Política & Economia: Inadimplência dobra em 2020 e preocupa

Um em cada três baianos não conseguiu pagar as dívidas no ano passado

Publicado em 12 de março de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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A quantidade de consumidores baianos que não conseguiram honrar os compromissos financeiros assumidos dobrou entre os meses de março e dezembro de 2020. O índice de inadimplência, medido pela Federação do Comércio de Bens, Serviço e Turismo da Bahia (Fecomércio-Ba) passou de 15% para 30% no período, conta o economista Guilherme Dietze, consultor econômico da entidade. 

Guilherme Dietze ressalta que o processo de endividamento não é necessariamente ruim sob o ponto de vista econômico. É o crédito que dá condições para grande parte da população adquirir bens e produtos. O problema surge quando faltam recursos para honrar com estes compromissos, como ocorre no momento atual, diz. Ele foi entrevistado pelo jornalista Donaldson Gomes, editor do CORREIO, no programa Política & Economia, veiculado no Instagram @correio24horas. 

Para Dietze, a inadimplência é o indicador mais preocupante para a atividade econômica relacionada ao terceiro setor. “O momento que a gente viveu foi de pessoas contraindo crédito para consumir bens que não teria condições de pagar, em um cenário de certo desespero mesmo. Estamos vendo um aumento do endividamento junto com uma alta na inadimplência”, explica. 

Isso, segundo ele, se deve ao cenário de desemprego e a falta de renda. “Chegou a um momento em que muitas pessoas se viram diante da necessidade de garantir a sobrevivência e só tinham o cartão de crédito e agora não estão conseguindo pagar”, afirma. 

Em 2020, as vendas no comércio baiano registraram uma queda de R$ 6,7 bilhões, segundo uma pesquisa da Fecomércio-Ba. O  movimento gerado pelo comércio baiano gira em torno de R$ 100 bilhões por ano. “Um problema deste resultado é que ele foi assimétrico, com alguns setores crescendo bastante e outros recuando de maneira forte”, conta. 

Atividades mais essenciais, como farmácias e supermercados cresceram, bem como aquelas que ajudaram a propiciar mais conforto nos lares – construção civil, móveis, decoração e as vendas de eletroeletrônicos. Por outro lado, as vendas de automóveis e vestimentas puxaram os indicadores para baixo. 

Perspectiva  Mesmo que a economia brasileira cresça os 3% que eram esperados antes do agravamento da pandemia do novo coronavírus, a tendência é que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, tenha recuado o equivalente a 10 anos no final da crise sanitária, acredita o economista Guilherme Dietze. Na área econômica, os brasileiros vão conviver com efeitos do momento atual pelo menos até 2024. 

“Toda a riqueza que nós produzimos durante um ano foi perdida em 4,1% em 2020. Muita gente fala que foi a pior variação desde 1994, mas é importante lembrar que no início da pandemia, o FMI (Fundo Monetário Internacional) projetava uma queda de 9% para o Brasil”, lembra. “Eu acredito que foi um resultado danoso, um baque muito grande, porém menor do que se esperava”. 

O que torna a situação econômica do país é que agora a economia nacional estava em um lento processo de melhora após um outro baque, em 2015 e em 2016, “muito grave enquanto o mundo inteiro crescia” e o Brasil teve uma queda acumulada de 7%. “É como se você estivesse numa luta de boxe contra o Mike Tyson e quando começa a se recuperar de um soco que ele deu, vem uma nova pancada. Mal deu tempo para se recuperar”, explica. 

Na vida das pessoas, isso significa menos empregos, renda, investimentos e perspectivas positivas, diz. “O PIB é apenas um indicador para traduzir o que a gente vive no dia a dia”, explica. “Traduzindo, queda do PIB é menos investimentos, famílias comprando menos, é o comércio demitindo funcionários, que por sua vez deixam de ser consumidores, o que causa um ciclo negativo para a economia. Todo mundo sofre com isso”, diz. 

 O que fazer Num cenário ideal, benefícios como o auxílio emergencial deveriam não apenas ser mantidos, como ampliados pelo tempo que fosse necessário, acredita o economista. Além de outras medidas, como uma ampliação na oferta do crédito para o setor produtivo e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (Bem), já estariam em curso. 

Para o economista, Guilherme Dietze, mesmo com as dificuldades nas contas públicas, o poder público precisa fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar a desestruturação das atividades produtivas. “Se um empresa passa por este momento, mesmo com todas as dificuldades, quando o cenário melhorar, ela seguirá o seu curso. Mas quando uma empresa fecha, os postos de trabalho são perdidos e a retomada se torna um processo mais complexo”, acredita.  

Mesmo com todas as dificuldades, Dietze defende o retorno do auxílio emergencial que está sendo discutido no Congresso e das medidas para a proteção do emprego. “São quatro parcelas de R$ 250, um valor mais baixo, mas vai dar um gás para metade das famílias que receberam os recursos no ano passado, algo em torno de 33 milhões de pessoas”, calcula. Na Bahia, o auxílio foi distribuído para 41% da população. 

“Existe uma dependência muito grande no Brasil dos programas de transferência de renda e uma economia que não consegue ir em frente”, avalia. 

O consultor da Fecomércio-Ba acredita que tudo o que puder ser feito em relação ao alívio da carga tributária, garantir a manutenção dos empregos e na oferta de crédito deve ser feito. “Este momento é importante que as empresas tenham alguma segurança de caixa para pagar seus fornecedores e funcionários. Se eu tenho muito imposto e não estou vendendo nada, vou tirar da produção para dar ao Poder Público”, diz. 

“A gente precisa com urgência da prorrogação da lei que permite a redução de jornadas e de salários, para que as empresas consigam manter os funcionários”, recomenda.