Processo de retomada do turismo: cerca de 30% dos hotéis de Salvador estão abertos

Dentre os estabelecimentos abertos, a média de ocupação de leitos está na casa dos 26%

  • D
  • Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Real Classic Hotel

Salvador já está na fase 2 do plano de retomada, e um dos setores mais importantes da economia da cidade começa a responder positivamente a esse novo cenário.  Até o momento, um mês depois do início da fase 1, em 24 de julho, cerca de  30% dos 404 hotéis soteropolitanos já  estão funcionando. A média de ocupação de leitos  está na casa dos 26%. Mas a tendência é a de crescimento nas próximas semanas. A informação é da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (ABIH-BA). 

"Começando a ver um aumento na procura de turistas pela cidade. Isso é decorrente de Salvador ser um dos principais destinos do Brasil. A tendência é que com a reabertura de mais hotéis e da fase 3, mais visitantes venham para Salvador", afirmou Luciano Lopes, presidente da entidade. "Estamos voltando a funcionar aos poucos, até para ter oferta de hospedagem. Apesar de ainda estarmos muito longe do que éramos antes da pandemia, os dados vão melhorando mês a mês o que nos dá  esperança", complementa. 

Ainda não há um tipo de turismo que desponta nesta reabertura. Lopes diz que existe um mix de clientes de lazer e de negócios. Mas já foi observado um crescimento do fluxo interno, já que Salvador está sendo mais procurada por famílias do interior da Bahia. E quem vem a trabalho  geralmente atua em serviços essenciais, como na saúde. 

“As pessoas vêm de regiões e cidades próximas, muitas vêm de carro do interior do estado e até de Sergipe. A partir de agora que devem retornar os grupos que viajam de ônibus e avião”, disse Lopes, que seguiu: “As pessoas estão tendo ânimo para viajar, elas não aguentam mais ficar em casa. No ato da reserva, o turista pergunta o que está aberto. É mais uma viagem para descansar e esquecer dos problemas”.

Carro Assim como Lopes, o  secretário municipal de Cultura e Turismo (Secult), Pablo Barrozo, entende que a maioria dos visitantes que chega a Salvador agora é formada de baianos. “Antes da pandemia, cerca de 50% do público que vinha para Salvador já era baiano. As pessoas não estão com receio de viajar para Salvador, mas, de forma geral, existe um medo de viajar. O pior passou, mas temos que ficar atentos. No momento certo, vamos fazer as campanhas para chamar o turista”, complementou. 

O fluxo maior de turistas vindos de cidades próximas já era algo esperado, aponta a presidente da seccional baiana da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-BA), Angela Carvalho. “As pessoas estão chegando  mais de carro para evitar avião e  ônibus. A princípio, estamos recebendo muitas pessoas do interior da Bahia ou de estados próximos. A busca maior é visitar família e amigos, além do turismo de negócios”, garantiu. 

Guias e hotéis Os guias turísticos também já começaram a sentir o início da retomada do turismo com a vinda de visitantes do interior e de estados vizinhos para Salvador. De acordo com a presidente do Sindicato dos Guias de Turismo do Estado da Bahia (Singtur-BA), Rivanete Rodrigues, o terceiro final de semana do mês de agosto (15 e 16) registrou uma pequena movimentação no centro histórico. 

“Começaram a aparecer alguns turistas no centro. São pessoas da Bahia mesmo que vêm para Salvador por conta própria e fazem o 'walking tour' pelo Pelourinho. Praia do Forte também abriu e realizamos alguns passeios para lá”, disse. Ela ainda afirmou que a situação continua difícil para os 400 guias que atuam na cidade, apesar da retomada gradual.

Localizado em Itapuã, o Mar Brasil Hotel tem recebido cada vez mais famílias que buscam passar um final de semana curtindo as tardes tranquilas no bairro, contou a proprietária do estabelecimento e diretora de Relações Institucionais da ABIH-BA, Renata Prosérpio. “Se antes tinha muitos paulistas e argentinos que viajavam a lazer, agora temos pessoas que vêm passar alguns dias para fugir do apartamento e ficar em um hotel de frente para o mar”, ilustrou.

No Salvador Mar Hotel, a ocupação dos leitos têm melhorado e atingiu 40% na última terça (18), segundo a gerente Lígia Uchôa. Todos os hóspedes estavam na capital a trabalho, o que tem sido um movimento recorrente no estabelecimento, que já hospedava uma grande quantidade de turistas de negócios antes da pandemia. "As pessoas estão mais receosas para viajar a lazer, não é algo exclusivo de Salvador, mas um problema nacional”, contou.

O gerente geral do Real Classic Bahia, Luis Derieul, apostava no crescimento do turismo corporativo logo no começo da reabertura do hotel, que ocorreu em 29 de julho, mas o estabelecimento ainda amarga uma taxa de ocupação abaixo de 10%. “Existe o problema dos poucos voos e da pulverização dos hóspedes entre os hotéis abertos. Os números estão aquém do que esperávamos com o retorno. Se a ocupação estivesse na faixa dos 25%, nós estaríamos animados, mas com menos de 10%, a situação é bastante negativa”, pontuou Derieul.As agências de receptivo de Salvador têm uma percepção um pouco diferente. Para elas, o turismo nacional já está respondendo e começou a se fortalecer em agosto com a maior parte dos visitantes vinda dos estados da região Sul, conforme afirmou Liza Cornélio, diretora comercial da Alltour Viagens. “Estes turistas estão ficando nos hotéis da Pituba e de Itapuã. Os turistas conseguem fazer alguns passeios pela cidade e até passar um dia no Litoral Norte, mas o fluxo ainda é muito pequeno”, constatou.

