Política & Economia: ‘Ponte vai sair, sim’, garante João Leão

O vice-governador prevê duplicação das receitas estaduais após a conclusão da obra

  • D
  • Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

As pontes fazem parte da vida de João Leão. Na última quarta-feira, quando saia de Ibotirama, rumo a Muquém do São Francisco, lembrou que sua trajetória de vida se iniciou com a obra que liga as duas margens do Rio São Francisco lá. Agora, o desafio é uma outra ponte, de 12 quilômetros, ligando Salvador a Itaparica, com um volume de investimento previsto de R$ 5,3 bilhões, mas a despeito da desconfiança em relação à obra, o vice-governador e secretário de Desenvolvimento da Bahia diz com convicção: “Essa ponte vai sair, sim”. 

“A princípio, eu também não acreditava nessa obra não, porque é grande demais. São R$ 5,3 bilhões, é muito difícil de realizar”, reconheceu o vice-governador, em sua participação na live Política & Economia, veiculada ontem no Instagram do CORREIO (@correio24horas). Segundo ele, o contrato – que deveria ter sido assinado até abril e não foi por conta da pandemia – deve ser assinado ainda este mês. 

Durante a conversa com o jornalista Donaldson Gomes, João Leão falou sobre o impacto que a obra terá sobre a economia baiana – deve dobrar a arrecadação do estado, projetou – e destacou outros projetos que vão ajudar a Bahia a superar a crise provocada pela pandemia da covid-19. 

Entraram na conta ainda a conclusão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e o Porto Sul, além da implantação do polo sucroalcoleiro no Médio São Francisco, que deverá ter 11 usinas produzindo álcool nos próximos 15 anos. 

“A Ponte Salvador-Itaparica vai dobrar as receitas do estado. Só nos municípios do entorno da Ilha de Itaparica, de Valença para cá, iremos arrecadar R$ 57 bilhões”, projetou. Segundo ele, só na construção da ponte, o estado vai arrecadar o equivalente a metade dos R$ 1,5 bilhão que sairão os cofres da Bahia. “Quando você somar o cimento e todos os materiais necessários para a construção da ponte, vamos arrecadar R$ 750 milhões. Uma coisa que precisa ficar clara é que nós não demos isenção aos chineses”, pondera.“Quando o chinês comprar um copo que seja, o estado vai receber o seu ICMS. Tudo isso vai nos dar um acréscimo de receitas, que vai abater sobre o que eu aplicar”, exemplifica. Entretanto, a maior parte das receitas deverá vir de negócios que serão gerados após a conclusão da ponte. João Leão inclusive dá um conselho a quem tem propriedades na Ilha: “Quem tem propriedade, não venda sua casa, seu terreno, deixe a ponte começar. Você já esperou tanto, aguente só mais um pouco”. Segundo ele, a projeção é de uma grande valorização imobiliária em toda a região após a obra. 

“Quando a ponte começar, teremos uma hipervalorização e de cada terreninho vendido, o estado vai arrecadar 2,5% do imposto de transmissão do imóvel. Vai ser um boom”, projeta. Ele lembra que mais imóveis vão elevar o consumo de energia, que também resultará em mais arrecadação. 

“E o mais importante, é que que não será um benefício apenas para Itaparica e Veracruz, vamos ver o Baixo Sul se tornar um novo Litoral Norte, que hoje representa 5% das receitas do estado”, projeta. Hoje a região representa 0,5%. “Vai ser moda morar em Valença e Guaibim, como hoje é moda os ricos terem casas no Litoral Norte”, destaca. 

Segundo Leão, a convicção dele em relação à ponte foi alimentada pela disposição da CCCC, empresa chinesa que é a maior construtora do mundo em relação ao projeto. “Na época, não tinham empresas brasileiras em condições de tocar um projeto deste tamanho, mas eu fui lá e apresentei nosso projeto e eles já estão aqui estudando a ponte há dois anos”, conta.  “Quando estava tudo pronto para assinar o contrato, veio a pandemia e todos os voos foram cancelados”, lembrou.  

Com a pandemia, a legislação permitiu a prorrogação do prazo, diz Leão. Segundo o vice-governador, prazos previstos em contratos vão começar a contar a partir da assinatura, que deve ocorrer ainda este mês.  “Este mês começam os voos para a Europa. Já estão de passagens compradas pela TAP. As empresas que ganharam esta obra são muito sérias”, destacou. Ele conta que foi o primeiro ocidental a percorrer a ponte de Macau, com 52 quilômetros de extensão. 

Fiol Em relação à Fiol, João Leão destaca que há muitas empresas interessadas na obra, mas ele acredita que a CCCC deverá disputar a licitação, com grandes chances de vitórias. “A Bamin está interessada na obra, a Vale está interessada, mas digo com honestidade que duvido que os chineses percam esta disputa por causa do poderio econômico deles”, afirmou. 

