Pesou no bolso: 43 mil baianos deixaram de ter plano de saúde em 2020

Queda no número de beneficiários foi 349% maior em relação a mesmo período de 2019 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 15 de outubro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

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A pandemia do novo coronavírus instaurou uma crise econômica no país: o Brasil registrou a maior taxa histórica de desemprego, de 13,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sem trabalho e com a renda reduzida, muitos baianos tiveram que reequilibrar as contas e 43 mil pessoas deixaram de ter plano de saúde na Bahia em 2020, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Os dados são os mais recentes da agência e se referem ao período de janeiro a agosto deste ano. 

No mesmo período de 2019, foram cerca de 10 mil baianos que desistiram dos convênios. O aumento entre os dois anos foi de 349%. Ou seja, quase quatro vezes maior em 2020. Em números absolutos, a redução deste ano equivale à população de cidades como Ipiaú, Mata de São João e Poções. Porém, em números relativos, comparado ao total de beneficiários do estado, representa 2,8% dos 1.593.471 baianos que tinham o benefício em janeiro. Em agosto, o número caiu para 1.550.248. 

Numa perspectiva nacional, o número caiu em 2020 e a queda também foi maior em relação a 2019. Este ano, entre janeiro e agosto, mais de 87 mil brasileiros deixaram de ter seguro-saúde, contra 21 mil no ano passado - um aumento de 24,5%. Dentre as cinco cidades da Bahia mais populosas, houve redução em três delas em agosto de 2020 comparado a agosto de 2019. Em Salvador, município onde há mais pessoas com plano de saúde, o número saiu de 805.723 para 782.964 - mais de 22 mil pessoas abdicaram do serviço. O mesmo aconteceu com Feira de Santana e Camaçari. Contudo, os números aumentaram em Vitória da Conquista, Juazeiro e Lauro de Freitas. 

Umas das pessoas que deixou de ter plano de saúde durante a pandemia foi a gerente geral da Happy Tour, Eliana Meirelles, 45 anos. “O turismo, setor que trabalho, foi um dos mais afetados pela pandemia. Para a gente se manter, tivemos que cortar alguns custos e o plano de saúde foi um deles”, explicou Meirelles. Segundo ela, a empresa tinha um custo de R$ 26 mil por mês com plano de saúde, valor que contemplava 23 funcionários. Além de demissões, o benefício foi cortado para enxugar os gastos. A empresa pretende voltar a oferecê-lo quando o cenário econômico melhorar. A gerente ainda disse o custo mensal com seu plano, o Bradesco, era de R$ 628. Ela não fez cotação com outras operadoras. Baianos optam por planos mais baratos

Umas das principais situações vistas pelos corretores que vendem planos de saúde não foi a baixa procura, mas clientes que queriam trocar o benefício para um mais em conta. Segundo as especialistas no ramo ouvidas pela reportagem, a maioria saiu de uma convênio com cobertura nacional - como Sul América, Bradesco e Amil - para os de abrangência regional ou local, como Casseb, Hapvida e Promedica. 

“A procura continua, mas tem muita gente trocando de plano. As tabelas de preços não estão de acordo com a crise econômica que está acontecendo no Brasil, tem muita gente tendo redução de salário ou sendo demitida. O que está acontecendo é a troca de uma plano tradicional para um mais popular”, explicou a corretora Valdete Quintela, que trabalha no ramo há quase 30 anos. 

Foi o que aconteceu com a manicure Hélida Lima, que tem um estúdio para tratamento de unhas no bairro do Cabula. “Acabei sendo forçada a adquirir um plano de valor menor, em virtude da pandemia. Ficou muito difícil de pagar, tentei negociar com eles, mas não consegui. Tive que migrar para um mais barato, porque não tinha como ficar sem plano”, narrou. Ela trocou o Golden Pros, em abril, pelo Unimed, e gerou uma economia de R$ 800 por mês. 

