Patrimônio da BDM chega a R$ 5 milhões, diz Polícia Federal

Bonde do Maluco domina mais de 10 bairros de Salvador e atua também em Sergipe, Alagoas e Goiás

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  • Tailane Muniz

Publicado em 12 de dezembro de 2017 às 16:55

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

A facção Bonde do Maluco (BDM) tem em dinheiro e imóveis um patrimônio avaliado em cerca de R$ 5 milhões, já descobertos pelas polícias Federal e Civil. O império do grupo criminoso baiano, criado dentro do Presídio Salvador há dois anos, é resultado de um esquema de lavagem de dinheiro e investimentos em empresas no ramo de veículos, de acordo com a polícia. 

A facção, que antes era atuante em sete bairros de Salvador, avançou e passou a dominar pelo menos dez localidades na capital, segundo a polícia. Com atuação interestadual, atualmente, a BDM desenvolve seus 'negócios' também em Sergipe, Alagoas e Goiás. O valor dos bens da quadrilha pode ser ainda maior, de acordo com a Polícia Federal.

O sucesso na expansão do grupo, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP), é a facilidade na compra da droga, que é negociada diretamente com fornecedores estrangeiros. As informações foram divulgadas nesta terça-feira (12), após deflagração da Operação Última Estação, conduzida pela Polícia Federal e SSP.   Operação Última Estação foi realizada pela Polícia Federal e SSP (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) De acordo com o delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Fábio Mota Muniz, foram cumpridos 11 mandados de prisão, seis de condução coercitiva, 19 de busca e apreensão, além de 22 de bloqueios bancários - ou seja, contas bancárias utilizadas pelos investigados foram bloqueadas.

Rafinha, o líder Um dos mandados de prisão cumpridos foi o de Rafael Almeida de Jesus, 28 anos, o Rafinha - que já está preso desde outubro no Conjunto Penal de Serrinha. Já a esposa de Rafinha, Bárbara Laís Santos Pereira Alves, 24 anos, foi presa em Alagoinhas, com um total de R$ 23 mil em espécie. Na casa do irmão de Bárbara, a polícia apreendeu uma mala cheia de documentos falsos.

Esta é a segunda fase da operação, que foi iniciada em setembro, após morte Marcelo Batista dos Santos, o Marreno, então líder da BDM na Bahia. A morte de Marreno - em confronto com a polícia, no dia 9 de setembro deste ano - motivou toque de recolher em bairros de Salvador. Fontes ligadas à operação contaram ao CORREIO que após a morte de Marreno, o comando da BDM na Bahia está sob a responsabilidade de Rafinha. Rafael Almeida de Jesus era o Oito de Paus do Baralho do Crime (Foto: Divulgação/SSP) Delegado da Polícia Federal, Fábio Marques, coordenador da operação, explicou a cronologia das investigações. "Após a primeira fase da operação, que foi depois da morte de Marreno, identificamos que o líder substituto utilizava a mesma forma de lavagem de dinheiro. Marreno já havia construído um patrimônio por meio de documentos falsos. O substituto continou fazendo do mesmo jeito, com documentações falsas, inclusive dos filhos, eles criam vidas paralelas. Em geral, morando em condomínios bastante luxosos", relatou, sem dar nomes.

De acordo com o coordenador da Força Tarefa da SSP, Marcelo Barreto, desde que Marreno foi morto, as polícias se uniram com o objetivo de chegar à organização das finanças da quadrilha. "Porque não adianta prender traficantes, é necessário focar na capitalização dessas organizações. Então o foco foi identificar como eles agem na lavagem de dinheiro. E chegamos ao substituto, que havia sido preso em flagrante recentemente. Ele está [preso] em Serrinha", afirmou o delegado Fábio Mota Muniz.

Oito de Paus do Baralho do Crime da SSP, Rafinha acabou preso no dia 22 de outubro com mais quatro suspeitos, entre eles, a mulher dele, Bárbara Laís Santos Pereira Alves, a cunhada, Laiane Santos Pereira, 18, e os comparsas Bruno Ferreira de Souza, 22, Israel de Jesus Avelino Júnior, 35.   Bábara Laís é apontada como esposa de Rafinha, atual líder da facção (Foto: Divulgação SSP) A esposa de Rafinha foi solta, mas continou a participar dos esquemas. "A pessoa presa em Alagoinhas é a esposa do atual líder. Além do dinheiro, R$ 23 mil, foi encontrado na casa do irmão dela uma mala cheia de documentos, inclusive de crianças", disse Marques, sem citar nomes.

Também na operação de hoje, que contou com a participação de 150 policiais, foi preso em flagrante Paulo Henrique Conceição de Jesus. Ele estava no bairro de São Cristóvão, com uma pistola 380, 96 pinos de cocaína e 129 trouxas da droga pronta para consumo. No mesmo bairro, um adolescente foi apreendido e dois mandados de prisão foram cumpridos contra Douglas Xavier Ribeiro Santos e Rafael Pereira dos Reis. 

