Professora de Belarus que vive na Bahia fala de eleições fraudadas e negação da pandemia

Volha Franco explica situação social e política na última ditadura da Europa; assista

Publicado em 15 de agosto de 2020 às 09:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

A turbulência social e política em Belarus (antiga república soviética, anteriormente denominada Bielorrússia) continua bastante conturbada após o resultado das eleições presidenciais do último dia 9, com fortes indícios de fraude, terminando com a vitória do ditador Alexander Lukashenko, que se mantém no poder desde 1994.

A tese de que o resultado a favor de Lukashenko, oficialmente vencedor da disputa com 80% dos votos, é uma completa fraude é defendida por uma professora belarussa que mora na Bahia e continua em contato com parentes no país do Leste europeu.

Segundo Volha Yermalayeva Franco, 31 anos, belarussa que veio viver em Salvador em 2012, seu país vive um momento muito difícil de turbulência política, mas também de união para superar aquela que é considerada a última ditadura da Europa.

“Dessa vez, uma grande parte da população apoiou a candidata da oposição Sviatlana Cichanoŭskaja e se revoltou contra as fraudes. Os protestos contra violações dos procedimentos eleitorais começaram ainda em junho, e escalaram depois do fim da votação. Milhares de pessoas foram presas, muita gente ferida. Possíveis mortes. A internet no país está sendo bloqueada”, ilustra Volha, na apresentação de uma live que fez ao lado do marido baiano, o professor e pesquisador Paterson Franco Costa. Assista.

Negação da pandemia Além das medidas repressivas, Lukashenko também tem se notabilizado pela negação da pandemia do novo coronavírus, o que acabou provocando uma crise de saúde pública no país que pouca gente de fora tem ciência, pelo fato de haver um rígido controle das informações.

O nível de negação do problema é tão grande que, durante uma entrevista ao jornal inglês ‘The Times’, Lukashenko recomendou beber vodka, trabalhar no campo e visitar a sauna para combater o coronavírus.

De acordo com Volha, esse comportamento acabou se refletindo numa crise de saúde pública sem precedentes no país, e que vem sendo enfrentada de forma improvisada e heróica pela população.

“A situação econômica, desde que a pandemia começou, as pessoas viram que o governo oculta, na cara dura, as estatísticas sobre as mortes e pessoas infectadas. É muito difícil exigir uma estatística verdadeira. Por exemplo, você sabe que na sua cidade o hospital está lotado, tem gente morrendo, tem seus parentes morrendo, e o governo diz que em sua cidade não tem nenhum infectado. E aí, em quem você vai acreditar”, ilustra Volha na live publicada essa semana em seu canal no YouTube.

Os protestos no país, que já tiveram, oficialmente, dois mortos, além de dezenas de feridos e pelo menos 6,7 mil detidos, continuam e tiveram a adesão, nesta sexta-feira (15), de centenas de trabalhadores de fábricas de tratores e automóveis de Minsk, capital de Belarus. Eles iniciaram uma greve para denunciar a brutal repressão das manifestações contra a questionada reeleição de Lukashenko.

No vídeo da live em Salvador, Volha comenta a mudança de comportamento em relação à política que os cidadãos do país foram obrigados a viver, em boa parte motivada pelo tratamento à crise da covid-19.

“Quando essas pessoas que estavam fora dessas coisas mais políticas, mais ideológicas, sentiram na pele que o governo não protege eles nem um pouco, e fica mentindo sobre as coisas de vida e de saúde, as pessoas começaram a se solidarizar. (...) Chegou a haver campanhas para comprar máscaras de proteção para médicos, porque o governo não fornecia. Os hospitais também não tinham coisas básicas para se proteger”, destaca a professora, que também tem publicado vídeos em forma de poesia como forma de protesta contra a repressão e autoritarismo em seu país. Assista ao mais recente.