Por que devemos continuar a nos vacinar?

Mesmo diante dos recentes surtos de sarampo e outras doenças controladas por vacinas fica evidente que muitos brasileiros não se sentem mais obrigados a se prevenir. Afinal, devemos nos vacinar?

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  • Ceuci Nunes

Publicado em 12 de maio de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Sim

As vacinas são seguras e eficazes

Desde a primeira vacina criada  para a varíola, em 1796, a história da imunização é uma história de sucesso. Sabemos que as verdades científicas são mutáveis, mas no que diz respeito às vacinas todas as evidências  corroboram eficácia, eficiência e segurança ao longo de mais de dois séculos. Atribui-se à vacinação uma das causas para o aumento da expectativa de vida, que em um século saltou de menos de 40 anos para próximo dos 80 anos, juntamente com o saneamento básico, os antibióticos e a tecnologia médica.

O mundo erradicou a varíola e controlou a poliomielite, sarampo, rubéola, síndrome da rubéola congênita e tétano no natal. No Brasil o Programa Nacional de Imunização (PNI), criado em 1973, é considerado um dos melhores do mundo pelo número componentes e unidades vacinais distribuídas em todos os municípios. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece 44 tipos de imunobiológicos e cerca de 300 milhões de doses distribuídas anualmente.

Entretanto, quem nunca ouviu alguém questionar a utilização da vacina para uma doença que não existe mais? O que precisamos entender é que doenças imunopreveníveis ficaram raras ou desapareceram porque conseguimos taxas de coberturas vacinais acima de 90%. Os vírus e bactérias continuam circulando, entretanto."Existem movimentos antivacinistas que atribuem às vacinas muitas coisas que a ciência, além de não comprovar, rechaça"Após a introdução da vacina da gripe para idosos, na década de 1990, vimos cair em 30% as internações hospitalares desta faixa etária. Em nosso meio, temos um grande exemplo no Couto Maia. Em 2007, eram 50 leitos ocupados principalmente por crianças com meningite. Após a introdução das vacinas para as três principais bactérias causadoras da doença,  vimos essa taxa cair exponencialmente. Hoje, o Instituto Couto Maia dispõe de 10 leitos ativos e a taxa de ocupação não ultrapassa 80%. Ocorreu redução das meningites também nos adultos.

Existem movimentos antivacinistas que atribuem às vacinas muitas coisas que a ciência, além de não comprovar, rechaça. Absurdos como o crescimento da obesidade, do diabetes e até de serem utilizadas como veículos para inoculação de partículas que causam câncer com vistas a reduzir a humanidade para 900 milhões de habitantes.

As baixas coberturas vacinais atuais trazem o risco real de retorno da poliomielite e já foram registrados surtos de sarampo no Brasil e em vários países do mundo. Em 2017/2018, tivemos o mais expressivo surto de febre amarela no Brasil. Registra-se o risco iminente do retorno da febre amarela urbana, sendo que o último caso registrado no país foi em 1942.

Ceuci Nunes

Infectologista, professora da Escola Bahiana de Medicina e diretora do Instituto Couto Maia

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No meio do caminho

O calendário pode ter flexibilidade

O ato de vacinar uma criança tem como fundamento principal promover proteção contra doenças, garantindo um melhor crescimento e desenvolvimento na infância. Com o objetivo de facilitar e aumentar a adesão às vacinas existem os calendários de vacinação que sofrem alterações de acordo com as regiões, pois obedecem a situação epidemiológica das doenças.

Existem, atualmente, vários tipos de vacina para diversas situações. Desde o seu nascimento, o recém-nascido já tem acesso à primeira proteção, as vacinas BCG e hepatite B, que têm como objetivo proteger das formas graves da tuberculose e da hepatite B. 

Ao longo do primeiro ano de vida, várias vacinas são sugeridas para aumentar a imunidade do lactente. A maioria das vacinas propostas para este fim são disponibilizadas pelo serviço público de saúde, em todo o país. Outras podem ser adquiridas através de clínicas privadas.