A sócia da True Corretora de Seguros Jose Caetana, 26 anos, aponta ainda que houve uma maior desistência de planos de saúde empresariais, isto é, pessoa jurídica, e uma busca maior por planos individuais, para pessoas físicas. “Entre março e abril, teve uma queda que a gente sentiu muito. Mas depois, em julho, a procura aumentou. Houve principalmente um aumento na busca de produtos individuais e uma queda nos empresariais”, comentou a empresária. A principal queixa, segundo ela, foi a redução de salário: “A renda deles caiu e buscaram reduzir os custos”. A mesma explicação foi dada por Quintela: “Quando o orçamento aperta, a primeira coisa que você elimina é o plano de saúde e não a escola de seu filho”.

Motivos para a queda

De acordo com a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), o sistema de saúde passou um período sem precedentes. “O sistema de saúde passou por um período sem precedentes. O cenário econômico é o principal fator que incide na variação do número de beneficiários no Brasil, visto que o setor é diretamente impactado pelo número de empregos formais e renda da população. A economia prosperando, a saúde suplementar volta a crescer”, informou a associação, por meio de nota. 

Perfil dos beneficiários na Bahia

Ainda de acordo com dados da ANS, os cinco planos de saúde mais usados na Bahia são, respectivamente, o Hapvida, Bradesco, Unimed, Promédica e Sul América. As mulheres estão entre as principais beneficiárias e representam 53% do total. Os homens, contudo, as ultrapassam entre 1 a 14 anos e são os que mais têm convênios. A faixa etária que mais tem são as pessoas de 34 a 39 anos (183.941, sendo 95.184 mulheres) e os que menos têm são os recém nascidos - 19.546 pessoas. Os idosos representam 12% do total. 

Reclamações no Procon-BA aumentaram 

O Procon-BA informou que, de janeiro a setembro de 2020, foram registradas 700 reclamações e denúncias contra planos e empresas que atuam no ramo da saúde. O número é 60% maior que o registrado no mesmo período de 2019, quando foram registradas 422 denúncias e reclamações. Os principais motivos foram o valor do reajuste e a cobertura. 

Em agosto deste ano, a ANS proibiu que planos de saúde fizessem reajustes em todas as modalidades (individual, adesão e coletivo). A decisão vale de setembro a dezembro e vale também para aumento de preço por faixa etária.

Municípios com mais planos de saúde na Bahia (agosto de 2019 e agosto de 2020) Salvador - 805.723 e 782.964 Feira de Santana - 128.117 e 125.810 Lauro de freitas - 59.660 e 63.732 Camaçari - 61.811 e 60.536 Vitória da Conquista - 45.021 e 45.748 Juazeiro - 31.497 e 31.732Fonte: ANS

Número de beneficiários de planos de saúde na Bahia Janeiro - 1.593.471 (2020) / 1.582.027 (2019) Fevereiro - 1.581.013 (2020) / 1.587.788 (2019)  Março - 1.586.531 (2020)/ 1.583.288 (2019)  Abril - 1.580.730 (2020)/ 1.580.487 (2019) Maio - 1.568.147 (2020) / 1.581.683 (2019) Junho - 1.556.965 (2020) / 1.583.244 (2019) Julho - 1.544.033 (2020) / 1.575.042 (2019) Agosto - 1.550.248 (2020) / 1.572.413 (2019)Fonte: ANS

Perfil dos beneficiários (junho 2020) na Bahia Total: 1.556.965.  Mulheres: 813.319 (53%) | Homens: 743.646 (47%) Faixa etária que menos tem plano de saúde: pessoas de até 1 ano de vida: 19.546 (9.978 homens e 9.568 mulheres).  Faixa etária que mais tem plano de saúde: pessoas de 35 a 39 anos: 183.941 (95.184 mulheres e 88.757 homens)Fonte: ANS

Preços de planos de saúde Bradesco - R$325,25 a R$8.588,34 Unimed - R$224,38 a R$4.196,86 Hapvida - R$ 214,23 a R$1.874,12

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro