Projeto da Bamin viabiliza Fiol e Porto Sul

Entrevista: Eduardo Ledsham

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 13 de agosto de 2019 às 05:26

- Atualizado há um ano

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Se a implantação da Bamin-Bahia Mineração fosse comparado a uma viagem, estaríamos naquele momento em que, ainda na estrada, já se vislumbra o destino final. A mina da empresa, em Caetité, está pronta. O Porto Sul, em Ilhéus, por onde serão escoadas 20 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, já possui todas as suas licenças. E o primeiro trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que vai ligar os dois pontos, está 80% concluída. O presidente da Bamin, Eduardo Ledsham, já projeta até o primeiro embarque, em agosto de 2023. 

Quem é

Eduardo Ledsham   esteve à frente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), ligado ao Ministério de Minas e Energia, de agosto de 2016 a agosto de 2017. Entre 2012 a 2015 esteve como CEO da B&A Mineração. Foi também Diretor Global de Exploração e Desenvolvimento de Projetos Minerais e Diretor Global de Energia, Fertilizantes, Exploração, Desenvolvimento e Implantação de Projetos na Vale, onde atuou por 26 anos. É formado em Geologia pela  Universidade Federal de Minas Gerais.

Qual é a situação do projeto da Bamin em Caetité?

A Bamin investiu nos últimos nove anos e alcançou um projeto que está pronto para ser  implementado. Nós temos todas as licenças necessárias para a operação, tanto da mina, quanto do Porto Sul. O nosso caminho crítico sempre foi esperar a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), que já está se tornando uma realidade. O governo federal espera colocar em leilão no primeiro semestre de 2020.  Nossa expectativa é realizar o primeiro embarque em agosto de 2023.

A produção comercial da Bamin é suficiente para viabilizar esses dois projetos de infraestrutura?

A capacidade da ferrovia é de 60 milhões de toneladas por ano e a Bamin vai produzir 18 milhões, praticamente um terço, e isso daí já justifica a participação no leilão. E a grande vantagem é que você vai alavancar muitas oportunidades que hoje demandam infraestrutura. Então, essa estrutura logística atende à Bamin no primeiro momento, mas cria um espaço para novos projetos. Tem dois terços da capacidade que vão ficar à disposição de outras oportunidades. O porto tem capacidade para 40 milhões de toneladas e nós vamos usar no máximo 50%. O excedente vai ficar disponível para outros negócios, tanto da mineração, quanto do agronegócio. Se você analisar o projeto de maneira integrada – com a mina, a ferrovia e o porto – só com a operação da Bamin ele já se viabiliza, sim.

Se hoje você tivesse a infraestrutura, já daria para produzir minério? 

A mina já poderia estar operando agora. A gente já retirou uma pequena amostra para testes comerciais, de 1 milhão de toneladas, e escoamos parte dessa produção pela ferrovia entre Minas e a Bahia (FCA), controlada pela VLI. Enviamos amostras para a Europa e China, para fazer testes. O único gargalo é que para escoar 18 milhões de toneladas precisamos da Fiol. 

Quanto é que já foi investido neste projeto e quanto mais pretendem investir? 

Em nove anos, incluindo a aquisição, intenso programa de sondagens e pesquisas, testes, estudos de engenharia, que levaram o projeto a um nível de maturidade e conforto para o investidor, foram mais de R$ 1,8 bilhão já investidos. E para o projeto integrado, estamos falando de cerca de R$ 10 bilhões a serem investidos nos próximos quatro anos.

Qual é o impacto de um projeto como este para a economia baiana, de modo geral, e para Caetité, falando mais especificamente?

Vou te dar um exemplo concreto. Hoje, a maior operação de minério de ferro no Brasil está no Norte, em Carajás (PA). Quando se tomou a decisão de investir em infraestrutura, iniciou-se com uma operação de 5 milhões de toneladas por ano. Hoje está indo para 200 milhões. 

A gente aqui na Bahia começa quatro vezes maior do que eles lá no início. 

Isso, mas a capacidade de alavancar oportunidades é dez vezes maior. É claro que existe um limite de escoamento da ferrovia. Mas quando você vê o número de ocorrências minerais no decorrer da ferrovia, a integração entre o trecho I e o trecho II, que vai buscar toda produção de grãos, que hoje é escoada de caminhão, fica claro que vai se abrir um corredor que vai alavancar e muito não apenas a economia local, mas vai gerar uma integração com a parte central do país, que hoje não existe.

Quando a gente em 60 milhões de toneladas por ano, capacidade prevista para a Fiol, parece uma imensidão. Há o risco desse volume se tornar insuficiente?   Trabalhando em um horizonte de 10 anos, eu acredito que praticamente 100% dessa capacidade estará sendo utilizada. Novas oportunidades aí vão requerer futuras expansões. Mas, pé no chão, essa capacidade de escoamento vai atender tanto à nossa demanda, quanto a produção de grãos e  outras oportunidades minerais. 