Tiveram mandados cumpridos dentro do Presídio Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura, Israel Avelino Júnior e outro detento que não teve o nome divulgado. Outros três suspeitos são considerados foragidos.

Interestadual A BDM, que antes comandava o tráfico em sete bairros de Salvador - Brotas, Campinas de Brotas, Federação, Engenho Velho da Federação, Garcia, Suburbana e Cajazeiras - já avançou o domínio de seus negócios. "Eles estão em muito mais bairros, mais de dez. Eles atuam em diversas modalidades de crimes. Assaltos a bancos, lavagem de dinheiro, tráfico, homicídios", pontuou o coordenador da Força Tarefa da SSP, Marcelo Barreto, sem especificar as localidades.Conforme Marcelo, o crescimento da BDM tem ligação direta com uma estratégia de mercado. "Eles têm facilidade na compra da droga. A regra do mercado é que se você compra barato, consegue vender barato e lucra com isso. Mas essas prisões e apreennsões, sem dúvida, significa um baque para eles", relatou.   Ainda segundo Barreto, 99% da droga comercializada pela facção vem de fora do país. "Você tira pelo grande líder do grupo, que mora no Paraguai. Eles negociam diretamente nas fronteiras", afirmou, fazendo referência a José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, considerado foragido da Justiça.

Além da estratégia, segundo o delegado Fábio Marques, a lavagem de dinheiro é o pilar da facção. Responsável pelas investigações, Marques afirmou que atualmente, a BDM faz o dinheiro circular abrindo empresas com nomes falsos."Hoje, a atuação deles nos demais estados, Sergipe, Alagoas e Goiás é por meio da abertura de empresas. Eles abrem contas bancárias e pagam impostos normalmente, isso faz crescer", salientou o delegado.Para o diretor do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), Marcelo Sansão, o resultado da operação é satisfatório para as polícias. "Todo o nosso foco é combater e continuar combatendo o crime organizado. Não à toa, essa dinâmica de trabalho coletivo, entre a SSP e Polícia Federal, vem trazendo tão bons resultados. São milhões de reais já retirados desses criminosos", avalia. Os presos nesta fase da operação vão responder por associação ao tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Além de documentos e dinheiro, cinco fuzis foram apreendidos durante toda investigação.

Histórico Considerado um dos grupos criminosos mais violentos em atuação na Bahia, BDM surgiu em 2015 no pavilhão V do Presídio Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura. 

Liderada pelo assaltante de banco Zé de Lessa, que está foragido, o grupo nasceu como uma ramificação da facção Caveira, comandada por Genilson Lima da Silva, o Perna, atualmente preso no Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná.

Seguindo modelo semelhante às maiores organizações criminosas do país - Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho, do Rio de Janeiro -, o BDM foi criado para ampliar a área de atuação da facção Caveira, nesse caso, na Bahia, em alguns pontos estratégicos do tráfico da capital, como Subúrbio e Cajazeiras, e principalmente na Região Metropolitana de Salvador.

No entanto, houve um racha e uma parte do grupo mais agressiva ficou sob o comando do assaltante de banco José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, procurado atualmente pelas polícias Civil, Militar e Federal. 

Atualmente, a facção tem atuação em Cajazeiras, Brotas, parte do Subúrbio e orla (entre a Boca do Rio e Itapuã), Cabula, Garcia, Pau da Lima e parte da Ilha de Itaparica. A expansão começou por Cajazeiras X.

Entre inúmeras tentativas para prendê-lo, Zé de Lessa, apontado como chefão do BDM, foi o principal alvo da Operação Sapucaia, realizada em abril do ano passado pela Polícia Federal na Bahia e no Mato Grosso do Sul, com o objetivo de cumprir 13 mandados de prisão. Ele é o três de ouros do Baralho do Crime da SSP, um arquivo que reúne os principais criminosos do estado. Número 1 do Bonde do Maluco, Zé de Lessa já chegou a ser preso, mas foi solto e é procurado (Foto: Divulgação) Zé de Lessa começou na vida do crime fazendo assalto a instituições financeiras. Foi preso algumas vezes e a última vez que saiu da prisão foi para terminar de cumprir a pena no regime domiciliar. Desde então, foi morar na cidade de Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, divisa com o Paraguai, de onde começou a enviar carregamentos de drogas para abastecer sua quadrilha na Bahia.

Ele criou o BDM dentro da cadeia e logo sua facção passou a ganhar destaque. Tornou-se o principal rival da facção Katiara, comandada por Roceirinho, e passou a disputar pontos de droga com o rival. Ele tem entre seus principias comparsas alguns parentes.