Presidente do BNDES detalhará 'abertura da caixa preta' e crédito a jatinhos

Detalhamento de operações foi mencionado por Bolsonaro, que citou Huck

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 13:22

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marcos Corrêa/PR/Divulgação

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), Gustavo Montezano, deu alguns detalhes sobre o trabalho de análise e fiscalização de antigas operações concedidas pelo banco - esforço que tem sido chamado de "abertura da caixa preta" pelos membros do governo de Jair Bolsonaro. Ele prometeu detalhar a compra de cerca de 130 jatinhos financiada pelo banco de fomento. Entre eles, está o do apresentador Luciano Huck.

Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta sexta-feira, 16, o presidente do BNDES disse que foram identificados desvios no trabalho passado do banco, como o financiamento para empresários comprarem jatinhos particulares entre 2009 a 2013, em torno de 130 aviões, número que será revelado oficialmente na próxima segunda-feira, 19.

O detalhamento dessas operações também foi mencionada pelo presidente Jair Bolsonaro na noite de quinta-feira nas redes sociais.

"Todo o pessoal com jatinho, gente amiga do rei. Gente que tá dizendo por aí, por exemplo, que estamos no último capítulo do fracasso do Brasil. 'Eu sou opção para 2022'. Pode até ser, mas a gente vai mostrar o que você fez", disse Bolsonaro durante na redes sociais, ao mencionar que o dado será divulgado na segunda-feira - mesma data mencionada por Montezano.

À Rádio Gaúcha, o presidente do BNDES disse que o banco teria sido usado para financiamento a juro zero a clientes bilionários, numa época de crise econômica. Também criticou a gestão do passado quanto a fomento de infraestrutura no exterior, gerando calotes, e que os dados virão a público até setembro, segundo ele, os quais se referem principalmente a financiamentos para obras em Cuba, Angola, Venezuela e Argentina.

Ele citou ainda um erro operacional em financiamentos à JBS - caso já comentado na imprensa.

Polêmica com Huck Nessa quinta (15), em uma transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro afirmou que na próxima segunda-feira vai revelar quem comprou jatinhos com recursos do BNDES, ao abrir a "caixa-preta" da instituição. Segundo ele, o anúncio vai expor "gente que está dizendo que estamos no último capítulo do fracasso". Foto: GShow e Evaristo Sá/AFP Bolsonaro não citou nomes. A declaração, no entanto, foi uma referência indireta à fala do empresário e apresentador Luciano Huck, que, na quarta, durante um evento em Vila Velha, no Espírito Santo, criticou o governo federal ao participar do debate "Futuro do Brasil", como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo.

"A gente precisa de gente nova na política, com todo respeito a esse governo. Esse governo foi eleito de maneira democrática. Mas eu não acredito que a gente está vivendo o primeiro capítulo da renovação. Para mim, estamos vivendo o último capítulo do que não deu certo", afirmou Huck na ocasião.

Na transmissão dessa quinta, Bolsonaro disse que pretende "mostrar a primeira parte da caixa-preta do BNDES". Essa era uma bandeiras da campanha do presidente, que, em junho, demitiu o então presidente do banco estatal, Joaquim Levy. Uma das justificativas foi a de que Levy não se esforçou para abrir a "caixa-preta" do banco.

Para bolsonaristas, o banco estatal, que emprestou bilhões para a Venezuela, Cuba e empreiteiras, precisa quitar o quanto antes sua conta com a União. Ainda na "live", Bolsonaro declarou que o governo vai mostrar casos sobre o banco de pessoas que não tinham como se beneficiar desses recursos por não serem "amigos do rei".

Em fevereiro do ano passado, quando Huck ainda era cotado como presidenciável, o jornal Folha de S.Paulo publicou reportagem segundo a qual o empresário usou, em 2013, um empréstimo de R$ 17,7 milhões do programa Finame do BNDES para comprar um jatinho particular da Embraer. À época, Huck disse, via assessoria, que "o Finame é um programa do BNDES de incentivo à indústria nacional, por isso financia os aviões da Embraer" e que usava o avião duas vezes por semana para gravar seu programa de TV.

No debate em Vila Velha, Huck, além de dissociar o governo Bolsonaro da "renovação política", reforçou um discurso centrado na prioridade da educação de qualidade e no combate à pobreza - desafios do País que, segundo ele, devem ser enfrentados por sua "geração".