Pioneira, Escola de Administração da Ufba comemora 60 anos

Eaufba foi umas das primeiras a oferecer o curso de administração no Brasil, junto com a FGV, a UFMG e a UFRGS

Publicado em 13 de setembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Raimundo Brandão/Arquivo CORREIO

Em 1959, os brasileiros faziam compras em cruzeiros. O homem ainda não tinha pisado na Lua e as pessoas não tinham qualquer memória sobre regime militar, redemocratização, urnas eletrônicas, computadores... Mas, naquele ano, a Bahia saiu na frente: no dia 14 de setembro, nascia a Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a primeira do Norte e Nordeste.

É que, no mercado, tinha de tudo um pouco: médicos, advogados, engenheiros, jornalistas, professores. Mas, não havia administradores - ou, pelo menos, não por formação universitária.

Bom, a falta estava pronta para ser sanada. Além da Ufba, a Federal do Rio Grande do Sul, a Fundação Getúlio Vargas e a Federal de Minas Gerais tiveram os primeiros cursos de Administração do país. Na UFMG, os cursos de administração pública e de empresas passou a ser oferecido em 1952

A implantação foi fruto de uma parceria entre o governo brasileiro e o Departamento de Estado dos Estados Unidos. A professora doutora Tânia Fisher conta que o objetivo da parceria era formar profissionais para apoiar o desenvolvimento dos setores privado e público no Brasil. Em 1979, 20 anos após inauguração, Escola de Administração já funciona na atual sede, no Vale do Canela; antes, esteve no sobsolo da reitoria e em casas no Canela e no Garcia (Foto: Raimundo Brandão/Arquivo CORREIO) O primeiro passo foi formar um corpo docente. Jovens formados em Ciências Sociais e Economia foram selecionados. “Os professores pioneiros foram convidados a se capacitar nos EUA e voltaram com a formação necessária para poder iniciar o curso de administração no Brasil”, conta o atual diretor da Escola, Horácio Nelson Hastenreiter Filho. Americanos vieram para Salvador com suas famílias para ficar quatro anos e ajudar na fundação da Escola.

Essa parceria fez com que a Eaufba tivesse uma biblioteca super atualizada, capaz de acompanhar as publicações nos EUA e tecnologia de ponta - o que, na época, era um mimeógrafo a tinta."A escola já nasceu com secretária falando inglês, com uma biblioteca que publicava um livro lá (EUA) e vinha para cá na semana seguinte. E com  a tecnologia mais avançada da época, que era o tal de mimeógrafo a tinta. Ainda não tinha no Brasil. Houve um esforço desenvolvimentista que a escola foi um grande parceiro no progresso", conta Fisher.Ao recontar a história do curso de Administração da Ufba, que completa 60 anos amanhã, Tânia Fisher relata como a profissão se formalizou e se consolidou no Brasil. Foi com esse pontapé inicial que o administrador baiano deixou de ser alguém que “tinha jeito com comércio” para ser um profissional formado com habilidades específicas.

Nos últimos 60 anos, inclusive, passaram nomes ilustres por lá - como professores e como estudantes. O escritor João Ubaldo Ribeiro, o cantor e compositor Gilberto Gil e o presidente da Rede Bahia Antonio Carlos Júnior estão entre eles, junto com a Major PM Denice Santiago, comandante da Ronda Maria da Penha, entre outros (veja galeria). Horácio Nelson Hastenreiter Filho, atual diretor da Escola, com um dos livros de um ex-aluno em mãos: João Ubaldo Ribeiro (Foto: Betto Jr./CORREIO) História Desde a fundação, a Eaufba mudou, relembra Antonio Carlos Júnior, que foi aluno de 1971 a 1974 e, desde 1979, é professor na casa. “O perfil dos estudantes mudou bastante. A Escola, na minha época de estudante e mesmo já como professor, era muito elitizada. Hoje, está mais acessível a alunos de renda familiar mais baixa. Também houve o avanço nos recursos tecnológicos. Avançou-se na pós-graduação, extensão e pesquisa”, afirma.

No início, eram oferecidas apenas turmas de Administração de Empresas e Administração Pública. As primeiras aulas começaram em 1961, no subsolo do prédio da Reitoria. Um ano antes, os aprovados no vestibular começaram a cursar um ciclo básico de disciplinas até que os professores voltassem dos EUA.

Antes de chegar à atual sede, a Escola funcionou no subsolo da Reitoria, numa casa no Canela e em outra no Garcia. Logo na entrada da atual sede, estão fixados os nomes dos veteranos. Em 1963, apenas seis alunos se graduaram em administração pública e treze se formaram na em administração de empresas - apenas uma mulher.

