Pnad Covid-19: 1 em cada 5 testes para coronavírus na Bahia tem resultado positivo

Segundo o estudo do IBGE, apenas 13,3% da população baiana fizeram o teste até novembro

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  • Da Redação

Publicado em 23 de dezembro de 2020 às 17:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Camila Souza/GOVBA

Do 1,992 milhão de pessoas testadas para coronavírus na Bahia, 1 em cada 5 tiveram resultado positivo para a doença até o último mês, aponta a Pnad Covid-19, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre maio e novembro de 2020. Segundo o estudo, apenas 13,3% da população baiana fizeram o teste. 

O médico da cidade de Candiba, no interior da Bahia, Jarbas Henrique Martins, 31 anos, é um dos baianos que recebeu o resultado positivo para o vírus. Após dar uma carona para um conhecido, ele começou a sentir cansaço, dor de garganta e obstrução nasal, na última sexta (18) veio a confirmação da enfermidade após realizar um teste PCR. 

“A pessoa que pegou carona estava com sintomas, mas me falou que o teste para o coronavírus estava negativo. Na quinta, ele me avisou que tinha feito outro teste e o resultado foi positivo. No mesmo dia, eu comecei a sentir os sintomas do coronavírus”, contou o médico por telefone.

Segundo o estudo, 425 mil baianos tinham recebido o resultado positivo após fazer um teste para o coronavírus até novembro. Nesta quarta-feira (23), o boletim da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informou que o estado possuía 476.955 casos confirmados da doença desde o início da pandemia.

O levantamento aponta que o número de pessoas que fizeram algum tipo de teste para coronavírus no estado cresceu mês a mês durante maio e novembro, o período de investigação da Pnad Covid-19. Na comparação entre o último mês e outubro, foram testadas mais 186 mil pessoas testadas, ou um acréscimo de 10,3%. Ante julho, pouco mais que o dobro de pessoas realizaram o teste, com um acréscimo de 1,081 milhão de testagens ou mais 118,6%.

Com 13,3% da população testada até novembro, o percentual de testados na Bahia ficou próximo ao verificado no país como um todo, com 13,5% ou 28,592 milhões de pessoas realizando o teste nacionalmente. Entretanto, o estado foi apenas o 13º entre as 27 unidades da Federação na realização de testes, empatado, no arredondamento, com Tocantins e Rio Grande do Norte.

A infectologista da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), Adielma Nizarala, explica que a testagem em massa é importante para saber como a pandemia se comporta na cidade em um período de tempo.

De todos os testados na Bahia, 21,4% tiveram resultado positivo até novembro. Isso representa 425 mil pessoas, o equivalente a 2,8% de toda a população estadual. Esse percentual foi o 21º entre os estados. Roraima (7,9%), Amapá (7,5%) e Distrito Federal (6,1%) encerraram a pesquisa com os maiores percentuais da população com teste positivo. 

No Brasil como um todo, 3,1% da população havia testado positivo para a Covid-19 até novembro, o que representou 6,498 milhões de pessoas, 22,7% das pessoas que informaram ter realizado algum teste. 

Isolamento Apesar de ser médico, Jarbas reconhece que se protegeu pouco contra o coronavírus. Ele conta que saia na rua sem máscara e também não fazia o uso do álcool em gel. Os cuidados só eram recorrentes dentro do hospital. A recomendação para cumprir o isolamento social também foi pouco seguida pelo baiano.

“Eu entrava em contato com muita gente, minha casa estava sempre cheia e eu dificilmente usava máscara e álcool em gel. Na carona que me fez pegar a doença, eu não usei máscara, por exemplo”, contaou o médico. 

Em Candiba, Jarbas não é o único que não se preocupa com o isolamento. De acordo com ele, os moradores da cidade estão tranquilos e continuam a circular pelas ruas devido ao baixo número de casos da doença no município. Segundo boletim epidemiológico da Sesab desta quarta, Candiba possui 80 casos confirmados da doença desde o começo da pandemia.

“O vírus começou a circular mesmo aqui depois das eleições. Como, antes, não tinha muito caso, fizemos pouco caso e nos acostumamos com isso. Depois do boom, teria que ocorrer uma mudança, mas, pelo menos eu não tive o pensamento de mudar”, comentou.

Assim como Jarbas e seus vizinhos, outros baianos também deixaram o isolamento de lado. Os dados da Pnad Covid-19 apontam que o isolamento social rigoroso caiu quase pela metade na Bahia entre julho e novembro, quando a taxa reduziu em 45,3%. O levantamento aponta ainda que 2,3 milhões de baianos flexibilizaram ou abandonaram o distanciamento social no período.

