Produção de ovos na Bahia ainda se recupera da greve de caminhoneiros

Produção de ovos de granja cai até 33% no estado, mas concorrência deixa preço do "Carro do Ovo" intacto

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  • Georgina Maynart

Publicado em 21 de maio de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Georgina Maynart/CORREIO

Queda média de 30% na produção de ovos de granja. Este é o percentual de redução nas principais granjas baianas nos últimos doze meses. O dado se consolida exatamente esta semana, quando se completa um ano da greve dos caminhoneiros, período em que o setor avícola acumulou grandes prejuízos. 

A retração no número de ovos gerados pelas galinhas poedeiras do estado acompanha as tendências nacionais. Segundo o IBGE, a produção de ovos de galinha no Brasil caiu 3% entre janeiro e março deste ano em relação ao último trimestre de 2018.

Mas, a pesquisa também indica que o setor está em recuperação. Quando comparadas com o primeiro trimestre do ano passado, as estatísticas mostram que o volume de ovos já é 5,6% maior do que mesmo período de 2018. Granjas reduziram plantel e produção de ovos de granja em até 33% nos últimos 12 meses ( Foto: Georgina Maynart) Retomada Uma das maiores do Nordeste, a Granja Sossego, no município baiano de Entre Rios, no Nordeste do Estado, chegou a reduzir em 33% a produção de ovos do ano passado para cá. O volume diário caiu de 1.800 para 1.350 caixas de ovos. Isto significa quase 180 mil ovos a menos por dia, cerca de 5 milhões de ovos a menos por mês.

A queda na produção começou depois que a granja perdeu quase 60 mil aves durante a greve dos caminhoneiros. Sem ração própria e com os preços dos insumos em alta, a produção despencou. A granja chegou a demitir cerca de 80 funcionários. Agora, o clima é de retomada. “Estamos reestruturando lentamente a produção. E acreditamos na recuperação no segundo semestre. Os insumos usados na ração, como a soja e o milho, caíram um pouco de preço, e a caixa do ovo voltou a subir”, afirma Washington Bitencourt de Souza, coordenador de produção da granja. Na região, a caixa de ovos com 30 dúzias está custando cerca de R$ 82. Antes, podia ser encontrada por até R$ 65, valor que não cobria os custos de produção, segundo os avicultores.

Cautela Já na Granja Ipê, no município de Feira de Santana, no Centro-Norte da Bahia, a produção de ovos chegou a cair 25% nos últimos três meses. O volume mensal foi reduzido de 6,4 milhões de ovos para 4,3 milhões de unidades. 

Dois fatores estão sendo apontados para a retração. As remessas de ovos vindas de outros estados, que provocaram um excesso de oferta no mercado, fazendo o preço cair quase 50% no ano passado. Além disso, o aumento no valor das matérias primas, principalmente as usadas na ração, fez o custo de produção subir, desestimulando os avicultores.   

“Houve uma redução no plantel alojado, devido a problemas no fornecimento depois da greve dos caminhoneiros. As matérias primas também ficaram mais caras. Outro fator foi o baixo poder aquisitivo das pessoas, principalmente no segundo semestre. Isso fez os avicultores decidirem não aumentar a produção, para equilibrar a atividade”, explica Jair Francisco Naide, gerente da Granja Ovos Ipê.   Granja Ipê em Feira de Santana pode aumentar a produção de ovos de granja ainda este ano (Foto: divulgação) A expectativa é de que a produção volte a crescer ao longo do ano, mas em ritmo lento. 

“No segundo semestre, as aves produzem um pouco mais, principalmente depois do inverno. A produção aumenta, mas o consumo costuma cair. Por isso, estamos avaliando como a produção ficará nos próximos quatro meses, mas com muita cautela”, completa Jair.

Equilíbrio no Oeste Na região Oeste da Bahia, onde muitas granjas mantêm a fabricação da ração das aves na própria unidade, reduzindo assim os custos de produção, a situação é diferente. A produção está em plena expansão. 

