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Gil Santos
Publicado em 21 de janeiro de 2020 às 18:44
- Atualizado há 2 anos
Um grupo de cerca de 10 manifestantes que tentou se juntar ao estudantes que já ocupam o Colégio Estadual Odorico Tavares, no Corredor da Vitória, foi impedido de entrar na escola. A Polícia Militar fez um cordão de isolamento na entrada principal do prédio, que está ocupado desde as 14h30 desta terça-feira (21). As luzes da unidade de ensino foram desligadas.>
A movimentação gerada pela ocupação do colégio deixou o clima tenso entre policiais e alunos. Por volta das 17h30 um grupo de cerca de 10 pessoas tentou entrar no prédio, mas foi informado por um dos policiais que o acesso estava fechado. Em seguida, seis PMs fizeram um cordão de isolamento na frente do portão. Do lado de dentro, na recepção, outros quatro policiais fazem guarda na entrada.>
Já os estudantes, que estão concentrados no interior da escola, estão mobilizando outros manifestantes para se concentrar na entrada do prédio.>
Willian Santos, 23 anos, foi um dos impedidos de entrar. "A manifestação é pacífica e o que queremos é diálogo. Queremos somar a essa luta que é legítima, mas é dessa forma que eles tratam a luta dos estudantes, colocando a Polícia Militar, e não vindo dialogar. O que queremos é lutar pela manutenção do Odorico Tavares e ter o direito da matrícula respeitado", afirmou.>
Por volta das 18h a energia elétrica do prédio foi desligada e os manifestantes ficaram no escuro. Eles acusam a direção da escola de tomar essa atitude. A ocupação divide opiniões. >
Para a psicóloga Amanda Nunes, 44, a ação é legítima. "Eles estão lutando por uma causa que acreditam. Não sei se isso terá resultado, mas é compreensível que eles pressionem o governo", afirmou.>
Já a aposentada Maria Alice Passos, 66, acredita que esse não é o melhor caminho. "Eles estão ocupando a escola, mas não é assim que as coisas se resolvem. Se o governo está dizendo que não tem demanda na escola, eles precisam provar o contrário. É desnecessário tudo isso", disse. >
Do lado de fora, houve discussão entre militantes de direita e de esquerda, e alguns deles chegaram a bater boca. A situação segue sem definição, já que as lideranças do movimento disseram que vão negociar apenas quando a polícia deixar o prédio, mas a PM segue no local.>
Ocupação O Colégio Estadual Odorico Tavares foi ocupado por cerca de 30 estudantes e ex-alunos na tarde desta terça-feira (21). Eles pedem que a escola não seja fechada e querem uma reunião com a Secretaria Estadual de Educação (SEC) para discutir o fechamento desta e de outras instituições no estado. A SEC informou que técnicos da pasta estão em diálogo com representantes do movimento estudantil.>
A ação desta terça no Odorico é similar à que aconteceu na novela Amor de Mãe, da Rede Globo, na semana passada, mas os estudantes garantem que o planejamento aconteceu bem antes de as cenas irem ao ar. O fechamento do Odorico foi anunciado em dezembro pelo governador Rui Costa (PT). Com capacidade para 3,6 mil alunos, o local estava com apenas 308 matriculados. >
A ocupação desta terça começou a ser discutida como uma possibilidade há algumas semanas. Durante a tarde, o grupo combinou um ponto de encontro no Centro e, em seguida, dois alunos saíram na frente e foram até a porta da escola para sondar como estava a segurança do espaço. Foram eles que deram o sinal para o restante do grupo entrar.>
A vice-presidente nacional da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Débora Nascimento, 20 anos, contou que o grupo entrou no colégio por volta das 14h30 e que a polícia chegou cerca de 30 minutos depois. "Eles [policiais] tentaram entrar. Quebraram os dois cadeados e a corrente que colocamos e invadiram. Nós corremos mais para dentro da escola e eles tentaram avançar, mas recuaram", contou. Segundo o relato dos estudantes, quando os policiais passaram pelo primeiro portão, eles usaram mesas e cadeiras para bloquear o segundo portão. "Dissemos que a ocupação é pacífica e que o que queremos é apenas dialogar com a secretaria. Os PMs acabaram recuando", disse Débora.>
Os estudantes disseram também que um representante da Secretaria da Educação esteve no prédio, mas na entrada dos fundos na Avenida Reitor Miguel Calmon. Os alunos pediram que a negociação acontecesse na frente da imprensa, que está concentrada na entrada principal, no Corredor da Vitória, mas o representante se recusou a subir e foi embora. >
(Foto: Gil Santos/CORREIO)>
Depois, a SEC voltou ao local e aceitou dialogar, mas os estudantes informaram que só darão início às conversas quando a PM for embora, o que não aconteceu ainda.>
