Porteiro em áudio não é o mesmo que diz que falou com 'Seu Jair', diz jornal

Gravação divulgada por Carlos Bolsonaro traz outro funcionário

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  • Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2019 às 19:04

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/TV Globo

O porteiro que prestou depoimento duas vezes à Polícia Civil e anotou em um caderno de visitas que Élcio Queiroz pediu para interfonar para casa de Jair Bolsonaro não é o mesmo que teve áudio divulgado por Carlos Bolsonaro. A informação é do colunista Lauro Jardim, de O Globo. A menção a Bolsonaro poderia levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas o Ministério Público do Rio afirmou que o porteiro que foi ouvido mentiu. O procurador-geral Augusto Aras afirmou que a menção foi arquivada.

No áudio divulgado por Carlos, o porteiro aparece interfonando e falando com Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco, que mora no mesmo condominio que Carlos e Jair. Mas foi outro o porteiro quem anotou no caderno de visita que Élcio iria para a casa 58, do então deputado e hoje presidente Bolsonaro. Esse porteiro que fez a anotação prestou dois depoimentos à polícia, mantendo sua versão de que Élcio teve entrada autorizada por "seu Jair". Dentro do condomínio, ele de fato se dirigiu à casa de Ronnie Lessa, diz o porteiro, que acompanhou a movimentação pelas câmeras. Ele voltou a entrar em contato com a casa 58 e "seu Jair", conforme identificou, disse que sabia para onde Élcio ia.

Este porteiro, que foi ouvido em outubro, ainda está de férias. O MP-RJ diz que fez perícia nos áudios do condomínio de Bolsonaro - segundo o Estadão, o procedimento todo durou 2h25 e foi feito após reportagem do Jornal Nacional expor o caso. A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais criticou a rapidez. "O prazo padrão que nós damos dentro da pericia é normalmente 30 dias. Não quer dizer que vá demorar 30 dias. Pode ser um pouco antes disso, como pode ir um pouco além, mas esse é o padrão", afirma o presidente, Marcos Camargo.

Élcio Queiroz é apontado pela polícia como o motorista do carro usado na morte de Marielle e de Anderson Gomes. Ele e Lessa estão presos desde março.

Leia abaixo a íntegra de nota divulgada pela Associação dos Peritos do Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, 01/11/2019

A APERJ vem a público, diante dos últimos acontecimentos noticiados pela mídia, esclarecer sobre os exames nos arquivos que tratam da entrada de visitantes no condomínio Vivendas da Barra, onde reside o presidente Jair Bolsonaro; arquivos estes que foram objetos de exame do grupo de técnicos do MPRJ que, segundo reportagens, analisou um CD contendo as gravações questionadas.

Em primeiro lugar é importante esclarecer que este material não foi encaminhado para a Perícia Oficial da Secretaria de Estado de Polícia Civil (SEPOL), não tendo sido realizado nenhum laudo oficial.

Em segundo lugar, os Peritos do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) são altamente capacitados e competentes para realizar tais exames. Sabendo que o equipamento gravador é o meio original da gravação, este precisa ser arrecadado, preservado e examinado. Se não for assim, não há condições de identificar se houve montagem, com supressão ou acréscimo de arquivos.

A boa técnica jurídica exige que a perícia seja realizada diretamente na mídia original e por peritos oficiais.

Direção da APERJ