Na Granja Ovos Emape, em Barreiras, no Extremo-Oeste, a expectativa é de aumento no volume de ovos. A granja produz mais de 7,7 milhões de ovos por mês e já planeja aumentar a produção para atender o mercado crescente de consumidores. “Tem cada vez mais gente consumindo ovos, por isso nós sempre pensamos em aumentar a produção. O único problema agora é a forte concorrência de fornecedores de outros estados. Eles não pagam impostos para vender aqui. Mas nós, se quisermos vender para fora, temos que pagar tributos que chegam a até 12%. Assim fica difícil”, pontua Francisco Edilailson Barros da Silva, gerente da Granja Emape.A caixa com 30 dúzias está saindo da granja por R$ 86,40, em média. 

De acordo com dados do Instituto Ovos Brasil, apesar de estar mais presente na dieta dos brasileiros, o consumo de ovo ainda é muito baixo em relação a outros países. Estima-se que cada brasileiro consome em média 212 ovos por ano, enquanto a média mundial é de 230 unidades. Em países como México, o consumo chega a 383 ovos por pessoa. A média recomendada pela Organização Mundial de Saúde é de 360 ovos por ano. 

Os nordestinos representam cerca de 25% do consumo nacional. O país produziu só no primeiro trimestre deste ano, cerca de 908 milhões de dúzias. 

Na Bahia, cerca de 80% dos ovos consumidos ainda vem de outros estados, principalmente Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo, maiores produtores do país. É que a Bahia ocupa apenas a nona posição no ranking nacional dos produtores de ovos. Em 2017, o estado produziu 81 milhões de dúzias, um percentual avaliado como pequeno diante dos 4,6 bilhões de dúzias produzidas no país.

"Carro do Ovo" mantém preço Nem promoção, nem elevação. R$ 10. Imune às oscilações do mercado, o popular “carro do ovo” continua circulando pela capital baiana anunciando a placa de ovos, com 30 unidades, ainda pelo mesmo preço do ano passado. 

Em 2018, logo depois da greve dos caminhoneiros, alguns vendedores até ensaiaram aumentar o preço do produto para R$ 11. Sem sucesso, a tentativa de alta não durou nem duas semanas, como informamos na época aqui no CORREIO. No "Carro do Ovo" a placa de 30 unidades continua com preço inalterado (Foto: Georgina Maynart) Agora, apesar da queda na produção, e dos supermercados estarem vendendo a placa com 20 unidades mais cara, por até R$ 13, o preço do “carro do ovo” continua estável. Os vendedores reconhecem que é uma estratégia para não perder a clientela.

“Se aumentar o preço, o pessoal chia, e as vendas diminuem. E a gente não pode vacilar, este é o nosso ganha pão. Até quando a produção diminuiu, e quase faltou ovo para revenda, mantivemos o preço para garantir o negócio”, diz Luciano Alves, vendedor do carro do ovo há quatro anos. Ele passou a vender ovos depois que ficou desempregado e preferiu não tirar fotos.“O pessoal compra muito ovo, e quer que a gente venha até a porta. Mas também tem gente que não gosta, reclama do barulho do megafone. Mas a gente não tem como vender sem anunciar que está chegando, né?”, completa.O empresário baiano Leonardo Araújo, criador do Site do Ovo, um clube de assinaturas de ovos pela internet, conta que, mesmo com a queda na produção baiana, vem mantendo o preço. “O preço aqui em Salvador não é determinado pela produção baiana, que é pequena. A grande maioria vem de fora. A gente não aumentou o preço porque trabalha com assinatura”, explica.

O plano mais em conta é o Fitness, que entrega 60 ovos por semana em domicílio. Cada placa com 30 ovos sai a R$ 13,50. O negócio até se expandiu: o que começou em Salvador há dois anos virou franquia, presente em 15 cidades do Brasil.

