Primeira QuantA ao vivo: só sei que foi assim

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 22 de março de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Na noite de quarta (20), o Teatro Eva Hertz (Livraria Cultura, Salvador Shopping) estava lotado quando Elaine Assis, Mariana Régis, Satta Prem e Major Denice subiram ao palco. Uma baiana de acarajé, uma advogada, uma terapeuta tântrica e uma policial militar. Todas profundamente conectadas com o feminino e suas questões. As quatro já haviam passado pela versões impressa e digital da QuantA e estavam ali pra continuar uma conversa que não tem fim. Empreendedorismo, nossos embates nas varas de família, sexualidade e violência doméstica. Papo pra mais de metro que só com muita conexão caberia em uma hora e meia. Coube. Redondinho, quente, animado, divertido e sério pra caramba.

A Major – idealizadora e comandante da Ronda Maria da Penha - afirma que a maioria das mulheres já viveu pelo menos um relacionamento abusivo, a terapeuta tântrica lembra que cerca de 70% das brasileiras jamais tiveram um orgasmo, a baiana de acarajé informa que a sua profissão – essencialmente feminina – só recentemente foi legalizada, a advogada diz com todas as letras: “Na imensa maioria das vezes, são as mulheres que pedem as separações”. Sabem qual é o motivo? CANSAÇO. Sim.

Todas trabalhadoras, duas delas são mães. Elaine e Major Denice conhecem de perto a cobrança social de “cuidar dos filhos como se não houvesse trabalho e trabalhar como se não fosse mãe”. As quatro sabem da dificuldade de manter um parceiro fixo, quando a vida profissional é intensa. Se somos cobradas a receber com carinho nossos homens chegando do trabalho, a recíproca não é verdadeira. Elaine lembra que quase todas as baianas de acarajé que conhece estão solteiras, por exemplo. Solidão da mulher negra, solidão da mulher que trabalha. Solidão? Quem ainda não o fez, precisa ligeiro ressignificar as relações, o lugar do casamento, na escala de prioridades. Não é necessário casar. Isso, todas sabíamos, felizmente.

As perguntas do público nos fizeram refletir com Satta sobre o quanto o falocentrismo atrapalha nosso prazer. Escutamos muitas vezes “se toquem” e isso não é uma metáfora. Com Mariana, ficamos sabendo um pouco mais sobre como nos proteger em nossos relacionamentos. Buscar advogadas e elaborar acordos pré-nupciais pode evitar muitos problemas.  A major nos lembrou dos sinais dos relacionamentos abusivos e Elaine dividiu dicas para quem quer empreender. Questionamos, todas, o romantismo tradicional que nos vulnerabiliza e, muitas vezes, nos transforma em presa fácil para quem quer nos ver morrer. Fisicamente, mas também no sentido simbólico. Isso acontece todo dia.

Conclusões? Algumas. Lembramos do silêncio (que atravessa as áreas de atuação das quatro mulheres presentes) sobre mulheres trans, por exemplo. É preciso mudar isso e a arma é visibilidade. Ressaltamos, também, a invisibilidade das mulheres que têm deficiências. Ainda há muito a caminhar, sabemos, mas é um bonito caminho. Continuaremos, portanto. Na web, no papel e também ao vivo. Com prazer, batom ou cara lavada, em cima de saltos ou relaxadas em sandálias, em uniformes ou trajes cheios de ancestralidade, analfabetas e pós-graduadas, gordas e magras, heteros e homossexuais, cis e trans, negras e mestiças e brancas, mães ou não. Todas. Todas! Cada uma do seu jeito, de mãos dadas. É só o começo. Obrigada e Evoé, irmãs!