O cenário para o turismo internacional ainda é mais complicado dada a suspensão dos voos entre os países. Dono da BM Tour, uma agência de receptivo que trabalha com o mercado internacional, Berckris Moreira teve todas as reservas dos meses de agosto e setembro canceladas. 

“Em outubro entraram algumas reservas, mas não em uma quantidade importante e não tem como garantir que essa demanda vai ocorrer. Os voos internacionais diretos para Salvador só devem voltar em setembro, com uma linha da TAP saindo de Lisboa. Mesmo com esse voo, todas as reservas realizadas pelo mercado europeu até dezembro foram canceladas”, afirmou Moreira.

Aumento gradual O setor espera uma retomada gradual do turismo. Proprietária do Mar Brasil Hotel, Renata Prosérpio já antecipava um período de baixa da ocupação logo no começo da reabertura de Salvador. No estabelecimento, a taxa de ocupação aumenta cerca de 2% a 3% ao mês, estando no patamar dos 30% em agosto.

“Essa volta da pandemia vai ser muito gradual, em especial no setor de hospedagem, pois as pessoas ainda estão muito receosas. Sem dúvidas quando houver a vacina vamos poder esperar algo mais consistente”, confia a empresária.

Alguns empreendimentos esperam que a procura pelos hotéis de Salvador cresça no fim do ano. A gerente Lígia Uchôa já observa uma crescente nas reservas de leitos no Salvador Mar Hotel entre os meses de outubro e dezembro. No Real Classic Hotel, os meses do verão também trazem esperança, afirmou o gerente geral Luis Derieul.

“A gente tem tido a reserva de alguns grupos para o verão e também tivemos poucos cancelamentos para o próximo ano. Acredito que os turistas ainda têm a expectativa da chegada da vacina entre dezembro e janeiro. Com a reabertura das praias, o turismo deve voltar aos poucos, mas o ano de 2020 deve ser sofrimento para o setor”, afirma Derieul, que acredita que o turismo na capital só deve voltar ao normal após a imunização em massa da população.

Antes da vacina chegar para normalizar o turismo, a presidente do Singtur também acredita que a retomada das viagens deve ser gradual. Para ela, a reabertura tem um papel fundamental na atração dos turistas para Salvador. “Pontos de grande atração como o Farol da Barra e o Rio Vermelho já estão ativos. Os estabelecimentos que já estão funcionando incentivam a visitação ao demonstrarem estar prontos para receber com segurança”, disse Rodrigues. 

O Singtur acredita que o cenário deve melhorar a partir de novembro após a reabertura total da cidade e o aumento da confiança do turista nos protocolos de prevenção de contágios. “Além da reabertura da fase 3 em Salvador, se espera que as festas de fim de ano aumentem a procura pela capital a partir de novembro”, previu a presidente da entidade.

Para a Abav, o fluxo de turistas na cidade deve crescer a partir de setembro com a possível reabertura das praias. “As pessoas vêm para Salvador buscando o turismo de praias, que estão fechadas. Algumas atividades culturais também estão fechadas. Temos um pouco de dificuldade para entreter o turista nesse momento”, indicou a presidente da entidade, que ressaltou que o turista ainda está criando a confiança nos protocolos de saúde de Salvador antes de fazer suas viagens. 

A dificuldade de acesso à capital também é um empecilho para a retomada do turismo, acredita Renata Prosérpio. De acordo com ela, Salvador é muito dependente dos voos dos Sul e do Sudeste, o que atrela a retomada do setor à reestruturação das malhas aérea.“Sem a retomada dos voos, vamos ter uma retomada muito lenta e gradual. Os hotéis perceberam isso, o que fez com que apenas alguns abrissem”, afirmou.Assim como os hotéis e os guias, as agências de viagem também estão no começo da retomada econômica. Atualmente, a Alltour Viagens funciona com apenas 10% da capacidade de atendimento, mas espera fechar agosto com uma taxa de 20%.

A diretora comercial da empresa aponta um aumento no número de reservas para Salvador em setembro. “As pessoas que vinham para Salvador no começo da pandemia começaram a remarcar para setembro. Também começaram a aparecer novas reservas a partir de dezembro em diante. Assim que o plano de reabertura foi divulgado, começou a movimentação para a remarcação e reservas”, afirmou Cornélio. 

Especializada em turistas argentinos, a BM Tour está à mercê da liberação dos voos da Argentina para Salvador, o que está previsto para acontecer em outubro, segundo Moreira. De acordo com ele, a crise econômica e a interdição das praias também são empecilhos para a vinda dos hermanos. 

Moreira acredita ainda que a baixa procura está condicionada ao medo de se infectar com o coronavírus. “Os moradores de países vizinhos estão com medo de vir para o Brasil. Além disso, ainda existem países que possuem restrições para viagens ao Brasil. Muitas vezes, um turista teria que fazer uma quarentena ao voltar para o seu país de origem, o que também é um empecilho”, pontuou.

O secretário de Cultura e Turismo aponta que este é o momento de focar na preparação da infraestrutura do turismo de Salvador para capacitar os agentes do setor para receber os turistas com segurança. “Esse é o momento de se preparar de forma responsável para que as pessoas possam voltar com segurança”, conclui Barrozo.

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco.