Polícia procura membros do BDM envolvidos em chacina de Portão

Sem achar rivais do CP, bandidos atiraram em inocentes; cinco morreram

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  • Bruno Wendel

Publicado em 17 de setembro de 2019 às 16:39

- Atualizado há um ano

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Ao centro, mandante Busco Peu, que está preso em Serrinha; Paulo Robson (esq.) e Mateus são procurados (Foto: Reprodução/Divulgação SSP) A Polícia Civil está à procura de quatro dos seis envolvidos na chacina de Portão, em maio deste ano, que deixou cinco mortos, das quais três eram da mesma família. Entre os procurados, Mateus Santos de Jesus, 24 anos, e Paulo Robson Carvalho dos Santos, 30, tiveram as prisões temporárias decretadas pela Justiça e por isso foram divulgadas fotos dos suspeitos na manhã desta terça-feira (17) durante coletiva no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), bairro da Pituba, em Salvador.

Dois adolescentes que tiveram envolvimento direto com as mortes também estão sendo procurados pela polícia. A chacina aconteceu após uma ordem do traficante Cláudio de Jesus Soares, 33 anos, o Busco Peu, uma das lideranças do Bonde do Maluco (BDM) em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Um dia após o crime, o CORREIO publicou que o ataque foi uma demonstração de poder da facção ao Comando da Paz (CP) em Portão, bairro de Lauro de Freitas. 

Busco Peu determinou que integrantes do seu bando fossem até Portão, no dia 18 de maio, para matar traficantes rivais. Eduardo Santos da Silva, 19 anos, capturado pela polícia há 45 dias, Mateus, Paulo Robson e dois adolescentes, todos foragidos, chegaram na localidade e, como não encontraram o bando adversário, resolveram atirar contra um grupo que estava reunido.

“Eu fui ameaçado por Busco Peu. Tinha uma dívida de droga com ele de R$ 1 mil. Se não fosse, ele mandaria matar minha mãe e meu irmão. Eu fui até lá, mas no dia não saí do carro. Não matei ninguém”, disse Eduardo em sua defesa. Ele foi preso em Portão e teve a prisão temporária decretada, que deverá ser convertida em preventiva.  Preso por chacina, Eduardo diz que era ameaçado por dívida de R$ 1 mil (Foto: Alberto Maraux/SSP) Em maio, três homens também suspeitos de participação da chacina morreram em confronto com policiais militares. De acordo com informações da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), à época, o trio foi encontrado na localidade conhecida como Lagoa dos Patos.

Na manhã desta terça-feira (17), Busco Peu foi transferido do Complexo Penitenciário de Mata Escura, em Salvador, para o Presídio de Segurança Máxima, na cidade de Serrinha.  “Eles precisam passar bastante tempo na cadeia pela crueldade que fizeram. Continuamos o trabalho para capturar os adultos e apreender os adolescentes foragidos”, disse o titular da Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM), delegado Odair Carneiro. O comandante da 52ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Lauro de Freitas), por sua vez, avisou que uma base do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto) será instalada, até o mês de outubro, em Portão. "Assumi a unidade depois do ocorrido e desde então ampliamos o patrulhamento ostensivo naquela área. A população sabe que pode contar com a gente", completou o oficial que também participou da coletiva.

Foram mortos no ataque: Raimunda Jesus dos Santos, 35 anos, Rogério Oliveira da Silva, 36, Guilherme Gomes da Silva, 19, os adolescente Raiane Freitas, 12, e Pablo dos Santos, 15. Arthur Silva de Jesus Moreira, 23, foi baleado na cabeça. Raiane e Guilherme morreram; Arthur foi baleado (Foto: Reprodução) Lembranças Guilherme era sobrinho de Raimunda e primo de Raiane. Rogério era pintor e vizinho da família, assim como Arthur. Na hora do crime, todos estavam na porta de casa de Raimunda, o imóvel de número 70, com exceção de Rogério – ele foi baleado ao sair de casa. 

Na manhã seguinte ao crime, parentes e amigos das vítimas se aglomeravam na rua, entre eles o marido de Raimunda, que estava na hora do ataque. Sentando no banco de cimento, em frente à casa, ele relembrou: “Estava bem aqui. No lado direito, estava Raimunda numa cadeira em frente ao portão. Atrás dela estava Raiane, em pé. Perto das duas estava Guilherme bebendo uma xícara de café. E um pouco afastado de todos estava Arthur, que segurava o filho recém-nascido, enquanto a mulher preparava o leite da criança”, contou.“Foram 29 anos de convivência de muito respeito. Ela era uma ótima mãe, mulher, uma trabalhadora e se foi de forma tão brutal”, acrescentou abalado. Guilherme começaria a trabalhar numa rede de lanchonete daqui a uma semana. “Ele era evangélico e tinha acabado de passar nos exames médicos, estava feliz porque ia poder ajudar a mulher que está grávida de três meses”, contou o irmão de Guilherme na manhã do domingo, durante a liberação do corpo no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). Atingido na clavícula, ele foi socorrido para o Hospital Menandro de Faria. “Ele ainda chegou andando e falando. Os médicos preparavam para uma transfusão, mas ele não aguentou”, lamentou o irmão.