusive para dar tranquilidade para apurar com inquérito, não haja ameaças a testemunhas. Eles são retirados, preservados no batalhão. Não usaria o termo afastado", afirmou. (Foto: Reprodução/Uol) Coronel Salles também falou sobre os vídeos que mostram policiais agredindo pessoas que supostamente estavam no baile funk. De acordo com o comandante, que afirma que tudo será apurado "com uma lupa", é preciso ter investigar se as imagens são mesmo de ontem.

"Há vários vídeos circulando. Um dos vídeos não há som de música, você ouve cães latindo. Apesar de gravíssimos, que serão apurados com uma lupa porque não compactuamos com erro. Aquele específico não há cassetete, imagens ruins", disse.

"Apareceram outros. Isso será parte do inquérito, inclusive esse, para apurar se há conexão ou não. Existe outro vídeo gravíssimo. Como eu disse, já fizemos 44 operações. Precisamos saber se há conexão. Esse que há silêncio, em princípio não parece ser daquele momento, mas não descartamos."