Primeira audiência do Caso Daniel tem bate boca entre advogados 

Casal acusado se reencontrou pela 1ª vez desde o crime

  • D
  • Da Redação

Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 13:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Giuliano Gomes/PR Press/Estadão Conteúdo

O primeiro dia de audiência de instrução do caso Daniel, na segunda-feira (18), teve três depoimentos de testemunhas - ao todo, entre as de defesa e acusação, são 77. A audiência decidirá se os acusados vão a júri popular. O fórum de São José dos Pinhais, no Paraná, teve momentos de tensão, com bate boca entre advogados.

Falaram à juíza Luciane Regina Martins de Paula Lucas Mineiro, Eduardo Purkote e uma testemunhas sigilosa que não teve o nome divulgado. Os depoimentos continuam em nova audiência nesta terça. 

Os réus assistiram a audiência. Edison Brittes Junior, mais magro, chegou algemado. A esposa e a filha, Allana e Cristiana Brittes, chegaram juntas. O advogado Cláudio Dalledone Júnior afirmou que Edison, conhecido como Juninho Riqueza, emagreceu por conta do desgaste emocional e das circunstâncias da cadeia. Os outros três acusados, David Vollero, Ygor King e Eduardo Henrique da Silva também chegaram algemados, sob escolta da polícia.

Bate boca O defensor Dalledone e o assistente da promotoria, Nilton Ribeiro, tiveram uma confusão durante a audiência, com os dois chegando a subir a voz.

"Ele está falando alto e a juíza interrompeu. Temos excessos do assistente de acusação. Ele está se exaltando, porque as coisas estão fugindo do controle", afirmou Dalledone, já após a audiência.

Nilton afirmou que a defesa buscar "tirar o foco" com outras situações para atenuar a gravidade do crime. "Ao meu ver, a defesa está tentando jogar fumaça para desviar o foco, mas o crime é bárbaro e hediondo. As testemunhas dizem que Daniel pediu 'socorro, por favor não me matem". afirma.

Reencontro Edison e Cristiana tiveram o primeiro reencontro desde que os dois foram presos. Eles trocaram palavras na audiência. O advogado afirmou que foram apenas "conversas triviais"."Eles estão na mesma sala, estão conversando e estão ali aguardando e acompanhando os depoimentos. Eles podem conversar, mas a polícia está vigiando. Questões que fujam da normalidade estão vigiadas, estão sendo monitoradas. Trivialidades eles podem conversar", disse ele, segundo o Uol.O defensor afirmou que são assuntos "dentro do contexto da normalidade" e nenhum tema sensível. "É a primeira vez que eles se encontram desde a prisão e evidentemente isso emociona a todos", destaca. 

Família da vítima A mãe de Daniel, Eliana Correia, foi com a irmã Regina para acompanhar as audiências. "Eu tenho pena dele (Edison Brittes), ele é um infeliz", disse ela, emocionada, à imprensa. A mãe ainda não foi ouvida. Ela pediu que os defensores respeitem a memória do filho morto.  "Somos a voz do Daniel. Eles calaram a voz do Daniel, mas não vão calar nossa voz. A pior coisa que tinham para fazer eles já fizeram. Eu peço ao Cláudio (Dalledone) que ele respeite a memória do nosso sobrinho, ele tentar denegrir a imagem do Daniel e está nos fazendo sofrer mais", ressaltou. 

Na porta do fórum, manifestantes pediam justiça por Daniel, exigindo a pena máxima aos réus.

Como são muitas testemunhas, as audiências devem acontecer pelo menos até quarta (20). (Foto: Estadão Conteúdo) Relembre Daniel Correa foi morto em 27 de outubro do ano passado, depois da festa que celebrou os 18 anos de Allana Brites. A comemoração se iniciou em uma boate de Curitiba e seguiu para a casa da aniversariante onde, durante a madrugada, o atleta foi espancado. Depois, ele foi levado de carro para uma região próxima a um matagal, onde terminou de ser morto.

O jogador foi degolado e teve o pênis decepado. Edison confessou o crime. Ele alegou que Daniel tentou estuprar sua mulher, Cristiana, e isso deu início à sessão de espancamento, ainda na casa. O trio que estava com ele no carro, David Vollero, Ygor King e Eduardo da Silva, também foi preso por participação no crime, assim como Cristiana e Allana.

A polícia diz que além de matar Daniel, Edison ainda ameaçou as testemunhas do crime e fez com que elas limpassem a casa para eliminar provas da presença do jogador no local.