Depois da ocupação dos primeiros 30 alunos, professores se juntaram ao movimento. Três viaturas da Polícia Militar estão acompanhando o caso. Ao CORREIO, a PM informou que a "Secretaria de Segurança Pública está cuidando desta demanda" e não se manifestou. Já a SSP informou que, através da PM, acompanha a manifestação, que é pacífica.>
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação disse que "está garantida a matrícula dos 176 estudantes em unidades próximas da região, como o Colégio Estadual Manoel Novais (Canela), que fica a cerca de 1 km do Odorico; o Colégio Estadual Mário Augusto Teixeira de Freitas (Nazaré); e o Colégio Estadual da Bahia – Central (Nazaré), que possuem estrutura para recepcionar os novos alunos".>
A pasta informou ainda que "a matrícula pode ser solicitada em qualquer unidade escolar da rede estadual, independente de ser o colégio onde o aluno irá estudar, observando o cronograma" (reproduzido abaixo). >
Urgência A ocupação acontece um dia após a Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) aprovar o requerimento de urgência do projeto da venda da área onde está situado o colégio. O setor imobiliário já está de olho no imóvel, que tem área de 5 mil metros quadrados e fica em um bairro onde o metro quadrado é o mais caro de Salvador - custa, em média, R$ 15 mil.>
No local, os estudantes afirmaram que não vão sair do colégio até que o governo desista de fechar a unidade de ensino. Em carta aberta, escrita pela Associação de Grêmios e Estudantes de Salvador - União Estadual dos Estudantes, os alunos reclamam de sucateamento do equipamento.>
"Pronto para ser entregue à especulação imobiliária, o Odorico é uma das instituições que arbitrariamente vem sendo sucateado e teve o aviso de fechamento entregue aos membros da sua comunidade acadêmica. Com um dos argumentos sendo o esvaziamento por dificuldade dos alunos de chegarem à escola, o fechamento configura na verdade um processo de higienização social e de impedimento da circulação de pessoas de classes sociais mais humildes pelas áreas nobres da cidade". >
Confira o documento na íntegra:>
"CARTA ABERTA - OCUPAÇÃO DO COLÉGIO ESTADUAL ODORICO TAVARES>
OCUPAR E RESISTIR >
Nós, estudantes secundaristas de toda rede estadual de ensino, após longas rodadas de debates e avaliações resolvemos e encaminhamos uma ação em resposta ás ações autoritárias de fechamento dos colégios, sem dialogo, bem como a estratégia de sucateamento adotada pelo Ilustríssimo Senhor Governador Rui Costa e do seu Secretário Estadual de Educação Jerônimo Rodrigues.>
Através dos espaços de construção e organização da AGES – Associação de Grêmios e Estudantes de Salvador e da União Estadual dos Estudantes - UEES BAHIA, bem como acompanhados por membros da Direção Nacional da UBES (Debora Nepomuceno – Vice Presidenta e Vinicius Calmon – Diretor) chegamos ao entendimento que só ocupando fisicamente com nossos corpos, e politicamente com nossas ideias e bandeiras o principal caso de irresponsabilidade pública, que é o Colégio Estadual Odorico Tavares. >
Pronto para ser entregue a especulação imobiliária, o Odorico é uma das instituições que arbitrariamente vem sendo sucateado e teve o aviso de fechamento entregue aos membros da sua comunidade acadêmica. Com um dos argumentos sendo o esvaziamento por dificuldade dos alunos de chegarem a escola, o fechamento configura na verdade um processo de higienização social e de impedimento da circulação de pessoas de classes sociais mais humildes pelas áreas nobres da cidade. >
Estamos em estado de ocupação também no Colégio Estadual Maria José Lima Silveira na cidade de Jequié no bairro Jequiezinho. Compreendemos que o papel na luta e na construção de uma educação pública, de qualidade e acessível não se findará com êxito fechando escolas e cerceando o direito de acesso à cidade. >
Nossa ocupação é pacífica, política e social, e exigimos que se inicie imediatamente uma mesa de negociação com responsáveis da Secretária de Educação – SEC, para debatermos os fechamentos dos colégios, bem como a situação de toda rede estadual de ensino, que se encontra em sua maioria sucateada, abandonada e sem estrutura básica de funcionamento.>
Saudações Estudantis Associação de Grêmios e Estudantes de Salvador União Estadual dos Estudantes".>
Cronograma de matrícula da SEC:>
Até 27/01/2020 - Alunos da rede estadual com interesse em realizar transferência para outra escola estadual.>
21 e 22/01/2020 - Matrícula de concluintes do 5º ano ou 9º ano do Ensino Fundamental para estudantes regularmente matriculados na rede municipal de ensino, no ano letivo de 2019 cujas escolas não ofereçam a série subsequente.>
23/01/2020 – Matrícula de estudantes novos no Ensino Fundamental.>
24/01 e 27/01/2020 - Matrícula de estudantes novos no Ensino Médio.>
30 e 31/01/2020 - Confirmação da matrícula dos estudantes inscritos na pré-matrícula da Educação Especial.>
Até 03/02/2020 - Estudantes que não conseguirem efetuar a matrícula de acordo com o cronograma.>