"O produto que a gente trabalha é totalmente diferente. A gente vende comodidade e com a garantia de que o cliente vai pdoer consumir todos os ovos que comprar. Se algum ovo tiver rachado, se quebrar, a gente repõe e ainda entrega em casa, com frete grátis", explica Leonardo.

Caipira valorizado Apesar do preço duas vezes maior, os ovos de galinha caipira estão em ascensão entre os consumidores. Enquanto uma dúzia do ovo de galinha de granja sai em média por R$ 4, a dúzia do caipira custa R$ 12, cerca de 200% mais cara. Mas os preços não assustam os consumidores mais exigentes. A procura não para de crescer, e vem incentivando a abertura de novas empresas.

Foi acreditando neste nicho diferenciado que Edna Maria de Souza decidiu investir em um antigo sonho. Depois que se aposentou, há dois anos, a especialista em informática abriu a própria granja num sítio que tinha no município de Serrinha, no Nordeste da Bahia. Começou com apenas 100 aves e hoje já tem 900 galinhas no plantel.  Promissoras no mercado, granjas de ovo caipira como a Edna Souza, em Serrinha, estão em expansão (Foto: acervo pessoal)  A produção já alcança 13.500 ovos por mês e 100% da produção é vendida em Salvador, para clientes que fazem a encomenda pelo WhatsApp.“As vendas cresceram 30% do ano passado para cá. A procura é tão grande que precisaríamos aumentar a produção para dar conta das encomendas. Esperamos crescer 60% este ano para atender a demanda”, conta a avicultora, que conta com a mão de obra do marido e do filho para manter a granja.  A principal diferença entre a galinha caipira e da granja está na forma de manejo do animal. Nas granjas de galinha caipira, a ave geralmente fica solta na área de criação.

A abertura de granjas tem provocado reflexos positivos em outros setores da cadeia produtiva, como na área de embalagens.

“Estimamos um aumento de cerca de 10% na venda de bandejas e caixas em relação ao ano passado”, diz Luis Paim, que trabalha comercializando embalagens para aves de postura há 40 anos. Ele vende cerca de seiscentas e cinquenta mil embalagens por mês, para pequenos, médios e grandes avicultores.

Especialista responde 

Considerada uma das atividades mais dinâmicas da agropecuária, a avicultura tem evoluído ao longo dos anos com a adoção de técnicas mais modernas para melhorar o desempenho das aves e a qualidade do ovo. Qualquer diferença chama a atenção do consumidor, da cor da gema ao tamanho do ovo e à textura da casca. O CORREIO conversou sobre o assunto com um dos maiores especialistas em avicultura e alimentação animal do Brasil, o zootecnista Ricardo Duarte Abreu.  Ricardo Duarte Abreu, Zootecnista (foto: Divulgação) O que influencia na textura e na cor da casca do ovo? 

A cor da casca do ovo é uma característica genética das aves, podendo variar para o branco, marrom claro ou escuro, vermelho, esverdeado, azulado, acinzentado, etc. Os ovos mais comercializados são os brancos e os vermelhos/marrons. Galinhas vermelhas mais velhas podem apresentar ovos mais despigmentados. Algumas linhagens comerciais vermelhas apresentam pigmentação mais desuniforme, enquanto outras, mais consistente. Algumas doenças de aves, que afetam o aparelho reprodutor destas, podem dificultar a pigmentação dos ovos também. Em relação à textura, podem ocorrer falhas na formação da casca (deposição de carbonato de cálcio) que pode ser devido às alterações funcionais no aparelho reprodutor e no metabolismo do cálcio.

O que torna a gema mais clara ou mais escura?