Ao longo de todos esses anos, presenciamos a erradicação de diversas doenças graves pelo advento da vacinação. Em exemplo clássico desta situação é a poliomielite. "A responsabilidade profissional e familiar com a imunização das crianças tem um impacto importante no crescimento e desenvolvimento saudável durante a primeira infância e adolescência"Outra situação que vale a pena salientar, é que, após o surgimento de algumas vacinas, os atendimentos em pronto socorro infantil por algumas patologias também tiveram a sua incidência bastante diminuída, como por exemplo rotavírus, infecções respiratórias causadas pelo hemófilo ou pneumococos. Assim como algumas doenças exantemáticas próprias da infância; que, quando acometem crianças imunizadas, apresentam formas mais leves se comparadas às suas formas em crianças que não receberam a vacina.

Não somente as crianças são beneficiadas com as vacinas. Na fase da adolescência temos a oportunidade de garantir a proteção contra o HPV, que no futuro pode ser responsável por situações graves associadas à neoplasia.

É certo que algumas vacinas na sua aplicação, ou nos dias subsequentes, podem ocasionar algumas reações indesejáveis, porém controláveis. Daí a flexibilidade do calendário de vacinação em relação a idade e a adequação para cada criança, que é possível e realizado de maneira bem tranquila por alguns profissionais.

A responsabilidade profissional e familiar com a imunização das crianças tem um impacto importante no crescimento e desenvolvimento saudável durante a primeira infância e adolescência.

Renata Matos Especialista em pediatria e neonatologia, professora da Escola Bahiana de Medicina

Não

Pelo natural e não pelo mais fácil

Está aí a pergunta que talvez hoje seja a que mais me “tire o sono”. Sou mãe de três e até o meu mais velho completar um ano e um mês e desenvolver intolerância a glúten e lactose o tema não passava de mais uma “obrigação”. Somos adeptos a uma alimentação saudável, ao uso da homeopatia e só recorrer ao uso de medicações e intervenções médicas quando são realmente necessárias. 

Dito isso, somos uma família que não costuma fazer algo simplesmente porque todo mundo faz. Procuramos o que é natural e não o que é mais fácil. Não é porque queremos ser “diferentões” mas porque acreditamos num mundo que possa fluir mais organicamente e não de forma pasteurizada. Tenho medo de vacinar e tenho medo de não vacinar. Me aborreço comigo mesma por ter medo, por ser “vítima” de uma sociedade que nos colocou nessa cultura do medo.

 Meu primeiro filho tomou as primeiras doses das vacinas obrigatórias e algumas desnecessárias que terminei dando por falta de informação. A partir do momento que ele apresentou a intolerância alimentar suspendemos as vacinas e começamos um tratamento homeopático que o liberou das intolerâncias. Nosso segundo filho decidimos não vacinar, mas  quando ele completou um ano eu não sustentei e resolvi dar a pólio em gotas. Meu medo gritando em mim: ‘e se ele tiver paralisia infantil?’. Essa foi a única vacina que ele tomou até decidirmos passar quatro anos em Portugal, onde haviam nos dito que ele precisaria estar vacinado para o ensino público. " Me aborreço comigo mesma por ter medo, por ser “vítima” de uma sociedade que nos colocou nessa cultura do medo"Resolvemos dar a hexa ainda no Brasil e aconteceu algo muito chato: ele perdeu a mobilidade na perna que foi vacinada por mais de 10 dias. Foram 20 dias sentindo dor e sem caminhar normalmente. Ficamos assustados no início, nos culpando por ter dado a vacina. 

Passado o susto e as idas para emergências, o que provavelmente aconteceu foi uma inflamação. Nosso mais novo ainda não tem nenhuma vacina e esse tem sido um assunto que não me sai da cabeça. Penso nas questões sociais, na responsabilidade que assumo quando decido não vacinar meu filho e dos riscos que coloco ele por essa decisão. Sempre disse aos meus amigos que cada um deve se responsabilizar e sustentar o que pode e assumir os riscos de um lado e de outro, pois existem riscos dos dois lados. 

Tenho medo do que está por trás dos interesses da indústria farmacêutica. Temo, temo, temo, mas sigo. Penso que no fim chegarei no ponto em que possa dormir em paz e preservar meus filhos e o mundo da melhor maneira.

Marilu Cunha

Formada em Geografia e Administração, mas atualmente maternando três filhos