Política & Economia: Brasil é visto com muita incerteza lá no exterior

Executivo diz que insegurança jurídica é principal empecilho para investimento estrangeiro

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  • Da Redação

Publicado em 29 de janeiro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Enquanto o Brasil não resolver o problema da insegurança jurídica, provocada por um ambiente político conturbado, o país deve se tornar cada vez menos atrativo para investimentos financeiros, adverte o executivo João Augusto Santos, presidente da Kordsa Brasil. Ele enumera essa situação, junto com o sistema tributário brasileiro e as deficiências na infraestrutura logística, entre os principais problemas do país na área econômica. 

João Augusto foi o convidado do jornalista Donaldson Gomes, editor do CORREIO, no programa Política & Economia, transmitido ontem no Instagram do jornal (@correio24horas). “Esse é um ponto crucial. O Brasil infelizmente é visto externamente diferente do que merece. Existe uma incerteza muito grande com o país”, lamenta. 

Os investidores da Kordsa são turcos e têm muita dificuldade em entender como o país funciona, conta. “Isso gera uma incerteza muito grande nos investidores. Apesar de estar há dois anos com um presidente eleito pelo povo, a gente continua questionando as coisas, numa guerra entre direita e esquerda que deixa o investidor confuso”, diz. 

“A empresa não sabe se fará um investimento hoje e daqui a dois anos o que for feito será validado. Isso cria uma insegurança. Quem quer investir precisa saber onde está colocando o dinheiro”, avisa. 

Desempenho Se o cenário geral é de incerteza, no caso da Kordsa o resultado é contentamento. O ano passado foi marcado por dois momentos do ponto de vista operacional para a empresa. Na primeira metade, a unidade chegou a paralisar a produção por dois momentos, diante de uma brutal queda de demanda. Num desses momentos, foram 20 dias em espera. Mas na segunda metade do ano, a situação virou. 

“O ano de 2020 foi um ano de muito desafio, um ano dificílimo, com um impacto incomensurável para as pessoas. Foram 210 mil mortes, é algo extremamente lamentável. Na Kordsa, desde o início estivemos sempre muito preocupados em garantir a segurança dos nossos empregados”, diz. Segundo ele, desde março todas as medidas de prevenção foram implementadas.  

Segundo João Augusto, apesar de uma queda de 30% na demanda, a partir de agosto a situação se inverteu até de maneira “inesperada”, lembra. “Desde meados de julho, estamos operando a toda a carga, com o mercado nos demandando bastante. Todo o trabalho feito em conjunto com nossos operadores”, diz. “Apesar de tudo, conseguimos fechar com um resultado financeiro positivo e fomos a única planta do grupo que atingiu os resultados previstos”, diz. 

O presidente da Kordsa acredita que o ano de 2021 será ainda melhor que o de 2020 para a empresa. 

O desempenho positivo da empresa sediada em Camaçari levou a matriz a escolher o local para o investimento numa nova unidade industrial, para a produção de uma substância chamada kratos, que é uma substância usada para reforçar o concreto. A montagem da planta industrial está prevista para acontecer ainda esse ano, com o início da produção previsto para 2022. “A gente conseguiu reconquistar a confiança dos nossos acionistas, fazer com que voltem a acreditar no time do Brasil”, destaca. 

A expectativa da empresa é de que essa nova unidade de reforço para concreto abra um novo mercado para a empresa no país. O investimento estimado é de US$ 5 milhões (pouco mais de R$ 30 milhões), que deverá render entre 15 a 20 novas pessoas para a empresa. 

Reforçando vidas A Kordsa Brasil é uma “empresa de reforço”, define o presidente da empresa. “Nossa missão é reforçar vidas”, diz. O principal produto da empresa são estruturas para pneus, mais especificamente criando uma espécie de lona de nylon e poliéster. A empresa integra uma multinacional, controlada pelo segundo maior conglomerado empresarial da Turquia, com atuação em diversos segmentos no país europeu. 

Agora em 2020, a Kordsa Brasil foi reconhecida como “a mais incrível empresa para se trabalhar”. Até chegar lá aconteceu um grande processo de transformação. “Esse é um reconhecimento que não é para a Kordsa, é para a Bahia”, acredita João Augusto. “Reinforcers” – reforçadores, em português, é como a empresa chama os seus 415 colaboradores. Segundo Santos, eles foram fundamentais para a virada que aconteceu nos últimos anos. 

“A gente saiu de uma dificuldade muito grande. Em 2011, a empresa viveu uma situação muito complicada, com um resultado financeiro ruim e uma desmotivação muito grande das pessoas e tinha risco até de fechamento da unidade no Brasil”, lembra. João Augusto tinha trabalhado anteriormente na empresa e retorna em 2012 “no olho do furação”, como ele mesmo lembra. 

No processo de diagnóstico da situação, foi feita uma pesquisa de clima e engajamento que mostrou apenas 16% dos operadores alinhados com os propósitos da empresa. Atualmente, o engajamento está na faixa dos 90%. “Parecia ser um erro um resultado tão ruim, mas quando você fazia a correlação com o desempenho financeiro ficava muito claro que a situação era mesmo muito ruim mesmo”, lembra. 

O caminho foi se aproximar das pessoas e buscar entender em outras empresas no mercado como as que se destacavam como um bom ambiente para o trabalho se comportavam. “Não tivemos vergonha buscar no mercado as melhores práticas, tentar entender o que dava certo no ambiente e fomos melhorando”, conta. O processo se repetiu até que em 2019 a empresa foi reconhecida pela FIA/USP, em parceria com a Você SA, como a melhor empresa para se trabalhar no Brasil, desempenho que se repetiu no ano passado, com o nome de “a empresa mais incrível para se trabalhar no Brasil, desta vez numa parceria da FIA/USP com o Portal UOL. 

“Nosso tecido é exatamente o material que é responsável pela segurança do pneu, chamado de reinforcer, e nós gostamos de enxergar quem trabalha conosco como reinforcers, são pessoas que estão ali para reforçar”, compara.