Pipoca da BaianaSystem dá o tom da folia mais democrática em décadas

Com as cordas baixas, todo mundo curtiu em alta

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  • Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 04:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

“Um Carnaval sem cordas. Estamos livres, sem correntes!”, bradou Russo Passapusso, ao passar pelo Campo Grande, na tarde desta terça-feira (13), dia derradeiro da folia, movimentando sua máquina de loucos, que pulava que nem pipoca. Sim, mesmo com as dimensões acanhadas - comparadas a outros trios - do Navio Pirata, uma das maiores máquinas de pipocas desse Carnaval, mais uma vez, foi da BaianaSystem. 

E 2018 foi, como nenhum outro ano em pelo menos duas décadas, a folia mais democrática, com o povo na rua, no mundo, às vezes no meio da chuva, a girar, a grande maioria sem abadá, em desvantagem contra a turma fantasiada. 

E quem queria que essa fantasia fosse eterna era, justamente, a vendedora de pipoca Luciene Paixão Ferreira, 39 anos, que faturou alto na festa. “Esse ano teve muito mais gente (comprando), porque teve menos blocos. O pessoal dos blocos não comprava. Faturei na faixa de 70% a mais”, contou a moradora do Tororó, entre um cliente e outro, na frente do TCA.  No Carnaval da pipoca, Luciene aumento em 70% as vendas (Foto: João Gabriel Galdea/CORREIO) O dia já começava a baixar as cortinas, depois da passagem de grandes estrelas como Daniela Mercury, Léo Santana e Fabrício [você não] Pancadinha, quando a Baiana despontou na esquina da passarela Nelson Maleiro. 

Sem cordas, sem amarras, foi êxtase, transe, arrebatamento. Abrindo rodinhas, como bons discípulos de Sarajane, os seguidores da Baiana abriam o desfile como se fosse o primeiro dia de folia. Era clima de estreia e maré cheia, mas também de desfile das campeãs, embalado com hits como "Forasteiro" e "Lucro (Descomprimindo)". A conexão entre os foliões era tão grande que quem tivesse parado era içado, quem tivesse dormindo era arrastado. Pipoca boa e salgada, com gosto de suor e lágrima emocional.

Pular ao som de “Lucro” foi uma das opções extras de quem saiu no lucro neste Carnaval. Caso das amigas Aline, Keityane e Tássia, que deixaram os gastos com blocos ou camarotes e, esse ano, optaram exclusivamente pela pipoca.  As amigas Aline, Keytiane e Tássia curtiram exclusivamente na pipoca esse ano (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Até o ano passado, a enfermeira Tássia Neves, 31, por exemplo, chegava a gastar R$ 1 mil nos espaços privativos. “Esse ano a gente veio pra pipoca. É muito melhor. Dá pra ver todas as atrações e ainda economiza. Tem dinheiro pra beber, comer e ainda sobra”, cita. 

Esposas de dois membros d’As Muquiranas, a comerciária Aline do Amor Divino, 37, e a empresária Keityane Lopes, 34, também comemoraram o aumento da economia e da diversão.“Já cheguei a gastar numa média de R$ 700 num Carnaval. Saía no Nana, Timbalada. Hoje curto muito mais e ainda tenho dinheiro pra voltar de táxi”, revela Aline.“Até ano passado ainda fui pro camarote Sfrega, mas esse ano vim só pra pipoca. É melhor, a gente encontra todo mundo, vê mais atrações e se diverte muito mais”, conta Keityane. 

Autodenominado “frenético do Carnaval”, o estudante Cássio Lima, 24, ainda não conseguia se conformar que eram as últimas horas para aproveitar. A resignação, no entanto, foi interrompida quando questionado sobre quanto gastou na folia, este ano. Aos risos, sugeriu: “Se você perguntar quanto eu ganhei em não gastar, é mais fácil responder”. Ok, então quanto ganhou em não gastar? “Ganhei mais tempo e mais atrações pra aproveitar, mais dinheiro pra curtir, pagar até pros outros, tirar proveito”. Máximo respeito.

Consenso entre os entrevistados: com as cordas baixas, e menos segregação, a segurança melhorou, e por isso ficou mais tranquilo curtir fora dos ambientes privativos. 

Prova disso foi o ponto pacífico de ebulição da pipoca da Baiana, sem um resquício de confusão. Mas ferveu tanto que o estudante Tiago Freitas, 21, de Ilhéus, e sua amiga Paula Santos, 23, estudante que mora em Aracaju, pareciam estar pedindo arrego, ao pular uma divisória para sair da passarela. Não aguentaram o rojão? “Que nada. A gente só vai cortar caminho pra reencontrar outros amigos”, esclarece Tiagão. É, pelo jeito, nesse ano, ninguém pipocou da pipoca.