Dentre os que estavam em isolamento rigoroso, o número de pessoas nessa condição passou de 4,217 milhões, em julho, para 2,307 milhões, em novembro, o que representou menos 1,911 milhão de pessoas rigorosamente isoladas no período.

O estudo aponta ainda que, em novembro, na Bahia, 6,099 milhões já haviam flexibilizado o isolamento, o que corresponde a 40,9% da população, e 305 mil não faziam nenhuma restrição ao contato (2%), somando 6,404 milhões em situações de brechas no isolamento (43% da população).

O grupo cresceu 5,4% frente a outubro com a adição de mais 329 mil pessoas que flexibilizaram ou deixaram o isolamento. Na comparação com julho, o grupo cresceu em 58% com mais de 2,351 milhões abandonando ou flexibilizando o isolamento, dos quais 2,211 milhões fizeram a flexibilização. 

Segundo Nizarala, não faz mais sentido cobrar isolamento social em um momento de retomada das atividades econômicas e flexibilização, como o que acontece em Salvador. A infectologista explica que, agora, é necessário exigir o distanciamento social e coibir a formação de aglomerações.

Para sair na rua as regras são as mesmas do começo da pandemia, sempre com uso de álcool em gel, máscara e mantendo uma distância de 1,5m a 2m das outras pessoas. Nos estabelecimentos que estão funcionando, é preciso seguir os protocolos setoriais.

"Nós tivemos uma aceleração do número de casos agora, estamos em um novo pico de crescimento. No começo da pandemia, as pessoas tinham muito medo e cumpriam de forma correta o isolamento, o que fez achatar a curva de crescimento. Mas a população fica cansada de estar em casa. Com a flexibilização, o povo entendeu que era um momento de liberação, o que não é o caso. Dificilmente conseguiríamos manter o isolamento e, com a retomada das atividades, essa palavra perde o significado. Agora, devemos seguir o distanciamento social", afirmou a infectologista sobre a situação em Salvador.

O estudo aponta que, em novembro, cerca de 6 em cada 10 baianos, ou 8,512 milhões de pessoas no estado, mantinham algum grau de isolamento social. Dividindo por grupos, 2,307 milhões de pessoas informaram estar rigorosamente isoladas na Bahia, o que representa 15,4% da população. Já outras 6,206 milhões afirmaram ficar em casa e só sair por necessidade básica (41,6%). 

Na comparação com outros estados, a Bahia possuía, no último mês, o segundo maior percentual de isolamento social do país (57%), abaixo apenas do Piauí, onde 57,8% da população têm algum grau de isolamento. Nacionalmente, 48,6% estavam nessa condição.

Apesar da boa posição no cenário nacional, a adesão ao isolamento na Bahia caiu progressivamente, assim como aconteceu no país como um todo. Frente a outubro, o número de pessoas isoladas de alguma forma caiu 3,6%, uma redução de 314 mil.

Na comparação com julho, quando essa questão começou a ser investigada, a queda foi de 21,4%, o que  aepresentou menos 2,3 milhões de pessoas em algum grau de isolamento no estado, em quatro meses.

Sintomas gripais A quantidade de pessoas com sintomas gripais na Bahia segue uma tendência de queda mês a mês, aponta a Pnad Covid-19, que indica que, entre maio e novembro, a população com ao menos um sintoma de gripe caiu a menos da metade na Bahia (-56,9%), chegando a 630 mil pessoas, no último mês.

Em Novembro, na Bahia, 4,2% da população apresentou pelo menos 1 dos 12 sintomas associados à síndrome gripal investigados pela pesquisa. O dado apresenta um recuo de 16,4% frente a outubro, com menos 123 mil pessoas com sintoma.

O estudo aponta ainda que a Bahia tinha o 6º maior percentual de população com ao menos um sintoma de gripe em novembro. A lista é liderada por Amapá (6,3%), Rio Grande do Sul (5,2%) e Paraíba (4,9%).

Em termos absolutos, a Bahia aparece com o terceiro maior número de pessoas com sintoma de gripe, com 630 mil sintomáticos, atrás de São Paulo (1,8 milhão de pessoas) e Minas Gerais (1 milhão de pessoas). No Brasil como um todo, em novembro, 7,956 milhões de pessoas apresentaram ao menos um sintoma de gripe, o que representou 3,8% da população. 

Das pessoas com ao menos um sintoma na Bahia, em novembro, 148 mil (23,5%) procuraram atendimento médico em estabelecimento de saúde. No Brasil como um todo, 28,8% dos que apresentaram ao menos um sintoma, o que representa 2,293 milhões de pessoas, procuraram atendimento.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro