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Carmen Vasconcelos
Publicado em 16 de março de 2020 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o relatório global When Women Thrive 2020, da Mercer (empresa que atual internacionalmente com soluções tecnológicas para ambientes de trabalho) mostrou que a igualdade entre homens e mulheres no mundo do trabalho ainda está longe de ser uma realidade. >
Oitenta e um por cento das organizações mundiais defendem a ideia de melhorar a diversidade e a inclusão, no entanto, apenas 42% têm uma estratégia documentada e plurianual para alcançar a equidade. >
A pesquisa da Mercer revelou ainda que as mulheres constituem 47% do pessoal de apoio e 42% dos cargos de nível profissional, mas apenas 29% e 23% dos cargos de nível sênior e executivo, respectivamente. Os dados mostraram que 40% da força de trabalho global é do sexo feminino, ligeiramente acima dos 38% de quatro anos atrás. Nessa segunda edição, o levantamento consultou 1.157 organizações de 54 países, inclusive do Brasil. >
Herança machista Os dados gerais das empresas brasileiras incluídas na pesquisa se assemelham muito aos resultados globais. No entanto, enquanto no mundo 33% das empresas têm cargos exclusivos de diversidade e inclusão(D&I), no Brasil, esse número é de apenas 20%. “Para que avanços reais sejam alcançados, proporcionando resultados tangíveis e de longo prazo, as organizações precisam de equipes dedicadas à D&I”, afirma Ana Laura Andrade, líder de Talent Strategy da Mercer Brasil. Ana Laura Andrade defende ações efetivas nas políticas empresariais de modo a garantir mais oportunidades para as mulheres (foto: Divulgação) “Além disso, para impulsionar a mudança, as organizações devem tomar decisões usando insights orientados por dados, definir metas mensuráveis, envolver todos os gestores e instilar uma cultura que valorize a diversidade", complementa.O diagnóstico empresarial da Mercer conversa com um outro levantamento realizado pela Ipsos, em parceria com o Global Institute for Women's Leadership, do King's College London. Nele, o Brasil aparece em último lugar no ranking sobre desigualdade de gênero no âmbito profissional. No país, apenas 25% das pessoas acreditam que homens e mulheres são tratados de modo igualitário no trabalho.>
Visão popular Entre os entrevistados, 56% deles entendem que os dois gêneros não são vistos da mesma maneira nos locais de trabalho de seus países. A nação com a percepção mais positiva sobre o tratamento igualitário entre homens e mulheres é a Malásia, onde 68% dos entrevistados afirmaram que há equidade no ambiente profissional. China (60%), Índia (54%), Rússia (50%) e Peru (48%) fecham o top 5. >
Quando perguntados se seus países já fizeram o suficiente para garantir que os direitos de homens e mulheres sejam iguais, os entrevistados brasileiros colocaram – novamente – a nação sul-americana na ponta do ranking. No Brasil, 66% dos ouvidos creem que as ações tomadas não são o bastante. A média global de descontentamento é de 47%.>
A pesquisa constatou que 68% dos entrevistados reconhecem que os homens devem ser parte ativa na luta para dar às mulheres os mesmos direitos garantidos ao gênero masculino. O porcentual de entendimento brasileiro é o mesmo.>
Apoio masculino Para a diretora da Ipsos na área especializada em pesquisas qualitativas Ana Claudia Malamud, a conscientização sobre o problema da desigualdade entre os gêneros por parte dos brasileiros é importante, mas a pauta precisa sair do discurso e ser colocada em prática. >
“A oferta de salários mais baixos às funcionárias mulheres é baseada em preconceitos, envolvendo a maternidade e a produtividade, que ainda persistem de maneira estrutural em muitas corporações e começam no próprio processo de recrutamento”, diz, ressaltando que o fato, por si só, mostra que mudanças muito profundas nas estruturas das corporações ainda precisam acontecer para que haja igualdade.>
Ana Malamud salienta que a pauta da equidade entre gêneros é algo que passou a ser discutido de forma mais séria muito recentemente. “Acreditamos que as mudanças que vêm acontecendo na nossa sociedade e a pressão dos mais jovens que estão entrando para o mercado de trabalho devem acelerar essas mudanças tão necessárias”, defende. A gerente destaca que a questão da desigualdade entre homens e mulheres é global, em países desenvolvidos ou não.>
Quando o assunto é equidade de gênero, o exemplo precisa vir de cima. A participação do governo, com legislação em prol da igualdade de gêneros, se mostrou efetiva em nações que estão em um outro patamar no tratamento da questão. >
Em 2018, por exemplo, a Islândia se tornou o 1° país do mundo a impor igualdade salarial entre homens e mulheres, multando os empregadores que não pagarem o mesmo para ambos os gêneros. Avanços duradouros em favor das mulheres Apesar do quadro global inspirar cuidados e ações efetivas, há aspectos positivos que mostram progressos de impacto duradouro. Segundo o levantamento, as taxas de contratação, promoção e retenção de mulheres são agora comparáveis às dos homens, o que representa uma melhoria em relação a quatro anos atrás, quando o When Women Thrive foi realizado pela primeira vez.>
"A equidade de gênero é hoje um imperativo global e as organizações estão tomando medidas para fazer a diferença", disse Martine Ferland, Presidente e CEO da Mercer. "Porém, enquanto as mulheres continuarem a estar sub-representadas nos cargos mais altos, assim como a nível de oportunidades de desenvolvimento e progressão de carreira em todas as indústrias e geografias, ainda existe muito trabalho a fazer para alcançar o equilíbrio entre homens e mulheres no contexto profissional”, diz.>
Além disso, empresas em todo o mundo estão adotando métodos mais disciplinados para analisar a equidade salarial. A pesquisa revela que quase três quartos (72%) das organizações têm equipes dedicadas à análise da equidade de pagamento, e mais da metade (56%) utiliza uma abordagem estatística robusta para realizar essas análises.>
Outro aspecto positivo que faz avançar a equidade de gênero na força de trabalho é o envolvimento da liderança. Dois terços (66%) das organizações relatam que os executivos seniores estão ativamente engajados em iniciativas e programas de D&I, contra 57% em 2016, e mais da metade (57%) relatam o mesmo para os Conselhos de Administração, contra 52% em 2016.>
Descobertas sobre igualdade de gêneros>
Otimismo Globalmente, as organizações estão otimistas sobre sua capacidade de contratar, promover e reter mulheres. Menos de um terço das empresas reporta dificuldades para atrair (32%), promover (32%) e reter (20%) mulheres.>
Observatório Apenas 64% das organizações em todo o mundo monitoram a representação de gênero e menos ainda analisam contratações, promoções e demissões por gênero.>
Cuidados Apenas 25% das organizações em todo o mundo monitoram as necessidades de saúde específicas de gênero, enquanto somente 9% acompanham o bem-estar financeiro específico por gênero. >