Política & Economia: Governo está priorizando a reforma errada, acredita Carlos Falcão

Líder do grupo Business Bahia defende necessidade de enxugar os gastos públicos

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  • Da Redação

Publicado em 22 de janeiro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O Brasil deveria priorizar mais uma reforma administrativa, capaz de enxugar gastos públicos, e investir numa política efetiva de privatizações, antes de uma reforma tributária, acredita o empresário Carlos Falcão, líder do grupo Business Bahia. Ele conta que a classe empresarial está bastante preocupada com os efeitos da nova tributação proposta pelo governo federal sobre o setor de serviços. “Pode mais do que dobrar o que se paga hoje”, diz. 

Em relação às expectativas para este ano de 2021, Falcão diz que o clima é um misto de otimismo com preocupação no Business Bahia – que reúne 250 empresários e executivos de algumas das principais empresas com atuação na Bahia . “Nosso grupo procura ver o copo meio cheio, evitamos o olhar pessimista, mas eu sinto que existe uma preocupação muito grande”, diz. Carlos Falcão foi o convidado do jornalista Donaldson Gomes no programa Política & Economia, no Instagram do CORREIO (@correio24horas).

“É praticamente unanimidade que nós precisamos de uma reforma administrativa que reduza o tamanho do estado e aí viriam diversas medidas. O que foi proposto pelo Ministério da Economia é uma proposta tímida para o tamanho do nosso problema e mesmo assim ela não está sendo discutida pelo Congresso”, lamenta. “Imagine, uma reforma tímida, não afeta nenhuma decisão anterior, só vai dar retorno no futuro e mesmo assim não se consegue discutir porque as leis são feitas por uns, julgadas por outros, em benefício deles próprios”. 

O empresário lamenta que no caso dos aumentos da carga tributária o ritmo seja outro. “A única coisa que avança no Brasil são os aumentos de impostos. O que se conversa, o que se propõe, no fundo o que está se visando é aumentar impostos”, destaca. Ele cita como exemplo o caso da Reforma Tributária, com a proposta da criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). “A CBS vai representar um aumento brutal para as empresas prestadoras de serviços”, acredita. 

Segundo ele, o Business Bahia fez um estudo com base em balanços de empresas de dez setores diferentes e os resultados foram altas na carga de cobrança entre 80% e 150% para as prestadoras de serviços. “Quem será beneficiado? Empresas com cadeias produtivas longas e que gerem créditos”, aponta. Para ele, o governo estaria atendendo a pressões de representantes do setor industrial e do setor bancário para a adoção das medidas. 

“Qual é o caminho que nós temos? Uma reforma de verdade, que ajude a enxugar o tamanho do estado. Precisamos fazer valer o teto constitucional, que estabelece o salário do presidente da República como o maior”, ressalta. “Nada contra desembargadores serem bem remunerados, mas que se mude a Constituição”, diz. 

Para Carlos Falcão, além disso o Brasil precisa implementar um programa efetivo de privatizações.  “Só para cobrir rombos de estatais deficitárias, o país paga R$ 17 bilhões por ano”, afirma.

Saída de empresas O empresário Carlos Falcão afirmou que não acredita que o governo estadual tenha culpa em episódios recentes de saídas de grandes empresas do estado. Ele lembrou o recente anúncio da montadora Ford, da Bosch, da Vale, entre outras. Para ele, havia pouco a ser feito pelo poder público nos casos específicos. Mas ainda assim o líder empresarial acredita que a gestão estadual deveria modernizar a sua estrutura para a atração e a manutenção das empresas que operam na Bahia. 

Ele lembra que existe uma série de custos operacionais para as empresas que são mais altos no Brasil. “Você tem custos com tributos, mas tem também com logística, custos trabalhistas, ações trabalhistas, que melhorou muito após a Reforma Trabalhista, que ainda tem um custo muito alto”, diz. 

Para Carlos Falcão, o governo baiano precisa modernizar a estrutura para a atração de novas empresas e de estímulo à atividade econômica. “Foi aprovado no Confaz (conselho que reúne as secretarias estaduais da Fazenda) um convênio da crise para as empresas que sofreram na pandemia. Muitos estados aderiram, mas a Bahia não”, lamentou. “O estado da Bahia tem um processo de arrecadação eficaz, um governador que se esforça para fazer uma gestão eficiente, mas estamos falhando muito na atração de investimentos”, acredita. 

“Nossa política de atração ainda se baseia no Desenvolve e no PróBahia, que já tem 20 anos”, lamenta. 

Saúde X Economia Ele lembra que os rumos da economia baiana dependem bastante do que acontece no cenário nacional. O empresário acredita que o desempenho econômico neste ano estará associado à questão da vacinação da população. Quanto mais eficiente for o processo, melhor para o setor produtivo. “Nós já saímos atrás por conta de uma série de polêmicas, mas não precisamos terminar atrás”, defende. “Queimamos a largada, mas temos estrutura, capacidade logística e experiência em grandes campanhas de vacinação para ajustar os pontos, deixando ideologias de lado, focar no científico, vacinar nosso povo e retomar a economia”. 

“Existem pessoas mais capacitadas que eu para falar sobre as questões de saúde, tipos de vacinas, etc. Mas existe uma interdependência direta entre nossa capacidade de fazer um programa eficaz de vacinação com a resposta que a economia brasileira vai dar”, avalia. Ele lembra que quase 70% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado depende do setor de serviço e essas atividades estão comprometidas pelas limitações para a ocupação dos espaços sociais.  “O turismo é uma fatia muito importante de nossa economia. Hotéis, restaurantes, toda uma cadeia que se relaciona com viagens, dependem muito da possibilidade de deslocamento”, sinaliza. 

Além da vacina, ele ressalta que a suspensão do auxílio emergencial é outro fator de preocupação para quem produz no país atualmente. “Se por um lado nós sabemos que o país, com este déficit fiscal, não aguenta mais o auxílio, é um fato, mas sabemos que uma das razões para a retomada que vivenciamos nos últimos seis meses foi o pagamento deste benefício”, pondera. Ele lembra ainda dos acordos que permitiram suspensões de contratos de trabalho e redução de cargas horárias como ferramentas importantes no ano passado e que não estão disponíveis neste início de 2021. 

“Se não prorroga essas ferramentas, você sacrifica a população mais pobre e sacrifica também a economia. Nós sabemos que um dos indutores de crescimento do PIB é o consumo. Não resiste durante muito tempo, mas para iniciar o processo é muito eficiente”, destaca. Ele acredita que sem uma retomada rápida da economia, com o PIB voltando a crescer, as empresas terão grandes dificuldades para manter os postos de trabalho e os compromissos firmados nos acordo para suspensão de contratos e reduções de jornadas.