Como vai ser a gestão do Porto Sul?   Nós fizemos um trabalho junto com o governo do estado para uma unificação dos terminais. Isso daí traz vantagens para todos os lados. Vamos iniciar uma operação, que terá espaços para futuras expansões. A ideia é atrair um operador portuário e um investidor e o que eu posso dizer é que há uma grande procura por parcerias no projeto, principalmente porque o mercado de ferro teve uma guinada muito grande e existe uma busca do lado dos clientes por minérios de qualidade, que é hoje o diferencial competitivo da Bamin. Nossa ideia é atrair parcerias de investimento e de operadores com expertise na área portuária. 

Quais são as características do minério de vocês?

Nós temos dois tipos de minérios. Temos a hematita, que não precisa de processos de concentração, é o que a gente chama de produção a seco. São 10 milhões de toneladas por ano deste minério. Ele tem acima de 66% de ferro contido. Tem sílica baixa, alumina baixa... O que é que isso impacta? Hoje, o maior mercado consumidor é o chinês e existe uma decisão de governo de reduzir a quantidade de emissões de CO2. A saída das siderúrgicas para atender essa redução nas emissões é utilizar o minério de qualidade, que vai consumir menos carvão. Hoje já é uma demanda do mercado chinês, assim como é na Europa e no Japão. E nós temos um outro tipo de minério, que é o itabirito, que tem um teor mais baixo, de 38%, e exige uma concentração, mas também com contaminantes baixos. A combinação destes dois produtos atende tanto o mercado asiático, quanto do Oriente Médio. 

Em quanto tempo se atinge o  patamar de 18 milhões de toneladas por ano?

Eu acredito que em dois anos iremos atingir 100% da nossa capacidade. 

O rompimento da barragem de Brumadinho criou um certo temor na sociedade em relação à questão das barragens. Como vocês vão tratar o rejeito? 

Brumadinho foi uma tragédia humana e é natural que a população próxima de áreas mineradoras tentem entender melhor esses processos. A nossa operação é a jusante (na parte mais baixa em relação ao fluxo de água e considerada mais segura). Nossos indicadores de risco são muito mais rigorosos que os exigidos internacionalmente. Isso dá conforto e segurança. As pessoas podem imaginar que houve problemas com uma empresa como a Vale, como a BHP (em Mariana) e perguntar, ‘por que na Bamin não vai ter?’. Não vai ter porque nós temos consciência de que somos menores, então temos que ser os melhores. Vamos além para ter a confiança da população. Nós tivemos diversas audiências recentes, explicamos nosso modelo de engenharia, mostramos que após o que aconteceu em Mariana, antes de Brumadinho, duplicamos nosso investimento na barragem. Estamos trabalhando muito acima dos limites exigidos exatamente para trazer esse conforto. E não estamos parados, estamos buscando tecnologias para reduzir o uso de água no rejeito. 

Como vocês trabalham a questão da sustentabilidade, não apenas ambiental, mas social também?  

Este é um dos pilares do nosso projeto. É um dos valores que a Bamin considera. Um exemplo disso é que trabalhamos com a reutilização de quase 90% de toda a água do processo. Vamos trabalhar para maximizar ainda mais isso. 

Vocês estão numa região que tem deficiência  hídrica...

Exatamente, estamos investindo numa adutora de 153  quilômetros. Parte disso vai atender à população. Com parte da água que vai ser reutilizada, vamos manter o manancial que existe ao redor. Do ponto de vista social, temos uma exigência de trabalhar com pelo menos 60% de mão de obra local e queremos trabalhar com muito mais que isso. Já iniciamos um programa de formação, tanto em Caetité quanto em Ilhéus. Essas pessoas vão atender tanto a Bamin, quanto projetos futuros. 

Vocês estão trabalhando em novos projetos na Bahia, além de Caetité?

A empresa controladora da Bamin definiu a criação de um veículo, que é a empresa de mineração Pedra Cinza e começamos pelo estado da Bahia. Ganhamos uma licitação de um projeto de zinco, chumbo e fosfato na região de Irecê. Ainda está em fase de pesquisa, com um compromisso de investimento nesta fase de até R$ 6 milhões. Temos a expectativa de que isso se torne uma operação de zinco, que tem uma demanda no mercado mundial. Estamos avaliando outras oportunidades, não apenas na Bahia, mas no Brasil. Queremos uma diversificação numa linha integrada de negócios ligada à baterias. Então, estamos falando de cobre, níquel, terras raras, lítio... Há uma motivação em buscar algo novo.

Fórum discute o futuro da mineração  Integrantes da cadeia de produção do setor se reúnem na próxima quarta para discutir os investimentos em inovação e os caminhos para uma atuação mais sustentável do setor.  A Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) e a Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti), promovem, com o apoio do CORREIO, o 1º Fórum Internacional de Inovação e Sustentabilidade na Mineração, que tem como patrocinadores a Companhia Vale do Paramirim, Bahia Mineração (Bamin), Sindicato das Indústrias Extrativas de Minerais (Sindimiba) e a Vanádio de Maracás S/A.

Entre as presenças já confirmadas no evento estão Alexandre Vidigal de Oliveira, que é Secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME), Victor Bicca, que é diretor-geral da Agência Nacional de Mineração (ANM), e Rinaldo Mancin, diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). 

O fórum será realizado na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), no bairro do Stiep, com o credenciamento a partir das 08h e as atividades das 09h às 17h30.