Pesquisa revela que 48% dos jovens acham errado mulher sair sem o namorado

Entre os dados revelados, 68% acham errado mulher transar no primeiro encontro e 80% critica mulher que fica bêbada em festas

Publicado em 3 de dezembro de 2014 às 10:46

- Atualizado há um ano

Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (3) revelou dados surpreendentes sobre os valores dos jovens brasileiros - entre eles, o fato de que 48% deles acredita que é errado a mulher sair sozinha com os amigos, sem a companhia do marido, namorado ou "ficante".

Os próprios jovens alvo da pesquisa feito pelo Instituto Avon e Data Popular reconhecem que o Brasil ainda é um país machista. No entanto, eles também reforçaram o comportamento. Segundo o levantamento, 96% dos jovens entrevistados disseram que vivem em uma sociedade machista.Sozinha na balada? Quase maioria dos jovens não acha comportamento errado(Foto: Reprodução)Ainda assim, 68% destes entrevistados acreditam ser errado que uma mulher transe com um homem no primeiro encontro, e 76% deles criticaram as garotas que têm vários "ficantes.  Já 80% dos entrevistados revelou acreditar que a mulher não deve ficar bêbada em festas ou baladas.

A pesquisa entrevistou 2.046 jovens de 26 a 24 anos, em todas as regiões do Brasil. Das pessoas ouvidas pela pesquisa, 1.029 são mulheres e 1.017 homens. O levantamento foi realizado através da internet; veja abaixo os dados e problemas identificados por ela.

Fotos íntimas, internet e cibervingançaUma forma mais nova de controle dentro do relacionamento é a rede social. 30% das jovens relataram que tiveram o e-mail ou perfil da rede social invadido pelo namorado. Já 32% delas contaram que tiveram de excluir algum rapaz do Facebook após pedido do parceiro.

15% delas foram obrigadas a dar a senha dos perfis das redes sociais e do e-mail para o namorado, enquanto 28% afirmaram que foram proibidas de conversar com amigos virtualmente, e 2% foram ameaçadas com divulgação de fotos ou vídeos íntimos nas redes - a cibervingança.

Controle no relacionamento e assédio

Ações manipuladoras e de violência contra a mulher durante o namoro foram queixas comuns das entrevistas. 53% das mulheres ouvidas pela pesquisa disseram que já tiveram o celular vasculhado pelo parceiro.Três em cada dez jovens entrevistadas também falaram ter sido assediadas fisicamente no transporte público das suas cidades (Foto: Arte Correio) Já 40% delas relataram que o companheiro controla o que elas fazem, onde estão e com que companhia. 35% assumiram que o namorado as xingou, 33% foram impedidas de usar uma certa roupa e 78% das garotas relataram ter sofrido algum tipo de assédio - seja ele uma abordagem violenta na festa, ser beijada à força ou receber uma cantada ofensiva.

Três em cada dez jovens entrevistadas também falaram ter sido assediadas fisicamente no transporte público das suas cidades.

Sexo e Machismo

O sexo seguro não é mais tão seguro assim. Das jovens ouvidas, 37% delas contaram manter relação sexual com o parceiro sem camisinha por insistência dele. Já 9% das mulheres confessaram que já foram obrigadas a fazer sexo quando não estavam com vontade.

A pesquisa também revelou que o machismo não faz parte só do comportamento masculino. Mais mulheres do que homens concordaram com a ideia de que uma garota deve ficar com poucos homens. A diferença, no entanto, foi mínima - 42% das garotas contra 41% dos rapazes.

A diferença entre a mulher "pra namorar" e "pra ficar" ainda é um conceito muito comum. 43% dos homens acreditam que as mulheres que tiveram relações com muitos homens não são para namorar. Já 34% das garotas acreditam na mesma coisa.

O quesito vestuário já é algo mais progressivo na cabeças dos jovens. Somente 20% das mulheres concordaram que a mulher que usa decote e saia curta está se oferecendo. 30% dos homens entrevistados também concordaram com a afirmação.

Segundo a diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão,Jacira Melo, a desigualdade entre os homens e as mulheres começa desde cedo. Os homens são criados com mais liberdade, enquanto as mulheres recebem desde cedo limitações sobre horários, vestimentas e comportamento.

"Isso é repetido geração após geração, e as meninas incorporam que os meninos podem impor as suas vontades. E quando a mulher sofre uma agressão, ainda se pergunta o que ela fez de errado", disse Melo em entrevista ao portal Bem Estar.

Aplicativo de proteção às mulheres em perigo

Um aplicativo pode ajudar as mulheres se protegerem contra agressões. Disponível somente no sistema Android, o aplicativo PLP 2.0 envia a geolocalização da vítima de agressão para três pessoas de confiança cadastradas pela mulher.

Caso ela se sinta em perigo, basta agitar o celular que os contatos de confiança receberão um alerta. O app também permite que seja gravado o áudio e a imagem do local onde ela está.

Ele está sendo testado atualmente pela Justiça do Rio Grande do Sul, como uma forma de conecta mulheres com medidas protetivas contra os companheiros agressores e a patrulha Maria da Penha, da Brigada Militar.