Pólo mais sustentável precisa de nova logística

Políticas públicas que contemplem a internet e a ampliação dos portos são fundamentais para manter crescimento

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 29 de junho de 2019 às 06:30

- Atualizado há um ano

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Inseridas num contexto mundial preocupado com o desenvolvimento sustentável, as empresas do Pólo Industrial de Camaçari seguem a rota de aumentar a competitividade adotando energias renováveis. A Basf, por exemplo, tem sua matriz energética pautada no vapor, cede o excedente energético  para outras empresas. “Temos, em Camaçari, uma planta bastante  sustentável, que possui uma pegada de carbono amigável  e por isso mesmo ganhamos a certificação de primeira indústria com selo de eficiência energética”, diz o vice presidente sênior da empresa, Antônio Lacerda. Ele salienta que são 118 projetos desenvolvidos pela Basf  que já geraram U$ 3 milhões em economia e conseguiram uma redução de 40% na emissão de gases do efeito estufa.

O Conselho de Administração da Braskem, por sua vez, estabeleceu uma estratégia de negócio alinhada a 10 macro-objetivos com metas definidas para conclusão em 2020, todas elas atreladas aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. São oito iniciativas-chave que passam por temas como investimentos em novas resinas de origem renovável até a participação em compromissos setoriais que visam à reutilização, reciclagem e recuperação da totalidade de embalagens plásticas até 2040. 

De acordo com o gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia e Alagoas, Milton Pradines, em 2018 foi definido e divulgado o compromisso para impulsionar a Economia Circular na cadeia de produção de transformados plásticos. Outra frente de trabalho é a busca de soluções para acabar com o descarte inadequado de resíduos no meio ambiente, especialmente nos oceanos. “O desenvolvimento sustentável é um dos principais pilares de atuação da Braskem. Além das iniciativas nacionais, temos uma série de projetos regionais de promoção da cidadania, educação e meio ambiente voltados as comunidades onde atuamos”, diz.

A melhoria continuada na eficiência energética é um dos objetivos da Braskem. Desde que foi criada, em 2002, até 2017, o índice de consumo de energia na Braskem melhorou 11%. Entre 2015 e 2017, foram investidos R$ 68 milhões em projetos de meio ambiente, evitando custos da ordem de R$ 469 milhões. 

Uma das iniciativas recentes no uso de energia renovável foi o compromisso da Braskem de comprar energia do Complexo Eólico Folha Larga, da EDF Renewables do Brasil, por 20 anos, viabilizando a expansão da primeira fase do projeto. Esse novo parque, localizado no município de Campo Formoso, a 350 km a noroeste de Salvador, contribuirá para colocar a Bahia entre os líderes no setor nos próximos anos. O contrato foi estimado em aproximadamente R$ 400 milhões. "Ao investir numa matriz limpa e sustentável, estamos reduzindo a quantidade de emissões de CO2 em 325 mil toneladas ao longo do período do contrato", diz.

Logística multimodal  Há 44 anos, o Porto de Aratu foi inaugurado na Ponta da Sapoca, na Baía de Todos os Santos. Desde então, a iniciativa do governo federal tem se mostrado fundamental para as indústrias  do Polo de Camaçari. O grande problema é que, ao longo dessas mais de quatro décadas, o porto nunca foi modernizado ou ampliado, gerando estrangulamento nas operações.  De acordo com o diretor executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usoport), Paulo Roberto Villa, o Porto de Aratu está há duas décadas com sua capacidade de movimentar cargas saturada. “No caso de graneis líquidos, é necessária a construção de mais dois berços de atracação de navios e a instalação de novo parque de tancagem. Isto somente para atender à demanda passada”, diz. Para ele, se houver expansão da indústria petroquímica, seriam necessários, adicionalmente, outros dois berços. “Santa Catarina, que tem o PIB similar ao da Bahia, possui cinco terminais de contêiner com 10 berços. Portanto, terminais de contêiner, de graneis sólidos e líquidos são grandes oportunidades de negócios na Bahia”, complementa. Da mesma forma, o presidente do Comitê de Fomento Industrial do Pólo de Camaçari (Cofic), Mauro Pereira, lamenta que o Porto de Aratu não tenha conseguido acompanhar o desenvolvimento do Pólo. Segundo ele, o dinheiro perdido pelas empresas em multas pela estadia dos navios em Aratu devido ao atraso nas operaçõesdaria para construir um novo porto. “Foram US$ 23 milhões só no ano passado”, lamenta. 

Pereira afirma ainda que não é apenas o transporte marítimo que precisa de ampliação. Para ele, o ferroviário é fundamental para a competitividade da Bahia. “Quando o Polo completou 30 anos, fizemos uma carta para o governo federal pontuando a necessidade de investimento numa malha ferroviária, mas a coisa não foi adiante. Hoje, tentamos parceria com o estado para destravar a logística de transporte das matérias primas e dos produtos”.  

Na verdade, a perspectiva dos empresários é que a logística do Polo possa ser desenvolvida em todos os modais.  De acordo com a diretora de Logística da Braskem, Marlisa Reche, a petroquímica tem interesse na multimodalidade. “Há um potencial enorme que pode ser desenvolvido para beneficiar a indústria e demais setores da economia”, afirma. Ela garante que a empresa continuará investindo em melhorias no acesso logístico e modernização tecnológica, de modo a garantir a segurança, competitividade, eficiência e confiabilidade das operações.