O ex-prefeito de Salvador e radialista Mário Kertész soube do curso em 1962, através do irmão.“A escola tinha um estilo de uma universidade americana. Tinha que se dedicar o dia todo. Era uma escola de altíssimo nível, os professores eram muito bons. Antes de me formar, eu já estava trabalhando no setor público da Bahia. A escola começou a formar uma elite de técnicos que não existia no mercado baiano”, lembra.Mesmo assim, ouviu uma pergunta inusitada: queriam saber se, depois de formado, ele administraria uma fazenda.

A Major Denice Santiago fez mestrado no Ciags. “A minha experiência nesse lugar foi reveladora pra o que hoje eu desenvolvo como trabalho. A sociedade está pulsando por políticas públicas, pulsando por essa territorialidade com respeito”, conta. 

Mesmo com as mudanças físicas e acadêmicas, a qualidade e inovação sempre foram os diferenciais. Os calouros também reconhecem essa excelência. “É uma incrível gama de professores preparados e uma extensa quantidade de pesquisas e cursos oferecidos aos estudantes”, diz o aluno Maurício Freire, 24 anos. 

Desde 1959, a Escola de Administração da Ufba já formou mais de 5 mil pessoas, nas três graduações oferecidas: administração, secretariado executivo e tecnólogo em gestão pública e social. Atualmente, são 1.129 alunos matriculados nos cursos. Na pós-graduação, são 922 alunos ativos.

Secretariado Dez anos depois da fundação da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, mais um curso passou a integrar a grade curricular da instituição. Em 1969, foi criada a graduação em Secretariado Executivo, a primeira da área no país. Assim como a criação da Eaufba, a nova formação também veio para atender a um plano desenvolvimentista.

A coordenadora do curso de Secretariado Executivo, professora doutora Bárbara Dultra, contou que a graduação surgiu para atender à demanda de empresas do pólo petroquímico de Camaçari. “Começaram capacitando algumas pessoas para atuarem como secretária. Com isso, surgiu a ideia de criar um curso de nível superior. O curso participou do Plano para o Desenvolvimento Econômico da Região Nordeste”, contou ela.

Nesses 50 anos, o curso tem cumprido seu papel de formar bons profissionais. A qualidade acadêmica é reconhecida. De acordo com a coordenadora, a graduação é referência porque o currículo foi apontado como o melhor do Brasil na última mudança da programação, em 2009. No último Enade, o curso alcançou nota 4 - a máxima é 5.

Para Dultra, os estudantes saem com uma formação completa, o que fez com que a graduação tenha conquistado respeitabilidade no mercado de trabalho.“Alunos têm um viés socioeconômico mais baixo e [o curso] absorve e prepara esse contingente. O que a gente sabe é que se tornam pessoas bem sucedidas”, ressaltou.Núcleo de Pós-graduação em Administração Com a consolidação da graduação, veio a criação de uma pós-graduação em Administração na Escola. Com 40 anos, o Núcleo de Pós-graduação em Administração (NPGA) começa com uma ideia, dos professores que tinham vindo dos Estados Unidos, de criar um mestrado no modelo que eles tiveram contato fora do país.

O coordenador do NPGA, professor doutor Genauto Carvalho de França Filho, conta que a faculdade já possuía um quadro de professores qualificados e havia a necessidade de formação para além da graduação.

“Os professores podiam formar mestres, que são profissionais ainda mais qualificados para ajudar na dinâmica do desenvolvimento regional. O mestrado tinha como intuito fortalecer a dinâmica do desenvolvimento regional”, relatou.

O núcleo começou com apenas um mestrado em Administração. Atualmente, o programa possui um programa de mestrado e doutorado acadêmicos, além de um mestrado profissional e cursos de pós-graduação lato-sensu, em nível de especialização.

Uma das pioneiras na criação da pós-graduação na Eaufba, a professora doutora Tânia Fisher conta que a universidade foi buscar profissionais com doutorado no quadro do governo do estado para poder completar o corpo docente. “O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico deu 12 bolsas e nós integramos essas pessoas como bolsistas. Depois, elas foram integradas por concurso”, contou. A professora Tânia Fisher ajudou a fundar e coordena o Ciags(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)   O ex-coordenador do NPGA, Roberto Brasileiro, ressalta o papel do núcleo na formação dos profissionais para lecionarem nas pós-graduações por todo país. “O programa de doutorado daqui é o maior fornecedor de professores doutores do norte e nordeste. Praticamente todas as universidades federais, principalmente as novas e as do interior tem egressos daqui”, disse.

