Política & Economia: ‘Traçar um cenário econômico nunca foi tão difícil’

Às vésperas de 2022, certeza em relação ao ano novo é a de que tudo pode acontecer

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  • Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

“A publicidade tem a capacidade de se reinventar em vários momentos”, destaca a publicitária Vera Rocha, CEO da Rocha Comunicação e do Sinapro-Ba, entidade que representa as empresas do setor no estado. Segundo ela, esta característica do setor está sendo posta à prova no atual momento de pandemia. “Nós dependemos da atividade econômica, mas também tem o papel de tornar produtos e serviços conhecidos e, com isso, fomentar o desenvolvimento”, pondera. 

Para Vera Rocha, o mercado publicitário pode servir como termômetro do que se passa no conjunto da econômica. O raciocínio é simples, uma agência de publicidade está bem quando o seu cliente, empresas que fornecem bens ou serviços, está crescendo. Ela conta que o cenário impactou a atividade do mercado das mais diversas maneiras. Desde às dificuldades para operar em meio ao cenário pandêmico até as oscilações nas demandas por serviço causadas pela crise econômica. 

A mais recente pesquisa Van-Pro, que mostra as expectativas dos publicitários em relação ao mercado, indica que o setor ainda se divide entre o otimismo e o enfrentamento das dificuldades provocadas pela pandemia, conta Vera. Para 54% das agências ouvidas, as perspectivas do mercado para 2022 são boas, enquanto 28% consideraram que o cenário deve permanecer estável, enquanto 9% apostam em condições muito boas e outras 7% não deram uma previsão. “Há uma maioria otimista, ou porque estão conseguindo segurar o faturamento direitinho, ou porque acreditam no país. Ou mesmo as duas coisas juntas”, avalia. 

Quando a pesquisa avalia apenas o faturamento, 56% das agências baianas conseguiram manter ou elevar as receitas no segundo trimestre deste ano, enquanto 44% enfrentaram queda em suas receitas. Para 40% das agências, o aumento nas receitas foi acima dos 40%, destaca Vera Rocha. 

Para enfrentar as dificuldades do cenário, muitas agências investiram em inovação, conta a CEO da Rocha Comunicação. Segundo ela, foram lançadas start-ups no setor, outros profissionais optaram por espaços de trabalho compartilhados para reduzir custos fixos, entre outras iniciativas. Vera lembra que 53% das agências tem um faturamento de até R$ 1 milhão por ano. 

Mesmo com esse esforço interno de readequação, o ano de 2022 do mercado publicitário vai depender mesmo do desempenho da economia brasileira, reconhece a presidente do Sinapro-Ba. “Nunca foi tão difícil traçar um cenário provável. Temos uma quantidade de incertezas tão grande, no plano econômico, social, político e sanitário, que fica muito difícil apostar. O que vai acontecer depende de variáveis externas”, diz.  

“Muito do que pode acontecer de bom em 2022 depende da aprovação do Auxílio Brasil. Mas o Brasil tem um risco de estagflação, que é o cenário com inflação alta e baixo crescimento e é algo muito ruim”, cita. “Não sabemos como vai se comportar o mercado de trabalho, os juros estão altos e não caem de uma hora para outra. Além disso, não se sabe como será o retorno de setores que estavam represados”, completa. 

Nos últimos anos, o mercado publicitário baiano se diversificou, acredita Vera Rocha. Segundo ela, há alguns anos se dizia que o mercado vivia apenas do tripé: público, varejo e imobiliário. “Nossa publicidade cresceu e hoje não somos apenas este tripé. Temos um mercado muito maior, que comporta alimentos, educação e até a área médica, mesmo com todo o regramento que existe”, lembra. Vera lembra ainda de um setor que foi bastante impactado pela pandemia, o do turismo e eventos. “São atividades que se desenvolveram muito, apesar de terem sofrido recentemente com a pandemia”. 

Apesar da diversificação, a presidente do Sinapro-Ba lembra das marcas que deixaram o mercado no decorrer dos últimos anos. “Tivemos muitos outros anunciantes locais, como Tio Correia, Ipê, Romelsa, Sapataria Santana, Farmácias Santana, tivemos dois bancos locais. Enfim, a Bahia já abrigou uma forte gama de anunciantes locais, que por uma série de razões saíram do mercado”, conta. Alguns deixaram de existir, enquanto os transferiram as sedes para outras regiões do país. 

Entre os clientes, os que conseguiram os melhores resultados no período foram aqueles que já desenvolviam antes trabalhos no mundo digital, conta. “Quem não tinha o digital teve que correr atrás. Muitos anunciantes já estavam preparados para esta realidade, mas outros não. Você tem uma Magazine Luiza, na área de vendas, que já tinha uma forte atuação muito antes da pandemia e já fazia isso com muita qualidade, mas a imensa maioria dos lojistas não estavam preparados para atuar com e-commerce e tiveram que correr atrás dos prejuízos”, lembra.  “Hoje essa realidade já mudou muito, até porque o próprio consumidor demandou essa mudança, mas foi preciso adequar muitas coisas. O processo inicial foi duro, complexo, mas nos adaptamos bem”.