Planalto retoma a fritura de Mandetta

Em defesa de medicamento, Bolsonaro fala sobre possibilidade de ‘paciente trocar de médico’

  • D
  • Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2020 às 04:44

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução Instagram

O vazamento de uma conversa entre o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) provocou a retomada do processo de fritura do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). Na conversa flagrada por uma equipe da CNN, Onyx e Terra defendem a demissão de Mandetta. Onyx diz que não fala com Mandetta há dois meses e que, se estivesse na cadeira do presidente Jair Bolsonaro, teria “cortado a cabeça” do colega ministro.

No Palácio do Planalto, para evitar que o assunto fosse repercutido, a entrevista coletiva para tratar do coronavírus foi realizada sem ministro. Em sua live semanal, o presidente Jair Bolsonaro avisou que não iria falar sobre a conversa entre Onyx e Terra, mas em seguida, ao defender o uso da cloroquina, deu a entender que a situação de Mandetta no cargo não é de estabilidade. 

O presidente Jair Bolsonaro usou da analogia do ministro da Saúde. “O médico não abandona o paciente, mas o paciente pode trocar de médico”, disse Bolsonaro. No início da semana, Mandetta havia respondido, sobre a possibilidade dele próprio pedir para deixar o cargo, que “o médico não abandona o paciente”. 

“Se você visita o médico e a receita dele não dá certo, você tem todo o direito de trocar de médico”, enfatizou o presidente da República. 

Conversa A conversa entre Onyx Lorenzoni e Osmar Terra aconteceu ontem pela manhã. O ministro da Cidadania disse que não fala com seu colega da Saúde há dois meses e que, se estivesse na cadeira do presidente Jair Bolsonaro, teria “cortado a cabeça” dele.

Terra se propõe a ajudar na saída do ministro da Saúde. O deputado, que também é médico, defende a flexibilização do isolamento social e o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, mesmo ainda sem pesquisas conclusivas sobre a eficácia e efeitos colaterais do medicamento. Por se tornar uma voz contrária a Mandetta e alinhado ao que deseja o presidente, Terra passou a ser cotado para chefia a Saúde.

A conversa indica que, apesar dos esforços da ala militar para estabelecer uma trégua entre Bolsonaro e Mandetta, a fritura do ministro da Saúde segue em alta nos bastidores por seus pares e auxiliares do presidente alinhados à ala ideológica.

De acordo com o trecho da conversa divulgado pela CNN, Onyx elogia Terra por fazer um contraponto a Mandetta. “Ele (Mandetta) não tem compromisso com nada que o Bolsonaro está fazendo”, diz o ministro da Cidadania. O deputado federal responde dizendo que Mandetta “se acha”.

“Eu acho que (Bolsonaro) deveria ter arcado (com as consequências de uma demissão)”, diz Onyx, segundo o trecho transcrito pela CNN. Terra, então, diz que “o ideal era o Mandetta se adaptar ao discurso do Bolsonaro”.

A presença dos ministros na entrevista coletiva cancelada em cima da hora, quando eles já estavam no Palácio do Planalto. Além de Mandetta, participariam Braga Netto (Casa Civil), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Bento Albuquerque (Minas e Energia).  Em conversa com o jornalista Gerson Camarotti, do G1, Mandetta desconversou, mas fez um desabafo. “Há uma crise de valores, há uma crise ética. Cada um faça o seu juízo”, disse. “Mas crise ética é o que mais se vê neste momento de epidemia”.

Bolsonaro vai a padaria e provoca aglomeração   Passeio sem uso de máscara de proteção foi registrado em Instagram do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro O presidente Jair Bolsonaro voltou a descumprir as orientações do Ministério da Saúde para que as pessoas mantenham distanciamento social como medida de controle do novo coronavírus. No final da tarde de ontem, ele esteve em uma padaria na Asa Norte, bairro da capital federal. A presença do presidente gerou aglomeração. Ele posou para fotos e cumprimentou apoiadores. Das janelas dos prédios, pessoas protestaram contra a presença do chefe do Executivo. Houve gritos de “Fora Bolsonaro”. O presidente deixou o Planalto por volta das 17h15. Acompanhando de seguranças e do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, ele chegou à padaria de surpresa. Em um vídeo divulgado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que também acompanhou o passeio, o presidente come um pão doce e bebe refrigerante. 

Bolsonaro abraçou funcionários do comércio que pediram para tirar fotos. Ao deixar o local, o presidente também foi cercado por várias pessoas, que se aglomeraram também para fazer registro do passeio.