Parque Social estimula empreendedorismo para mudar a realidade das pessoas

Sob o comando de Rosário Magalhães, nos últimos oito anos, entidade expandiu programa que molda talentos e qualifica profissionais

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 19 de março de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Acervo Pessoal

A técnica em nutrição Carla dos Santos Ferreira, 42 anos, estava desempregada quando entrou para o Parque Social. Com as aulas de empreendedorismo, ela aprendeu técnicas de comércio e soube transformar o hobby de artesanato em sua renda principal. Carla é a prova de como a atuação do terceiro setor pode contribuir para mudar a realidade social. E esse é o maior motivo de orgulho para Rosário Magalhães, presidente de honra do Parque Social, ao fazer um balanço dos oito anos à frente da instituição.  

“Os nossos resultados estão nos depoimentos que demonstram o nível de satisfação das pessoas. Elas puderam aproveitar a chance, enxergar seu potencial e a capacidade de ser agentes de transformação. Com o apoio da sociedade, as pessoas podem ter uma perspectiva de futuro melhor. E contribuir para isso é muito bom”, afirma a presidente de honra. 

Rosário Magalhães assumiu a direção do Parque Social em 2013 com a missão de implementar um projeto de ressignificação institucional e planejamento estratégico. Rosário Magalhães ressignificou a atuação e implantou um planejamento estratégico ao assumir comando do Parque Social (Foto: Divulgação) “A gente pegou uma instituição que atuava há muitos anos no sentido assistencialista. Tínhamos que romper com essas antigas práticas e trazer um novo olhar de valorização das pessoas e das comunidades”, conta a presidente de honra. Hoje, na avaliação da gestora, a instituição está consolidada e é referência no ecossistema do empreendedorismo social de Salvador. Atualmente, são 20 programas, projetos e iniciativas que se mantém mesmo com a pandemia. “A gente também teve de se reinventar, se aperfeiçoar e construir novas metodologias para continuar a relação com as comunidades neste período, mesmo à distância”, acrescenta Rosário.  

No caso da artesã Carla, a reinvenção também teve que acontecer. Durante a pandemia, ela viu uma nova oportunidade de renda que tem contribuído com o sustento financeiro da família: a venda de pizza e salada artesanal. “Com certeza, o que eu aprendi no programa Agente de Empreendedorismo está me ajudando a tocar esse negócio. Até na divulgação, compra de materiais, saber calcular quanto deve ser o preço... o Parque foi muito bom na minha vida”, diz Carla Superação  Além de criar projetos que promovam o desenvolvimento das pessoas, o Parque Social possui programas que ensinam na prática o desenvolvimento profissional do cidadão. A estudante de pedagogia Mariluz Medrado Barreto, 42, encontrou no programa Agente da Educação a forma de superar os desafios que lhe impediam de tentar uma segunda graduação e seguir o sonho de ser professora.

“Fiz administração há uns 15 anos, mas não era feliz na área. Entrei em Pedagogia na Unifacs sem ter dinheiro para pagar sequer a matrícula. Fui empurrando os boletos até arrumar um estágio numa escola que dava para pagar pelo menos a mensalidade. Mas quando entrei no Parque Social, melhorou muito. Considero o Agente da Educação o melhor estágio para estudante de pedagogia de toda Salvador, não só em relação à bolsa auxílio, mas também ao conhecimento e aprendizado que tenho diariamente”, afirma.   Mariluz também pretende ser contratada pelo Parque Social após o fim do estágio (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Já as gêmeas Gabriella e Gabrielle Souza da Silva, 22 anos, entraram juntas no Parque Social através do programa Jovem Aprendiz, em 2017. Foi o primeiro salário das jovens, que conseguiram ter independência financeira e amadurecer pessoal e profissionalmente. “Eu aprendi a atender as pessoas, me colocar no lugar do outro, ensinar, ajudar, aprendi a escrever um bom texto, a me expressar bem, a separar amizade de trabalho e a saber do que eu queria para a minha vida”, diz, orgulhosa, Gabriella, que conversou com o CORREIO.   

Após o jovem aprendiz, ela foi contratada pela ONG e só saiu recentemente para estagiar em engenharia civil, sua graduação. Quem assumiu o seu lugar foi a irmã Gabrielle, que também é estudante de psicologia. “Nossa vida mudou muito com esse programa. Meu pai não queria que a gente participasse, pois tinha medo da gente não quere mais estudar, mas ser jovem aprendiz no Parque Social só agregou a nossa formação”, argumenta   As irmãs Gabrielle (esquerda) e Gabriella (direita) tiveram a vida mudada pelo Parque Social (Foto: Acervo Pessoal) Já Gabrielle Souza da Silva, 22, e a irmã gêmea, Gabriella, entraram juntas no Parque Social através do programa Jovem Aprendiz, em 2017. Foi o primeiro salário das jovens, que conseguiram ter independência financeira e amadurecer pessoal e profissionalmente. “Eu aprendi a atender as pessoas, me colocar no lugar do outro, ensinar, ajudar, a escrever um bom texto, a me expressar bem, a separar amizade de trabalho e a saber o que eu queria para a minha vida”, revela, orgulhosa, Gabriela.   

Após o Jovem Aprendiz, ela foi contratada pela entidade e só saiu recentemente para estagiar em engenharia civil, sua graduação. Quem assumiu o seu lugar foi a irmã, que também é estudante de psicologia. “Nossa vida mudou muito com esse programa. Meu pai não queria que a gente participasse, pois tinha medo da gente não querer mais estudar, mas ser jovem aprendiz no Parque Social só agregou à nossa formação”, argumenta Gabriela.  

Transformação  Para Rosário Magalhães, esses programas transformadores só foram possíveis pelas parcerias com outras instituições públicas, privadas e do terceiro setor. O curso feito pela artesã Carla Ferreira, por exemplo, teve a participação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Já o estágio da futura pedagoga Mariluz Barreto é uma parceria com a Secretaria Municipal da Educação do Salvador (Smed).  

“Foi com esses parceiros que a gente buscou novas alternativas de atuação, com tecnologias que gerassem impacto positivo e uma atuação comprometida e profissional. A incubadora InPacto, uma parceria com a Secretaria Municipal de Sustentabilidade e Resiliência (Secis), é também um exemplo disso. Vários negócios importantes têm tido suporte desse projeto. Em tudo que fazemos, os protagonistas são a própria comunidade e pessoas. Nós somos apenas uma ferramenta”, diz.   

Essa visão de Rosário é também fruto da sua formação em psicologia com experiência na área social. Na década de 1990, ela foi coordenadora voluntária na área social e política em Salvador. A partir de 2003, até assumir o comando do Parque Social, assessorando o então deputado federal e seu filho ACM Neto, passou a atuar na defesa da causa das pessoas com deficiência.  

Em reconhecimento ao seu trabalho, recebeu em 2014 a Comenda Maria Quitéria da Câmara de Vereadores de Salvador e, em 2018, a Comenda Dois de Julho, da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). “O social vai fazer sempre parte da minha vida e, em qualquer lugar que eu estiver, sempre estarei no social. É uma vida dedicada a isso, buscando alternativas inovadoras e tentando acompanhar o que o momento exige”, conclui.

*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.