A sétima ré denunciada à Justiça é Evellyn Perusso, que ficou com Daniel ainda na boate. A garota, amiga de Allana, responde por falso testemunho e denunciação caluniosa por ter implicado uma testemunha no caso que, para o Ministério Público, não teve participação. 

Veja quem são os indiciados:Edison Brittes, empresário que confessou ter matado Daniel. Ele responderá por homicídio qualificado e ocultação de cadáver; Eduardo da Silva, parente de Cristiana, que espancou o jogador na casa e estava no carro em que ele foi levado ao matagal. Foi indiciado por homicídio qualificado e ocultação de cadáver; Ygor King, também espancou o jogador e estava no carro em que ele foi levado ao matagal. Vai responder por homicídio qualificado e ocultação de cadáver; David Willian da Silva, namorado de Allana, também espancou Daniel e estava no carro. É suspeito de homicídio qualificado e ocultação de cadáver; Cristiana Brittes, esposa de Edison. Indiciada por coação de testemunha e fraude processual; Allana Brittes, filha de Edison, vai responder por coação de testemunha e fraude processual Evellyn Perusso, amiga de Allana, vai responder por denúncia caluniosa e falso testemunho. (Foto: Divulgação) Cronologia do crime Sexta (26): Daniel chega a Curitiba. Ele vai a duas festas, inclusive o aniversário de Allana em boate Sábado (27): A festa continua na casa da família de Allana, em São José. O crime aconteceu este dia. O corpo foi achado neste mesmo dia em um matagal. Segunda (29): Amigo reocnhece o corpo de Daniel Quarta (31): Corpo de Daniel foi velado em Minas Gerais Quinta (1): Suspeito de matar Daniel é preso e confessa crime. Mulher e filha também foram presas Sexta (2): Perícia é feita na casa onde Daniel foi espancado

Linha do tempo (com informações da TV Globo) 21h30: Daniel chegou a Curitiba na sexta à noite, por volta das 21h30. Ele deixou as malas na casa de um amigo, com quem iria se hospedar, e saiu depois de um banho para uma festa, a primeira da noite.

00h: Por volta de meia-noite, ele e o amigo seguiram para o aniversário de Allana, em uma boate da cidade. Eles tinham convites para a festa, entregues pelo próprio pai da aniversariante.

05h40: O amigo de Daniel vai embora da boate. O jogador prefere ficar e diz que vai seguir para a casa de Allana, na Região Metropolitana, onde a festa seguiria

06h36: Daniel avisa ao amigo por mensagem que já estava na casa de Allana. Uma testemunha  contou à polícia que os convidados estavam ouvindo música e bebendo. Cristiana, que segundo a família não estava bem, foi a primeira a ir deitar. Outras pessoas também se recolheram. Ficaram na festa Daniel, Edison e outras oito pessoas

08h07: Daniel começou uma conversa com outro amigo. Ele contou que estava em uma festa, com várias pessoas dormindo. Por áudio, ele respondeu ao amigo, que perguntou se estava bêbado, e disse que "não muito". Ele falou também que tinha uma "coroa" na casa, que era a mãe da aniversariante, e que faria sexo com ela. Afirmou ainda que o pai estava junto. O amigo diz para ele se cuidar e que poderia ser expulso da casa. Daniel mandou uma foto ao lado de Cristiana, que aparenta estar dormindo. O amigo quer saber se ele fará sexo com ela acordada ou dormindo

 08h34: Daniel manda uma nova foto ao lado de Cristiana para o amigo e diz que fez sexo com ela. Depois, ele manda a seguinte mensagem, a última: "O que aparecer amanhã é nóis". O amigo quer saber o que isso quer dizer, mas Daniel não responde mais. Posteriormente, o amigo disse à polícia que ele, Daniel e outros dois colegas tinham um grupo de WhatsApp onde mandavam fotos das "conquistas" amorosas, geralmente quando a mulher estava dormindo

10h30: Corpo do jogador é encontrado, ainda sem identificação, em um matagal, com mutilações, marcas de faca e sinais de tortura. 

À noite: O amigo que hospedou Daniel fica preocupado porque ele não deu mais notícias e eles tinham um compromisso. Ele manda mensagem para Allana, que afirma que o jogador foi embora sozinho da casa dela. Este amigo foi quem reconheceu o corpo do jogador, dois dias depois.