Empresa Jr. O empreendedorismo ensinado nas salas de aula da Escola de Administração da Ufba é botado em prática e aprofundado na Empresa Jr. ADM UFBA. O atual presidente da instituição, Guilherme Melo, conta que a organização quer fazer uma Bahia mais empreendedora.

Há 30 anos, quando foi criada, a Empresa Jr. já buscava fazer mais. Em 1989, os fundadores da organização se espelharam na Fundação Getúlio Vargas para abrir a primeira empresa júnior do Nordeste e a segunda do Brasil. De acordo com o presidente, até agora, foram mais de 800 projetos executados pelos mais de 1,8 mil membros que já passaram por lá.

Com mais de 600 clientes atendidos pela Empresa Jr. Além de promover um impacto nos contratantes, os membros também saem da instituição com novas perspectivas. “A Empresa Jr é voltada para desenvolver os nosso jovens. Temos ex-membros que ou abriram um negócio ou estão em grandes corporações. A empresa tem um papel muito grande em desenvolver as pessoas, tanto em um viés profissional e pessoal. Os estudantes ganham uma carga muito grande por lidar com clientes reais que precisam de soluções reais”, afirmou Melo.

A Empresa Jr. oferece um serviços nas três grandes áreas da administração: Marketing, Financeiro e Organizacional.

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Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social O Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Social (Ciags) nasceu como uma aposta de crescimento do campo da gestão social, há 20 anos. A coordenadora do centro, professora doutora Tânia Fisher conta que o ministério da ciência e tecnologia criou o fundo verde e amarelo para fundar 10 centros de inovação em gestão. Deste esforço, nasceu o Ciags.

“A nossa proposta foi de criar, desenvolver e testar modelos de formação inovadores”, ressaltou Fisher. Atualmente, o centro abrange atividades de pesquisa, ensino e extensão. No centro, são ofertadas turmas de mestrado multidisciplinar e profissionalizante em Desenvolvimento e Gestão Social.

Além das atividades acadêmicas e de pesquisa, o Ciags também tem forte atuação na extensão. Fisher ressalta, ainda, que a primeira atividade do centro foi a extensão, que é entendida como uma especialização. “A primeira extensão se chamou o ONG Forte. Selecionamos ONGs para fazer um curso de extensão.Estes primeiros gestores das organizações foram fazer residência social com tudo financiado para acompanhar uma experiência por um mês para ver seu o problema resolvido em outros estados”, relatou. 

Programa de Gestão em Segurança Pública Criado de forma pioneira para capacitar profissionais que atuam na segurança pública e justiça criminal, o Programa de Gestão em Segurança Pública (Progesp) comemora 10 anos neste ano.

A coordenadora do Progesp, Ivone Freire, explica que o programa é dividido em três eixos: formação, pesquisa e extensão. De acordo com ela, entretanto, a especialização está paralisada devido a falta de recursos.

No programa, o mestrado profissional é feito em parcerias e funciona a partir da demanda. Entretanto, algumas vagas para a sociedade também são abertas nas turmas. “O nível da formação de mestres em segurança pública justiça e cidadania ,imprime a inserção social da universidade na Bahia para atender as demandas da sociedade em relação aos serviços e a capacitação. Existe uma ampla parceria com as instituições públicas e de segurança pública”, explicou Freire.

Devido às parceiras e a possibilidade de causar grande impacto na sociedade, Freire aponta que o Progesp é “um programa inovador que tem um papel relevante na missão da Ufba na sociedade”.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DE ANIVERSÁRIO 17/09/2019  Local - Salão Nobre da Reitoria da UFBA 08h30min às 09h00min - Credenciamento 09h00min às 11h30min - Solenidade em homenagem aos 60 anos da Escola

18/09/2019  Local - Auditório da EAUFBA  08h30min às 09h00min - Credenciamento 09h00min às 11h30min - Solenidade em homenagem aos 50 anos do curso de Secretariado Executivo

Local - Auditório da EAUFBA  18h30min às 19h00min - Credenciamento 19h00min às 21h30min - Solenidade em homenagem aos 40 anos da Pós Graduação em Administração

19/09/2019  Local - Auditório da EAUFBA  18h30min às 19h00min - Credenciamento 19h00min às 20h00min - Solenidade em homenagem aos 30 anos da Empresa JR ADM UFBA 20h00min às 20h30min - Credenciamento 20h30min às 21h30min - Encontro Amigos ADM UFBA

20/09/2019  Local - Auditório da EAUFBA  08h30min às 09h00min - Credenciamento 09h00min às 11h30min - Solenidade em homenagem aos 20 anos do CIAGS

Local - Auditório da EAUFBA  17h00min às 17h30min - Credenciamento 17h30min às 20h00min - Solenidade em homenagem aos 10 anos do PROGESP

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro