População da Bacia do Paramirim anseia por nova barragem

Equipamento vai aumentar segurança hídrica da região e beneficiar nove diferentes municípios

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  • Murilo Gitel

Publicado em 26 de outubro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Agricultor familiar, Reginaldo descreve importância do equipamento para a região (foto: Arquivo pessoal)

Os olhos do agricultor Reginaldo Pereira Carvalho, 42 anos, chegam a ficar marejados quando o assunto é a Barragem do Rio da Caixa. “É um sonho nosso aqui de toda região. Desde criança eu ouço sobre a possibilidade de ter uma barragem aqui”, relembra. Produtor rural no povoado de Varzinha, em Rio do Pires (a 750 km de Salvador), ele vive da agricultura familiar e   sofre com a escassez de água na região.

“Nos meses mais críticos (maio, junho e julho), temos grandes dificuldades de acesso à água, daí a importância de termos reservatórios, ou essa água vai toda embora. Essa barragem seria muito útil”, afirma o agricultor, que atualmente utiliza a água do Rio da Caixa para irrigar a produção de banana e hortaliças. 

Nos períodos de maior estiagem, Reginaldo chega a usar água da cisterna para o próprio consumo, e de dois poços artesianos para o trabalho no campo. As bananas e hortaliças que produz abastecem a barraca que ele possui na feira de Rio do Pires, além de uma outra quitanda própria. 

Segurança A garantia de segurança hídrica para a região da Bacia do Paramirim é justamente o que propõe a Barragem do Rio da Caixa, que será construída em Rio do Pires. A Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS), por meio da Companhia de Engenharia Hídrica e de Saneamento (Cerb), publicou no mês de abril, no Diário Oficial do Estado, o edital de licitação para contratar empresa especializada para elaborar estudos de viabilidade e projeto executivo da barragem. O processo licitatório já foi finalizado e o próximo passo é a assinatura do contrato com a empresa ganhadora. 

A Barragem do Rio da Caixa, no município de Rio do Pires, será localizada à juzante da Barragem de Zabumbão, com um volume de acumulação previsto de 30 hm³, e vai funcionar como grande reforço da oferta de água da Bacia do Paramirim, atendendo os municípios de Rio do Pires, Boquira, Botuporã, Caturama, Érico Cardoso, Ibipitanga, Macaúbas e Paramirim, e também a  Tanque Novo, no Sertão Produtivo. O equipamento, além de garantir a segurança hídrica para a região, vai contribuir para a sustentabilidade do abastecimento humano e da tradicional produção agrícola irrigada da região, que atualmente só conta com a  Barragem de Zabumbão.

Bacia “Esse é um projeto muito importante e esperado pela população do Território da Bacia do Paramirim. A SIHS já havia realizado os estudos básicos de geologia e hidrologia, inclusive com a identificação de dois eixos potenciais para construção da barragem”, destaca o secretário da pasta, Leonardo Góes.  A Bacia do Paramirim abrange, segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), nove cidades, que integra  158 mil habitantes e 9,6 mil km² de extensão.

Atualmente, a Barragem do Zabumbão, localizada entre os municípios Érico Cardoso e Paramirim, é insuficiente para abastecer todos os municípios da calha do Rio Paramirim. “O Rio da Caixa, que é um afluente do Rio Paramirim, está localizado em uma região que favorecerá esse abastecimento. A barragem será muito importante para o consumo humano de água na região, que é muito carente nesse sentido”, opina o membro da Associação do Semiárido da Microrregião de Livramento (Asamil) William Prado Ferreira. 

Prioridade  Ferreira defende, todavia, que o consumo humano da água proveniente da barragem tenha prioridade.  “Como essa barragem terá uma multiplicidade de usos, o Comitê de Bacia Hidrográfica da Bacia do Paramirim fará a intermediação e a gestão desse recurso. E aí não pode haver nenhuma dúvida quanto à prioridade para o consumo humano", afirma. “Nós, enquanto entidade que trabalha pela convivência com o semiárido, avaliamos que há alternativas a serem resgatadas para ofertar o armazenamento de água aos agricultores que estão distantes dessa fonte de água, que são as tecnologias sociais”. complementa  Entre as tecnologias sociais apontadas estão as cisternas de produção, que captam água e armazenam 52 mil litros, e os barreiros-trincheiras, cuja capacidade de armazenamento é de até 650 mil litros de água, os quais podem ser usados para a dessedentação animal e o consumo nos quintais produtivos desses agricultores.  Independentemente das definições quanto à gestão de uso da água que virá da Barragem do Rio da Caixa, o equipamento representa uma esperança por dias melhores às famílias que vivem na região da Bacia do Paramirim, historicamente assoladas pela falta do recurso. A viabilidade dessa obra tem sinergia com ao menos seis dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, entre eles, “Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos” (ODS 6). 

Este conteúdo integra o projeto Infraestrutura Hídrica e Saneamento, uma realização do Jornal Correio com o apoio institucional da Embasa, Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento, WWI e o apoio da FIEB e Abapa.