Com a diferença hoje do dólar para o real, fazer negócios aqui é um grande negócio para os chineses, explica o vice-governador. A lógica vale para a ponte, para a ferrovia e para outras áreas de interesse deles. 

João Leão contou que conversou nesta semana com o ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU), que é o responsável por julgar o processo de licitação da Fiol. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, já disse reiteradas vezes que pretende licitar a obra assim que o processo for liberado pelo TCU. 

“O processo chegou nas mãos dele essa semana e eu, brincando com ele porque é muito meu amigo e ex-colega de Câmara dos Deputados, pedi que ele que decida em 20 dias. 'Toca aí e vamos resolver'. E ele me disse que vai dar a maior pressa possível”, destacou Leão. Segundo ele, é preciso compreender o tempo da administração pública. “O TCU tem um corpo técnico da maior qualidade que quer ver tudo. Se você pegar o processo, são três metros de altura”, diz. 

Mineração João Leão lamentou que empresas mineradoras que produzem ferro estejam impedidas de escoar toda a sua capacidade de produção por conta da ausência de infraestrutura ferroviária adequada. “Não tem ferrovia, não tem porto”, lamentou. Segundo ele, tanto a Bahia quanto o governo federal deixam de ganhar “milhões” pela falta de infraestrutura. 

Como exemplo do potencial da mineração baiana na atração de investimentos para o estado, o vice-governador cita o exemplo do impacto que a atividade tem no estado do Pará. Em Carajás, as minas da Vale são responsáveis por 80% da arrecadação estadual, destaca. 

“Nós pegamos a linha da Fiol e eu mandei prospectar 80 quilômetros para um lado e 80 quilômetros para o outro lado. É tanta coisa que tem ali, tanto minério que temos na Bahia”, ressalta. Segundo ele, tudo o que se necessita para tornar o potencial realidade é a estrutura de escoamento. Segundo ele, a Fiol e o Porto Sul devem impulsionar investimentos que podem impulsionar em 20% a arrecadação estadual – algo em torno de R$ 8 bilhões. “Sabe quanto a gente arrecada hoje? R$ 500 milhões, é uma titica”, diz. 

João Leão acredita que os projetos que estão em curso e os que vão se iniciar tem potencial de tornar a Bahia “a locomotiva do Brasil” do ponto de vista econômico. “Eu não quero disputar com 'Zé Mané', eu quero disputar com São Paulo. Vão ser dois três, São Paulo puxando de um lado e a Bahia puxando do outro”, ressalta. 

Usinas de açúcar  Segundo Leão, com a pandemia, a arrecadação do estado sofreu um baque, mas sem que tenha havido atrasos nos salários e aposentadorias do serviço público. “O que eu quero é dar reajuste para os servidores, aumentar os salários, mas não está na hora de dar aumento”, ponderou. “Está na hora de aprontarmos o país, o estado, os municípios para aumentar receitas”, destacou. 

Segundo ele, com projetos como o do polo sucroalcooleiro, a ideia é aumentar a arrecadação do estado. A previsão é de que a Bahia ganhe 11 unidades nos próximos 15 anos, que irão reverter o déficit na produção de etanol. Leão diz que cada uma das usinas vai representar o equivalente a 1 ponto percentual da atual arrecadação baiana. “Nós importamos 80%, antes era 90% do álcool baiano. Disso, 52% vem de São Paulo e o que queremos é que seja produzido aqui na Bahia”, conta. 

“Por 10 anos, o usineiro vai pagar o financiamento, o que gastou para implantar. A partir daí, vamos começar a cobrar paulatinamente, para a empresa aprender a pagar. Não vai sair de zero para 27,5%, vai aumentando aos poucos”, projetou. “Em 15 anos, as 11 usinas vão representar 11 pontos de acréscimo nas nossas receitas”, projeta. 

Política No campo político, Leão destacou a aproximação administrativa entre o governador Rui Costa e o prefeito ACM Neto, tradicionalmente adversários em disputas eleitorais. “Eu estou gostando muito de ver aproximação entre Rui e Neto em função da pandemia. Seria muito bom se tivesse de um lado Rui Costa, do outro ACM Neto e no meio, (o presidente Jair) Bolsonaro. Seria interessante para a Bahia e o Brasil. 

Para o vice-governador separar o período eleitoral da gestão pública demonstra maturidade política. “Quando chegar na época da eleição, vamos pra o pau, cada um defende o seu. Agora, na hora de cuidar do povo, vamos cuidar juntos, como Neto e Rui estão fazendo. Para mim, passou a eleição, acabou a disputa”, defende.