Presente tamanho família: a Páscoa de Léo após voltar ao Vitória

Em entrevista exclusiva ao CORREIO, lateral fala pela primeira vez após retorno à Toca do Leão

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  • Daniela Leone

Publicado em 12 de abril de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Acervo Pessoal

Contratado pelo Vitória há exatamente um mês, Léo dribla diariamente a vontade de reestrear com a camisa rubro-negra. "A ansiedade está a mil", admite. Ele foi anunciado pelo clube em 11 de março, mesmo dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que o mundo enfrentava uma pandemia do novo coronavírus. Uma semana depois, as atividades na Toca do Leão foram suspensas para evitar o contágio da Covid-19. “Eu já tinha dois meses parado, doido para voltar a jogar. Aí, quando assina o contrato, pára o futebol”, lamenta o jogador, que não chegou a ser apresentado oficialmente à imprensa, praxe no futebol.

Sem clube desde dezembro, quando amargou o rebaixamento com o Avaí, Léo passou o mês de fevereiro treinando na Toca do Leão com o time sub-20, que é comandado por Rodrigo Chagas, mesmo técnico que o aprovou aos 17 anos, quando chegou à base do Vitória. “No mês de janeiro eu fiquei parado. Aí, em fevereiro, fui lá no Barradão e conversei com Paulo Carneiro (presidente) e ele me deixou treinar lá. Não sei se é coincidência, mas quando eu comecei no Vitória, foi o professor Rodrigo Chagas que me passou no teste do juvenil. Acabei assinando como se fosse no começo”, contou durante entrevista exclusiva ao CORREIO.

Essa é a primeira vez que Léo fala com a imprensa, mas foi através dela que a avó ficou sabendo do novo contrato. Moradora do bairro de São Marcos, próximo ao Barradão, dona Cremildes, 84 anos, criou o neto desde os quatro anos, quando a mãe morreu, e se emocionou ao saber que ele voltaria a vestir a camisa do time do coração dela. “Eu ia fazer uma surpresa, mas no dia que eu ia falar, ela ficou sabendo pela televisão, no Globo Esporte. É que ela acompanha tudo, aí descobriu. Ela é louca demais, muito doida mesmo pelo Vitória. Me disseram que ela deu um pulo, quase chora”, disse Léo. O vínculo dele com o Vitória é até dezembro, mas o contrato tem uma cláusula de renovação automática por mais um ano em caso de acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. 

Léo ainda não treinou com o técnico Geninho. "Eu estava treinando com o pessoal que não estava indo para os jogos. Eu já estava integrado ao grupo, só que treino mesmo com Geninho não tinha feito ainda, só com os auxiliares Flávio Tanajura e Bruno Pivette, e com o preparador Ednilson Sena", afirmou o lateral, que já está regularizado. Ele teve o nome publicado no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF dois dias após a suspensão das atividades no CT rubro-negro.

Enquanto não pode entrar em campo, Léo mantém a forma física na companhia da esposa Liliane e dos filhos Zaqueu, 2 anos, e Tifany, 9. A casa onde moram, em um condomínio fechado em Vilas do Atlântico, tem área gramada, piscina e alguns aparelhos de musculação. “Não é como no clube, mas faço bastante trabalho de força, funcional, corro no condomínio”. Isso quando não está se exercitando na função de pai. “Zaqueu é demais. Quer brincar de boneco, bicicleta, bola. Ele é bem agitado”. O pequeno só sossega diante da televisão vendo Pocoyo. “Às vezes, quando não dá pra brincar, eu boto no desenho”.

Visita 

No domingo de Páscoa, as crianças vão passear. A família vai quebrar o isolamento social para visitar dona Cremildes. “Ela sempre faz um almoço para os filhos, netos, todo mundo. Só que com essa pandemia, ela falou que não queria muita gente, aí ela chamou só os mais próximos. O que eu puder fazer pra deixar ela feliz, eu faço”, diz o lateral, que é soteropolitano, mas não passa a Semana Santa na capital baiana há oito anos.

A avó não dá a ele apenas dengos e comida gostosa, mas também conselhos para a profissão. “Eu sempre converso com ela. Já me disse que eu tenho que tomar cuidado com o juiz, ficar calmo para não sair do jogo. É que eu antigamente tomava muito cartão, reclamava muito”. Léo recebe o carinho da avó, dona Cremildes, torcedora do Vitória Aos 28 anos, Léo se considera um atleta bem diferente daquele que deixou o Vitória em janeiro de 2013 para jogar no Athletico-PR. “Sou mais experiente. Já passei por certas coisas no futebol que me deixaram maduro e mais consciente. Hoje, eu sei o que tenho que fazer no campo na hora de marcar e atacar. Sou um atleta mais educado. Antes, eu tinha a cabeça muito esquentada. Me considero um atleta mais experiente e mais completo, que quer trabalhar mais, dar mais nos treinos e jogos”, afirmou o jogador, que defendeu também Flamengo, Internacional, Coritiba e Fluminense.

Nas passagens pelos outros clubes, Léo conheceu dois atletas do atual elenco do Vitória. “Trabalhei no Coritiba com Thiago Carleto e com Alisson Farias no Internacional. Alisson tinha acabado de subir, mas o Carleto a gente jogou muito junto no Coritiba. Isso facilita, porque a gente conversava bastante, quando eu ia ele pedia para eu ficar, ele também já sabe que eu vou muito no ataque. A preocupação maior é com o entrosamento com os zagueiros, que ainda não conheço”, pontua o lateral direito, que vai brigar por posição com Van e Jonathan Bocão.

“Pra ganhar a vaga, vou ter que trabalhar forte e dar sempre o meu melhor. Gostei muito de voltar para o clube onde eu fui criado, clube que minha avó ama e meus parentes todos torcem. Vou fazer de tudo pra que dê tudo certo e espero que no final do ano a gente consiga subir para a primeira divisão”, projeta Léo. Dona Cremildes está na torcida.