A cor da gema é devido à ingestão de pigmentantes presentes nos alimentos. O milho, usado na alimentação das aves, é rico em xantofilas (pigmentos carotenoides), promovendo uma gema bem amarela ou mesmo avermelhada. No entanto, outros alimentos como o sorgo e o milheto são pobres em pigmentos e prejudicam a coloração. Aves soltas em piquetes ingerem capim, folhas de diversas culturas e frutas que fornecem pigmentos também. Existem, além disso, alguns pigmentantes naturais comerciais que podem ser usados na alimentação das aves, provenientes do pimentão, da semente de urucum, da abóbora, entre outros, além de produtos sintéticos. Os pigmentantes carotenoides presentes na gema são antioxidantes naturais e precursores da vitamina A, além de melhorarem a resposta imunológica, então, são benéficos à saúde humana. Bom lembrar que estudos recentes revelam que o ovo ajuda a reduzir o risco de degeneração ocular, catarata e diabetes, estimula a produção de testosterona, fortalece os ossos, o cabelo e a pele, melhora o humor e a memória, e ajuda a reduzir o risco de câncer de mama. Especialista explica diferença entre ovos de cores diferentes. (Foto: Georgina Maynart) Quais os fatores que determinam o tamanho do ovo? 

Existe uma correlação direta entre tamanho corporal e tamanho do ovo, então, galinhas maiores botam ovos maiores, desde que recebam nutrição adequada. Os níveis de proteína, aminoácidos e de ácidos graxos na dieta influenciam, também, o tamanho dos ovos. Além disso, Galinhas mais velhas botam ovos maiores 

Qual a diferença principal entre o ovo de granja (comum) e o ovo caipira? 

Geralmente, ovos caipira são menores, apresentam casca mais dura e com melhor textura, e são mais ricos em antioxidantes carotenoides que são precursores da vitamina A.

 Quais foram as principais mudanças observadas nos últimos anos na produção de ovos? 

Nos últimos anos, a evolução em genética, nutrição e alimentação, instalações, sanidade e biossegurança, possibilitaram que as aves de postura atingissem a produção de aproximadamente 515 ovos por ave, na 110ª semana de idade. Investiu-se muito em instalações automatizadas para fornecimento de rações e água, coleta de ovos e retirada das fezes, e climatizadas nas quais as aves são criadas em ambiente com temperatura, umidade e ventilação adequadas para melhorar o conforto destas. Devido às restrições ao uso de melhoradores de desempenho antibióticos, as empresas avícolas estão usando cada vez mais probióticos, prebióticos, ácido orgânicos e óleos essenciais. Além disso, o uso de enzimas e minerais orgânicos, para melhorar o aproveitamento dos nutrientes, baixa custos de produção e reduz a poluição ambiental.

Alimento reabilitado 

Antes considerado um dos vilões da alimentação e apontado como fator de aumento do colesterol, o ovo vem sendo reabilitado pelos especialistas. Nos últimos anos passou a integrar a lista dos alimentos fitness, e tem sido consumido principalmente por atletas e pessoas que frequentam academias. 

Estudos mais recentes demonstram que apenas 15% do colesterol humano é devido à alimentação. Depois do leite materno, o ovo é o alimento que apresenta maior valor biológico para o homem, sendo rico em aminoácidos essenciais, vitaminas, minerais, antioxidantes e ácidos graxos. 

Ainda de acordo com os nutricionistas, o consumo de ovo pode beneficiar o aumento do colesterol HDL, o colesterol bom, e ajudar na perda de peso, porque provoca sensação de saciedade e ganho de massa muscular.  Bolovo (Foto: Wellington Meneth / Instituto Ovos Brasil) Receita de Bolvo

Ingredientes:

1 kg de carne moída; 2 cebolas picadas; 2 cabeças de alho picadas; 1 xícara de chá de coentro picado; 2 ovos inteiros crus; 2 xícaras de chá de farinha de trigo; 12 ovos bem cozidos; sal a gosto; Farinha de rosca para empanar;

Modo de preparo

Refogue em óleo quente a carne com a cebola, o alho, o coentro e o sal. Desligue o fogo e acrescente 1 ovo cru e a farinha de trigo. Mexa bem até ficar uniforme. Envolva os ovos cozidos na massa, passe no outro ovo ligeiramente batido, e empane na farinha de rosca. A receita rende 12 unidades. Frite em óleo quente, até dourar. Depois basta servir.