Preso, suspeito de ataque no Cabula diz que confundiu soldado com membro de facção

Familiares do homem levaram a polícia até Itapuã, onde ele estava foragido

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  • Da Redação

Publicado em 12 de março de 2020 às 16:30

- Atualizado há um ano

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Um dos suspeitos de envolvimento no ataque que matou o soldado do Exército Fernando Silveira Gardiano, 21 anos, foi preso nesta quinta-feira (12), no bairro de Itapuã. 

Fernando e um amigo foram espancados no último domingo (8) e forçados a nadar na Lagoa da Pedreira, que fica na localidade da Timbalada, no cabula, enquanto eles atiravam contra a dupla. O amigo de Fernando sobreviveu e já teve alta hospitalar. Fernando desapareceu após ser espancado (Foto: Acervo Pessoal) De acordo com o delegado titular da Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM), Odair Carneiro, familiares do suspeito levaram os policiais até o local onde o foragido estava. À polícia, o homem disse que confundiu os dois soldados com criminosos.

“Ele informou que, inicialmente, confundiu as vítimas com membros de uma facção e, ao perceber que se tratava de militares, ele e os comparsas resolveram agredí-los e atirar contra eles”, explicou.

Além do suspeito preso nesta quinta-feira (12), outro envolvido no crime morreu em um confronto com policiais militares, no próprio domingo (8), na região do Cabula. Um adolescente também é apontado como suspeito de participar da ação criminosa e segue foragido. 

Relembre o caso Era por volta das 2h de domingo quando  três soldados do 6° Batalhão de Polícia do Exército, sediado em Salvador, retornavam de uma festa, de carro. Após um deles ter sido deixado nas proximidades de sua residência, na localidade de Timbalada – comunidade que fica atrás do Colégio Estadual Governador Roberto Santos –, no Cabula, os outros dois foram abordados por um grupo de bandidos armados.

Criminosos que fazem parte da facção Comando da Paz (CP), uma das maiores do estado, espancou dois soldados e, depois, obrigaram os homens a nadarem na lagoa e fugir atravessando pela água, enquanto atiravam contra eles.

Um dos soldados conseguiu atravessar a Lagoa da Pedreira e pedir ajuda. Segundo o Comando da 6ª Região Militar, ele está no Hospital do Exército, em Salvador, para a realização de exames e encontra-se em observação. O outro, Fernando Silveira Gardiano, 21 anos, desapareceu.

Um corpo foi encontrado na lagoa nesta segunda-feira (9) e foi levado ao Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, onde, segundoo Departamento de Polícia Técnica (DPT) permanecia até as 18h desta segunda, passando pelos procedimentos para confirmar se trata-se do soldado. Segundo a família dele,  "tudo indica que o corpo é dele". O carro de Fernando foi encontrado ainda na comunidade e levado para perícia. 

Apesar do corpo ainda passar pelo processo de reconhecimento, a Polícia Civil informou ao CORREIO nesta segunda-feira (9), por meio de nota, que "a Delegacia de Homicídios (DH/Múltiplos) investiga a morte do soldado do exército Fernando da Silveira Guardiano, que teve o corpo encontrado em um lago, na comunidade da Timbalada, no Cabula". Acrescentou ainda que "a autoria e motivação são apuradas".

Corpo encontrado e comoção Era por volta das 6h30 quando os primeiros mergulhares do Corpo de Bombeiros retomaram as buscas na lagoa – no domingo, iniciaram por volta das 16h, mas encerraram às 18h, pela falta de luminosidade.

“O nosso grande problema aqui é visibilidade na água, apesar do dia. A água é muito escura e suja. Só é possível enxergar com o uso de uma lanterna. É uma lagoa com profundidade de até 50 metros”, declarou o capitão do Corpo de Bombeiros Ricardo Almeida. 

Depois idas e vindas, um dos mergulhadores sinalizou o encontro do corpo de um homem que estava submerso há poucos metros da margem esquerda da lagoa, por volta de 11h. “Estava camuflado na vegetação”, declarou Almeida.

Retirado das águas, o corpo usava apenas um short, estava rígido e o cheiro característico de decomposição já se apresentava forte. 

A retirada do corpo comoveu alguns moradores da Timbalada. “Meu Deus, tão jovem. Imagino a dor dessa mãe, desse pai”, disse uma mulher que chorava abraçada à outra moradora.

Ao serem questionadas sobre o que poderia ter acontecido com o rapaz, uma delas respondeu: “Eu e meu marido só escutamos os tiros, mas não saímos de casa. Aqui, infelizmente, não podemos fazer nada. Quem fala demais paga com a vida”, respondeu ela, antes de deixar o local.

O motivo do medo delas estava estampado nas paredes do entorno da lagoa. A sigla “CP” e a escrita “Tudo 2” estavam na maioria dos muros das casas. Isso é sinal de que o comando do tráfico de drogas no local é da facção.

“Eles são audaciosos e cruéis. Foram eles que deram fim no cabo”, disse um dos policiais da 22ª Companhia Independente (Narandiba), acionados para garantir a segurança dos bombeiros que faziam as buscas. 

O policial fez referência ao cabo da Polícia Militar Gustavo Gonzaga da Silva, 44 anos, morto em setembro de 2018, no final de linha do bairro Santa Cruz – a região é o "quartel-geral" do CP. O cabo passava pelo local em um veículo Onix, quando foi cercado por indivíduos da região que efetuaram disparos de arma de fogo. Gonzaga reagiu, mas foi atingido e não resistiu aos ferimentos.  O PM foi torturado e teve mutilações no corpo.