Presidente do Safernet se refugia na Alemanha após receber ameaças de morte

Funcionário foi vítima de episódio violento em Salvador; computador foi invadido

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  • Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2021 às 15:29

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Safernet

O presidente da organização de defesa dos direitos humanos na internet SaferNet Brasil, Thiago Tavares, comunicou nesta segunda-feira (6), através de nota oficial da instituição, que se exilou na Alemanha após ter recebido ameaças de morte no Brasil. O voo da TAP que o levou decolou de Salvador na noite de sexta-feira (3) após fazer uma rápida escala em Lisboa/Portugal.

As ameaças se intensificaram em outubro, quando Tavares participou do II Seminário Internacional do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em um painel sobre desinformação e campanhas de ódio, ele abordou temas como interferência eleitoral e neonazismo no País. Desde então, ele relata ter sofrido "seguidas ameaças, inclusive de morte".

"O auto-exílio ou exílio voluntário é medida extrema – e jamais aplicada desde a fundação da instituição em 2005 – quando a segurança pessoal de funcionário, colaborador ou diretor da SaferNet Brasil encontra-se em grave e iminente risco. É justamente o que ocorre", diz nota.

Segundo o pronunciamento da organização, os ataques ganharam outra dimensão na noite do dia 22 de novembro de 2021, quando um funcionário da organização sofreu um sequestro relâmpago e foi abordado de forma violenta por quatro criminosos armados, em Salvador.

Os sequestradores levaram seu celular e laptop, além de empregarem violência de teor LGBTfóbico. Segundo a SaferNet, Tavares estava a apenas 800 metros do local onde aconteceu a abordagem.

Este mês, foram encontradas evidências de comprometimento do laptop de Thiago Tavares pelo programa Pegasus, conhecido por ser usado para espionar jornalistas e ativistas de direitos humanos de forma ilegal. O relatório técnico, com 28 páginas, foi compartilhado com a Apple, Adobe e o CERT.br.

Por fim, na mesma tarde, uma familiar de Thiago Tavares sofreu traumatismo cranioencefálico ao desembarcar de um Uber na capital baiana, precisando ser internada em UTI. O documento não dá detalhes sobre o que aconteceu.

“A proximidade dos fatos, somado às ameaças que já vinha recebendo, não deixou alternativa a Thiago Tavares a não ser deixar o país, temporariamente, até que as circunstâncias dos fatos sejam totalmente esclarecidas e sejam restabelecidas as condições de segurança pessoal para o desempenho de suas atividades profissionais e acadêmicas no Brasil, seja como defensor dos direitos humanos, seja como especialista em tecnologia”, diz a nota.

O TSE ainda se pronunciou através de nota de repúdio. Disse que considera "absurdo o uso da violência na tentativa de cercear a importante atividade de combate à desinformação e defesa dos direitos humanos na internet". O Tribunal enfatizou a necessidade de apuração do caso por autoridades competentes.

Thiago Tavares tem uma carreira profissional e acadêmica de 20 anos reconhecida no Brasil e no exterior. No país, já exerceu funções de conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (2014 a 2020), membro do Conselho de Administração do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br (NIC.br), entre 2017 a abril de 2021, membro titular do Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições do Tribunal Superior Eleitoral (2017/2018), dentre outros.

O exílio voluntário ou autoexílio é um direito fundamental reconhecido internacionalmente e garantido a alguns indivíduos que, sentindo-se ameaçados ou vítimas de perseguição política, racial ou religiosa, podem buscar exílio por iniciativa própria em outros países. No Brasil alguns casos conhecidos de autoexílio são de artistas e intelectuais como Chico Buarque de Holanda, que passou mais de um ano na França e na Itália, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que auto exilou-se no Chile e na França durante o regime militar.